Projeto Escrevivendo

Qual a diferença entre os tradicionais diários pessoais e sua versão eletrônica contemporânea, desde blogs às redes sociais?

Sabemos que os blogs surgiram inicialmente como páginas de conteúdo de ordem pessoal, modelos eletrônicos em face do tradicional diário manuscrito. Alguns anos se passaram e os blogs adquiriram um outro status na rede, integrando-se à grande mídia. Com o surgimento das redes sociais como Orkut, Facebook e Twitter, cada vez mais os blogs deixam de ser diários pessoais e se tornam veículos informativos nichados.

Você concorda com a afirmação acima? Cada vez mais a escrita de si mesmo sucumbe ao dinamismo e trivialidade das redes sociais citadas?

PS: Questão elaborada a partir da tese "Tecnologias, Mídias, Criação e Hipertextualidade na transformação da Informação em conhecimento interativo" de autoria da Maria José Vicentini Jorente, postado aqui em nossa rede.

Tags: blogs, diario pessoal, rede social

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Segundo André Lemos : " O fato de ser um hipertexto eletrônio diferencia os ciberdiários dos antigos diários pessoais já que o formato hipertextual (atualização constante, de qualquer lugar e em tempo real, com utilização de links e outros recursos audiovisuais, de alcance planetário e imediato...) e a publicização não faziam parte das experiências com diários de papel. Revela-se, mais uma vez, o efeito da tecnologia sobre os fenômenos espaciais e as relações sociais: a privatização do espaço público e a publicização do espaço privado. No entanto, os diários online e os antigos diários pessoais são autoficção narcisísticas , reconstrução identitária, expessão de individualidades"
A propósito de expressão de individualidades, leiam o que Bruno Cobbi pergunta sobre (em) seu blogue (v. página):

"O que é isso? Um caderno de aventuras ou um laboratório de amarguras? Um divã recordatório ou um diário probatório? Uma coleção de documentos ou uma documentação de acontecimentos? Um cancioneiro prosador ou um noveleiro versador? Uma prosa de proeza? Um poema de pureza? Acaso ou risco mortal? Nota ou rabisco final? Balaio de ensaios? Trova de ler? Memorial de lazer ou... Angústia de escrever"
Karen Kipnis disse:
A propósito de expressão de individualidades, leiam o que Bruno Cobbi pergunta sobre (em) seu blogue

Oi Karen,

Obrigado pela visita e pela citação. Quem quiser saber onde está esse trecho é só olhar com atenção no rodapé do blog.

Sobre a mudança conceitual que o blog tem sofrido como plataforma, temos discutido muito isso nas Oficinas de Blog que eu tenho coordenado lá na Universidade Cruzeiro do Sul.

O curioso é que eu cheguei a falar justamente sobre isso numa das últimas postagens que fiz no blog da oficina. Reproduzo o trecho aqui:

[...] dá pra perceber que, até mesmo para a inovadora concepção do Mr. Willians, tudo isso estava longe demais da conotação que o termo assumiu no decorrer dos anos — de diário virtual virou um tipo de coluna de revista e, hoje em dia é praticamente um tipo exclusivo de mídia digital.

O mais interessante de tudo é observar como uma coisa acabou puxando a outra. É ver como tudo chegou até o que temos hoje em dia: flogs, vlogs, blogosfera, blogobaias... Incrível! Como que algo tão grande como o fenômeno dos blogs tenha nascido de idéias tão embrionárias quanto um registro de navegação numa interface e evoluído para o estouro de mídia que temos hoje. E em tão pouco tempo.

Considerando que o hipertexto povoou a internet por volta de 1995 e que, desde antes disso, as pessoas já assinavam tópicos de BBS para ler sobre o cotidiano alheio, dá pra dizer que a mudança de paradigma aconteceu bem rápido, comparando com plataformas ligadas a outras mídias.

Mas a mudança é inegável.
Não só das redes sociais. As redes são um aspecto da questão, evidenciado pela explosividade da sua característica viral. Todas as mudanças ocorrem segundo C.A. Pierce segundo um padrão fractal: em um primeiro momento como novidade e ruptura pontual com as soluções já conhecidas, com as quais os seres já estão habituados, e nas quais creem como um todo. Quando uma solução já assimilada neste leque não responde às necessidades, uma nova busca encontra o novo, a abdução. Inicia-se um novo ciclo; em um primeiro momento este novo se configura progressivamente em caráter de teste.Porém é ilusório crer que o novo vem do nada; ele se estabelece sobre a experiencia passada. É o caso dos blogs, plantados nos diários pessoais, já assimilados pelo hábito, por isto a característica mais evidente de todo o seu potencial comunicativo. Em um segundo momento, algumas das características prevalentes se firmam em outras possibilidades e uma sedimentação de novos habitos se inicia, bem como uma fase de expansão do usos e hábitos; no caso dos blogs acelerada por ser viral.
Sequencialmente os novos hábitos, sedimentados se tornarão crenças, até que o ciclo se inicie novamente. Isto vale para os blogs e para todo o mais no que diz respeito ao novo, reparem. É uma lei geral bem percebida e elaborada pelo Pierce muito antes dos blogs.
abraços
mjjorente
Vejam o que posta a escrevivente Mariana na abertura de seu blogue:
Título da postagem: Em cena

"O início de um blog é sempre muito prazeroso. A ideia de que um filho nasce, se liberta...
Continuará a existir? A esperança é de que isso aconteça, e progrida e prolifere...

Adiós... "
No capítulo VIII - O Diário e a Narrativa - de seu "O Livro Por Vir ", Maurice Blanchot diz logo no início: " O diário íntimo, que parece tão livre de forma, tão dócil aos movimentos da vida e capaz de todas as liberdades, já que pensamentos, sonhos, ficções, comentários de si mesmo, acontecimentos importantes, insignificantes, tudo lhe convém, na ordem e na desordem que se quiser, é submetido a uma cláusula aparentemente leve, mas perigosa: deve respeitaro calendário. Este é o pacto que ele assina.O calendário é seu demônio, o inspirador, o compositor, o provocador e o vigilante. Escrever um diário íntimo é colocacar-se momentaneamente sob a proteção dos dias comuns, colocar a escrita sob esta proteção, e é também proteger-seda escrita, submetendo-a à regularidade feliz que nos comprometemo-nos a não ameaçar.O que se escreve se enraíza então, quer se queira, quer não, no cotidiano e na perpectiva que o cotidiano delimita. Os pensamentos mais remotos, mais aberrantes, são mantidos no círculo da vida cotidiana e não devem faltar coma verdade. Disso decorre que a sinceridade representa, para o diário,a exigência que ele deve atingir, mas não deve ultrapassar. Ninguém deve ser mais sincero do que o autor de um diário, e a sinceridade é a transparência que lhe permite não lançar sombras sobre a existência confinada de cada dia, à qual ele limita o cuidado da escrita. É preciso ser superficial para não faltar com a sinceridade, grande virtude que exige também a coragem.A profundidade tem suas vantagens.Pelo menos, a profundidade exige a resolução de não manter o juramento que nos liga a nós mesmos e aos outros por meio de alguma verdade." Tradução de Leyla Perrone-Moisés. Ed. Martins Fontes,SP.2005
Pessoal do Escrevivendo,
O congresso de Cibersociedade está, neste final de novembro, em pleno vapor, com questões essenciais sendo amplamente discutidas por pessoas de todo o mundo nos diversos Grupos de Estudo bem como muitos textos linkados à eles. Convidamos os interessados a postar suas contribuições ou apenas a ler e acompanhar os debates e a participar conosco.
Acessem as nossas contribuições entre tantas outras :
no eixo C, 24 "Direito autoral e tecnologias de Informação e Comunicação no contexto da produção, uso e disseminação da informação" que aborda a necessidade de conhecer novas opções para o uso e disseminação e criação dentro de formas legais, ainda que alternativas, de garantir o direito de autoria, bem como as possibilidades de compartilhamento para aqueles que lidam com criação artística como os Escreviventes.

no eixo COmunicação: F, 116 "O papel da Ciência da Informação no desenho antropocêntrico das tecnologias de informação e comunicação" que busca situar no humano as respostas às necessidades de informação e comunicação permeadas pelos aparatos tecnológicos, e pelas ciências contemporâneas que os estudam.

Abraços

Maria José, Elizabeth
Gostei desta definição, especialmente no que se refere a "...reconstrução de identitária, expressão de individualidades". A necessidade de expressão através do texto tem para mim esta função de dizer algo que me toca pessoalmente, quero dar a minha palavra, mostrar o que penso muitas vezes na hora em que acontece algo importante. Mas nem sempre a questão da atualidade se coloca para mim. O blog vai além desta comunicação que acontece nos sites de relacionamento pessoal onde tudo tem de ser rápido, uma comunicação expressa.

Karen Kipnis disse:
Segundo André Lemos : " O fato de ser um hipertexto eletrônio diferencia os ciberdiários dos antigos diários pessoais já que o formato hipertextual (atualização constante, de qualquer lugar e em tempo real, com utilização de links e outros recursos audiovisuais, de alcance planetário e imediato...) e a publicização não faziam parte das experiências com diários de papel. Revela-se, mais uma vez, o efeito da tecnologia sobre os fenômenos espaciais e as relações sociais: a privatização do espaço público e a publicização do espaço privado. No entanto, os diários online e os antigos diários pessoais são autoficção narcisísticas , reconstrução identitária, expessão de individualidades"

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