Todas as postagens no blog marcadas com 'crítica' - Projeto Escrevivendo2024-03-28T13:34:05Zhttps://projetoescrevivendo.ning.com/profiles/blog/feed?tag=cr%C3%ADtica&xn_auth=noA biblioteca da Humanitáriatag:projetoescrevivendo.ning.com,2017-05-24:3985749:BlogPost:369152017-05-24T20:30:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p align="center"><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503300?profile=original" style="text-align: left;" target="_self"><img class="align-full" src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503300?profile=original" width="640"></img></a></p>
<p align="center" style="text-align: left;">Por Alessandro Atanes</p>
<p align="center"></p>
<p align="center"></p>
<p align="center"></p>
<p align="center">A biblioteca da Humanitária</p>
<p align="center"></p>
<p><i>Por volta de 1867 o capitão Burton exerceu no Brasil o cargo de cônsul britânico; em julho de 1942, Pedro…</i></p>
<p align="center"><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503300?profile=original" target="_self" style="text-align: left;"><img src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503300?profile=original" width="640" class="align-full"/></a></p>
<p align="center" style="text-align: left;">Por Alessandro Atanes</p>
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<p align="center">A biblioteca da Humanitária</p>
<p align="center"></p>
<p><i>Por volta de 1867 o capitão Burton exerceu no Brasil o cargo de cônsul britânico; em julho de 1942, Pedro Henríquez Ureña descobriu em uma biblioteca de Santos um manuscrito de Burton que versava sobre o espelho que o oriente atribui a Iskandar Zu al-Karnayn, ou Alexandre Bicorne de Macedônia. Em sua superfície se refletia todo o universo.</i></p>
<p align="right">Jorge Luis Borges, <i>O Aleph</i></p>
<p> </p>
<p></p>
<p>Em seu famoso, o próprio Borges transformado em personagem encontra no sótão da casa de um colega de infortúnio um Aleph, objeto mágico da cultura judaica, um ponto por meio do qual pode-se ver todos os demais pontos do universo. No manuscrito (teria existido ou será mais um sonho de Borges), o cônsul britânico teria ainda listado uma série de outros objetos que com as mesmas propriedades.</p>
<p></p>
<p>Mas a qual biblioteca de Santos refere-se o conto? Com suas estantes antigas de madeira escura e coleções do século XIX, a biblioteca da Sociedade Humanitária dos Empregados no Comércio, localizada em um dos edifícios mais significativos da cidade, é o primeiro lugar que pensamos.</p>
<p></p>
<p>Burton foi realmente cônsul em Santos e Pedro Henríquez Ureña, intelectual da América Central que viveu na Argentina, provavelmente deve ter passado por aqui em uma de suas viagens. E a biblioteca, por qual razão ela não tem nome? Penso em apenas uma: para Borges, as bibliotecas são como um Aleph. Em cada biblioteca, o mundo todo.</p>
<p> </p>
<p></p>
<p> </p>
<p></p>
<p> Leitura complementar: <a href="http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/maaravi/article/viewFile/1633/1720%C2%A0">http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/maaravi/article/viewFile/1633/1720 </a>;</p>
<p></p>
<p> </p>Escrevivendo Caminhos / IV e último encontro - Santos Literalmentetag:projetoescrevivendo.ning.com,2017-05-24:3985749:BlogPost:369122017-05-24T04:30:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p></p>
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<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502863?profile=original" target="_self"><img class="align-full" src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502863?profile=original" width="550"></img></a></p>
<p>Vista noturna do Porto de Santos</p>
<p></p>
<p></p>
<p>NOTURNO DA BAIXADA</p>
<p> </p>
<p>De noite a terra</p>
<p>baixa ainda mais</p>
<p>e entre as dunas</p>
<p>deixa ver</p>
<p>um negro transatlântico</p>
<p>traficando</p>
<p>de porto em por</p>
<p>seu parco contrabando:</p>
<p>vozes, ferramentas</p>
<p>e um óleo pesado e grosso</p>
<p>que empapa o…</p>
<p></p>
<p></p>
<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502863?profile=original" target="_self"><img src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502863?profile=original" width="550" class="align-full"/></a></p>
<p>Vista noturna do Porto de Santos</p>
<p></p>
<p></p>
<p>NOTURNO DA BAIXADA</p>
<p> </p>
<p>De noite a terra</p>
<p>baixa ainda mais</p>
<p>e entre as dunas</p>
<p>deixa ver</p>
<p>um negro transatlântico</p>
<p>traficando</p>
<p>de porto em por</p>
<p>seu parco contrabando:</p>
<p>vozes, ferramentas</p>
<p>e um óleo pesado e grosso</p>
<p>que empapa o solo</p>
<p>entope os canais</p>
<p>o sono.</p>
<p>Triste cidade litorânea!</p>
<p>meus olhos mal te distinguem</p>
<p>do mar da terra da lama.</p>
<p> </p>
<p>Cais, Alberto Martins</p>
<p>Editora 34, 2002</p>
<p></p>
<p></p>Duas leituras para conferências e trocastag:projetoescrevivendo.ning.com,2017-05-18:3985749:BlogPost:371042017-05-18T03:30:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p></p>
<p> I</p>
<p>“Pequeno segredo”</p>
<p></p>
<p> Por Jeanice Ferreira</p>
<p></p>
<p>Sou como uma dessas pedrinhas.</p>
<p>Pedrinhas soltas, entre lajotas</p>
<p>ou aquelas perdidas que ficam na terra entre os vasos.</p>
<p> </p>
<p>Minha mão mexe na terra à procura de pedrinhas</p>
<p>branquinhas, que tinham certo brilho.</p>
<p>Procurava as escuras também</p>
<p>algumas bem mais brilhantes, mas as brancas fascinavam mais.</p>
<p> </p>
<p>Eu fingia, ou alguém fingia junto comigo ou por…</p>
<p></p>
<p> I</p>
<p>“Pequeno segredo”</p>
<p></p>
<p> Por Jeanice Ferreira</p>
<p></p>
<p>Sou como uma dessas pedrinhas.</p>
<p>Pedrinhas soltas, entre lajotas</p>
<p>ou aquelas perdidas que ficam na terra entre os vasos.</p>
<p> </p>
<p>Minha mão mexe na terra à procura de pedrinhas</p>
<p>branquinhas, que tinham certo brilho.</p>
<p>Procurava as escuras também</p>
<p>algumas bem mais brilhantes, mas as brancas fascinavam mais.</p>
<p> </p>
<p>Eu fingia, ou alguém fingia junto comigo ou por mim,</p>
<p>que eram pedras preciosas.</p>
<p>Colocávamos em barbantes e fingíamos colares</p>
<p>que enfeitavam nossos brinquedos.</p>
<p> </p>
<p>Sou como essas pedrinhas sem valor, que acredita virar colar.</p>
<p> </p>
<p>Vivia num quintal entre pedrinhas e brinquedos.</p>
<p>Entre ser e fingir.</p>
<p>Via árvores de natal em cachos de uvas já chupadas</p>
<p> e bichinhos de miolo de pão.</p>
<p> </p>
<p>O bolinho da vó era uma delícia...</p>
<p> </p>
<p>Entre as pedrinhas procurávamos também violetas portuguesas</p>
<p>que se transformavam em lindos minibuquês.</p>
<p>A florzinha vermelha virava colar de primavera</p>
<p>que combinava com a lajota do quintal.</p>
<p> </p>
<p>Um dia a chuva veio e os brinquedos jogados no quintal</p>
<p>perderam o encanto.</p>
<p>As pedrinhas cada vez mais difíceis de achar.</p>
<p> </p>
<p>O anel de pedrinha vermelha a mão da criança perdeu no meio da terra.</p>
<p> </p>
<p>A mão foi crescendo e o tempo deixou pra trás</p>
<p>as pedrinhas, as violetas, os brinquedos e os colares.</p>
<p> </p>
<p>O anel voltou pra mim e hoje descansa ao lado do anel do meu pai.</p>
<p> </p>
<p style="text-align: center;">***</p>
<p style="text-align: center;"></p>
<p></p>
<p> </p>
<p>“Pequeno segredo” - segunda versão</p>
<p> </p>
<p>Sou como uma dessas pedrinhas.</p>
<p>Pedrinhas soltas, entre lajotas</p>
<p>ou aquelas perdidas que ficam na terra entre os vasos.</p>
<p> </p>
<p>Minha mão mexe na terra à procura de pedrinhas</p>
<p>branquinhas, com um brilho de lua.</p>
<p>Procurava também as escuras,</p>
<p>bem mais brilhantes, mas as brancas eram conchas no quintal.</p>
<p> </p>
<p>Eu fingia, ou alguém fingia junto comigo ou por mim,</p>
<p>que eram pedras preciosas.</p>
<p>Colocávamos em barbantes e fingíamos colares</p>
<p>que enfeitavam nossos brinquedos.</p>
<p> </p>
<p>Sou como essas pedrinhas sem valor, que acredita virar colar.</p>
<p> </p>
<p>Vivia num quintal entre pedrinhas e brinquedos.</p>
<p>Entre ser e fingir.</p>
<p>Via árvores de natal em cachos de uvas já chupadas</p>
<p> e bichinhos de miolo de pão.</p>
<p> </p>
<p>O bolinho da vó era uma delícia...</p>
<p> </p>
<p>Entre as pedrinhas procurávamos também violetas portuguesas</p>
<p>que se transformavam em lindos minibuquês.</p>
<p>A florzinha vermelha virava colar de primavera</p>
<p>que combinava com a lajota do quintal.</p>
<p> </p>
<p>Um dia a chuva veio e os brinquedos jogados no quintal</p>
<p>perderam o encanto.</p>
<p>As pedrinhas, cada vez mais difíceis de achar.</p>
<p> </p>
<p>O anel de pedrinha vermelha, a mão da criança perdeu no meio da terra.</p>
<p> </p>
<p>A mão foi crescendo e o tempo deixou pra trás</p>
<p>as pedrinhas, as violetas, os brinquedos e os colares.</p>
<p> </p>
<p>O anel voltou pra mim e hoje descansa ao lado do anel do meu pai.</p>
<p> </p>
<p>Jeanice Ferreira</p>
<p> </p>
<p> </p>
<p></p>
<p> </p>
<p> II</p>
<p></p>
<p>A conferência e o lobisomem</p>
<p></p>
<p>Por Alessandro Atanes</p>
<p></p>
<p>Na noite do dia anterior à conferência sonhei que Roberto Bolaño me aconselhava a falar sobre os caminhos latino-americanos. – Que caminhos, pergunto no sonho, se ainda não nos desenrolamos dos labirintos de Borges e das casas da amarelinha de Cortázar? – Que presunção, respondeu Bolaño com o cigarro na boca, calmo, como nas capas de seus livros. Os caminhos da América Latina que devemos narrar são os caminhos para os infernos, continuou. Como águas-fortes, irreversíveis. Esqueça o que te disseram sobre sereias e lobisomens.</p>
<p align="center">***</p>
<p>Do aeroporto ao quarto de hotel contei 271 avisos tipo “você está sendo filmado” em corredores, guichês, lojas, saguões, caixas-eletrônicos e vitrines, 89 deles antecedidos por “sorria”, dos quais 53 ainda com J, a maior parte, 37, dentro do próprio hotel. Dentro do quarto, era a janela que chamava a atenção, voltada para um pátio interno do qual nada se distinguia. Abro a janela para desvendar algo como se tentasse sintonizar um televisor antigo, apertando os olhos, mas uma neblina insistente atrapalhava a visão. A prometida vista até o rio havia se transformado em uma cegueira branca. No lugar, os sons da rua amplificados pela solidão da audição.</p>
<p>Ao invés de ver para fora, aquela massa branca e espessa convidava à reflexão. Fechei a janela e passei a rever tópico por tópico a conferência, a bibliografia e a iconografia, as referências teóricas. Talvez fosse a indisposição para o mundo que a neblina provoca, talvez a luz branca difusa, mas tudo pareceu um tanto sem nexo, forçado, até os comentários previamente elaborados. O pouco que chegava ao quarto dos sons da rua persistia, permanecia no cômodo como uma ladainha que chamava para fora dali. Decidi então caminhar pela noite profunda do inverno naquela cidade úmida e chuvosa à beira de um rio no hemisfério Norte.</p>
<p>Após ter buscado a velha estação e caminhado um pouco a esmo, optei por voltar cruzando um de seus famosos parques à meia-noite. Em poucos minutos, nenhum som da rua chegava mais a meus ouvidos, como se estivesse a milhares de quilômetros da civilização. Por sua vez, a neblina envolvia o parque, impedindo que as luzes da cidade o também atingissem. Alguns passos à frente percebo um movimento, parecia um cão, um galgo, mas um tanto estranho, o pelo era tão curto que parecia na verdade como se não tivesse pelos, e tinha a mania de tentar ficar sob as patas traseiras, olhando-me fixamente, com as patas dianteiras revoluteando ao alto como um lobisomem. Mas não um lobisomem de Hollywood, grande, feroz e peludo, mas um lobisomem de produção latino-americana, fraco, mirrado, com desespero no rosto.</p>
<p>Mas não tive medo, ele parecia me dizer: – Não tenha medo. Sou uma criatura da América Latina e aqui estou para guiar teus caminhos.</p>
<p>Não lembro como cheguei ao quarto de hotel. E parece que não desgostaram da conferência.</p>
<p></p>
<p></p>
<p style="text-align: center;">***</p>
<p></p>
<p></p>
<p>A conferência e o lobisomem - segunda versão</p>
<p></p>
<p>Alessandro Atanes</p>
<p></p>
<p>Na noite do dia anterior à conferência sonhei que Roberto Bolaño me aconselhava a falar sobre os caminhos latino-americanos. – Que caminhos, pergunto no sonho, se ainda não nos desenrolamos dos labirintos de Borges e das casas da amarelinha de Cortázar? – Que presunção, respondeu Bolaño com o cigarro na boca, calmo, como nas capas de seus livros. Os caminhos da América Latina que devemos narrar são os caminhos para os infernos, continuou. Como águas-fortes, irreversíveis. Esqueça o que te disseram sobre sereias e lobisomens.</p>
<p align="center">,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,</p>
<p></p>
<p>Contei do aeroporto ao quarto de hotel 271 avisos tipo “você está sendo filmado” em corredores, guichês, lojas, saguões, caixas-eletrônicos e vitrines; 89 deles antecedidos por “sorria”, dos quais 53 com J ao lado e 37 deles no próprio hotel. Já no quarto, voltada para um pátio interno em que nada se distinguia, era a janela que chamava a atenção. Abri-a para desvendar algo e parece que fiquei como se esperasse um televisor antigo sintonizar. Apertava os olhos, mas uma neblina insistente atrapalhava a visão. A prometida vista até o rio havia se transformado em uma cegueira branca. No lugar, os sons da rua amplificados pela breve hegemonia da audição.</p>
<p></p>
<p>Ao invés de ver, olhar para fora, aquela massa branca e espessa convidava a refletir. Passei a rever tópico por tópico a conferência, a bibliografia e a iconografia, as referências teóricas. Talvez fosse a luz branca que bruxuleava já difusa pelo quarto, mas tudo pareceu um tanto sem nexo, forçado, principalmente as piadas previamente elaboradas. O pouco que chegava ao quarto dos sons da rua espalhava-se pelo cômodo como uma ladainha fina de vento e chuva que chamava para fora dali. Abandonei as anotações e decidi caminhar pela noite profunda daquela cidade úmida e chuvosa à beira de um rio no inverno do hemisfério Norte.</p>
<p></p>
<p>Após ter buscado a velha estação de trens e caminhado um pouco a esmo, optei por voltar cruzando um de seus famosos parques à meia-noite. Em poucos minutos, nenhum som a mais da rua, como se houvesse apenas árvores, plantas e uma trilha. Por sua vez, a neblina envolvia o parque, impedindo que as luzes da cidade também o atingissem. Mais alguns passos e noto um movimento, parecia um cão, um galgo, mas um tanto estranho, o pelo era tão curto que era como se não tivesse pelos, e buscava ficar sobre as patas traseiras. Olhava-me fixamente e o focinho e as patas dianteiras revoluteavam ao alto, o que fez me lembrar de um lobisomem, não um lobisomem de Hollywood, grande, feroz e peludo, mas um lobisomem de produção latino-americana, fraco, mirrado, com desespero no rosto.</p>
<p></p>
<p>Mas não tive medo, parecia que me dizia: – Não tenha medo. Sou uma criatura da América Latina e estou aqui para guiar teus caminhos.</p>
<p></p>
<p>Não lembro como voltei ao quarto do hotel. E parece que não desgostaram da conferência.</p>
<p align="right">19/5/2017</p>
<p></p>III Encontro Escrevivendo Caminhos.....Da ópera-coral Café, de Mario de Andrade ( anos 40) & outros...tag:projetoescrevivendo.ning.com,2017-05-18:3985749:BlogPost:369062017-05-18T03:00:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p></p>
<p align="right" style="text-align: left;"></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><span style="font-family: Verdana; font-size: small;">Alguns textos e sites a serem utilizados durante o III encontro da oficina Escrevivendo Caminhos</span></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">SESC Santos, 18 de maio de 2017</font></p>
<p align="right"></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">TEXTO: O CAFÉ…</font></p>
<p></p>
<p align="right" style="text-align: left;"></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><span style="font-family: Verdana; font-size: small;">Alguns textos e sites a serem utilizados durante o III encontro da oficina Escrevivendo Caminhos</span></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">SESC Santos, 18 de maio de 2017</font></p>
<p align="right"></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">TEXTO: O CAFÉ</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">Samba</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">Nesta xic’ra tão pequena</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">Cabe um poema</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">Que é sangue e suor de uma</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">terra morena Enigmática bebida</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">Cor de noite Com cheiro de sol e gosto de</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">Vida!</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">Leva-a aos lábios lentamente</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">Prova e sente</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">Que é beijo de amor na boca</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">Da gente</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">Porque num simples cafezinho</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">É bem capaz... é bem capaz</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">De caber o Brasil inteirinho!</font></p>
<p align="right" style="text-align: left;"></p>
<p align="right" style="text-align: left;"></p>
<p align="right" style="text-align: left;"><font face="Verdana" size="2">Letra: Guilherme de Almeida Música: Ciloca Madeira</font></p>
<p align="right"></p>
<p align="right"></p>
<p align="right"></p>
<p align="right"></p>
<p align="right"><span style="font-family: Verdana; font-size: small; text-align: left;">"Nem todo o trigo do universo feito pão </span></p>
<p align="right" style="text-align: right;"><font face="Verdana" size="2">Acalmava esta fome antiga e multiplicada <br/> <i>Fome de fome"</i></font></p>
<p align="right" style="text-align: right;"><font face="Verdana" size="2">Mário de Andrade, <i>Café</i></font></p>
<p></p>
<p><span style="color: #993300;" class="font-size-4">Ópera <i>Café</i> resgata o drama dos estivadores</span></p>
<p></p>
<p><a href="http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0394.htm">http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0394.htm</a></p>
<p></p>
<p></p>
<p><b><font face="Verdana, Arial, Helvetica-Normal, sans-serif" size="4">Mário de Andrade no Café</font></b></p>
<p> </p>
<p> </p>
<p><b><font face="verdana, arial, helvetica-normal, sans-serif" size="2">Flávia Camargo Toni; Marcos Antonio de Moraes</font></b></p>
<p> </p>
<p> </p>
<p align="right"><font face="Verdana" size="2">"Nem todo o trigo do universo feito pão <br/> Acalmava esta fome antiga e multiplicada <br/> <i>Fome de fome"</i></font></p>
<p align="right"><font face="Verdana" size="2">Mário de Andrade, <i>Café</i></font></p>
<p> </p>
<p><font face="Verdana" size="2">MÁRIO DE ANDRADE moderno e modernista, ao longo de toda a sua obra de artista, crítico e historiador preocupou-se com seu papel na humanidade e sua função na História. Essa preocupação marca fortemente <i>Café</i>, uma "tragédia secular" em forma de ópera, no momento em que, já superado o modernismo de programa, repensa o papel social da arte.</font></p>
<p><font face="Verdana" size="2">Passada a euforia do primeiro tempo modernista, os anos 30 procuram redefinir a questão da modernidade na literatura e nas artes. Oswald de Andrade, em 1933, ao publicar <i>Serafim Ponte Grande</i>, pondera: "A valorização do café foi uma operação imperialista. A poesia pau-brasil também. Isso tinha que ruir com as cornetas da crise. Como ruiu quase toda a literatura 'de Vanguarda', provinciana e suspeita, quando não extremamente esgotada e reacionária. Ficou da minha este livro". É importante, pois, constatar que o mesmo café, "mecenas" e patrocinador da geração "sarampão antropofágico", traz com o próprio declínio e crise o fim do primeiro modernismo em 1929, após a guerra da bolsa de Nova York e o conseqüente comprometimento de toda a estrutura da "semicolônia". Data de 1933 o primeiro esboço da Ópera <i>Café</i> e a poesia de <i>A costela do Grão-Cão</i>, quando cresce a voz do poeta profeta, demolindo ilusões e clamando por um tempo novo.</font></p>
<p><font face="Verdana" size="2">O texto de <i>Café</i> passará por várias redações, sendo a última de dezembro de 1942. Em 1939, vivendo no Rio de Janeiro, Mário acha o parceiro musical no amigo e compositor Francisco Mignone. O projeto, todavia, não se completará musicalmente. Dividido em "Concepção melodramática" e "Tragédia secular" (o poema), <i>Café</i>, dedicado a Liddy Chiafarelli, mulher de Mignone, aparecerá em <i>Poesias completas</i> em 1955, 10 anos depois da morte de Mário de Andrade. Tendo referências imediatas a fatos históricos, o texto/poema correria perigo de se tornar panfletário, se o autor não tivesse trabalhado cuidadosamente o sentido simbólico da crise do café. Constata Victor Knoll (<i>Paciente arlequinada</i>) que um juízo de valor muito forte acaba por sublimar a obra: a crença utópica em um "Dia Novo", melhor, comunitário e humano.</font></p>
<p><font face="Verdana" size="2">Em novembro de 1943, decorridos 11 meses da conclusão de <i>Café</i>, Mário, em dois artigos de sua coluna <i>Mundo Musical</i> — "Do teatro cantado" e "Psicologia da criação" — na <i>Folha da Manhã</i>, conta a gênese do libreto. No primeiro, relata a conversão daquele que, na imprensa, tanto se opusera à ópera e, no segundo, destaca a "idéia criadora" do texto de <i>Café.</i></font></p>
<p><font face="Verdana" size="2">A conversão se dera em 1933, quando a agenda musical da cidade de São Paulo estava lotada de apresentações de óperas montadas por companhias líricas italianas e brasileiras. Mário, como crítico musical, se aborrecia com o número de encenações a que devia comparecer, devendo mesmo suportar a má qualidade de algumas. Naquele momento começara a pensar mais detidamente sobre a ópera: "(...) aos poucos os problemas do teatro cantado se impunham a mim, me empolgavam, eu já não ria mais, eu não desprezava mais ninguém, e ao mesmo tempo que, embora ainda desconfiado, eu me convertia à ópera como valor estético, me perseguia como prodigiosamente grava a importância social dela." Cumpria pois, revitalizar o gênero em função da escolha de assuntos contemporâneos "que tivessem para nós o mesmo interesse e a mesma possibilidade de coletivização e ensinamento. O café! A imagem pulou. Não seria possível acaso tentar uma ópera de interesse coletivo, tendo como base de assunto o café?..."</font></p>
<p><font face="Verdana" size="2">"Seria sim!" E ele, Mário de Andrade, o poeta que, em 1922, já era grande conhecedor da múscia e havia publicado, em <i>Paulicéia desvairada</i>, "As enfibraturas do Ipiranga", um "oratório profano", em 1933 tomava para si o encargo de uma ópera de interesse coletivo centrada na crise do café. E moderno, arrojado, acreditava em uma originalidade maior, ao escrever exclusivamente para coros, eliminando os virtuoses, ou seja, desenvolvendo "personagens corais".</font></p>
<p><font face="Verdana" size="2">Encontrava uma forma de banir o virtuosismo de palco, preso a heróis e heroínas representados por primasdonas e tenores malabaristas, que detestava. Pretendia levar ao extremo aquilo que o <i>Guilherme Tell</i> de Rossini, que Verdi nas <i>Vésperas sicilianas</i>, na <i>Aída</i> e no <i>Nabuco</i> ou <i>Boris Gudonov</i> de Mussorgski haviam inaugurado: a transferência da narrativa para grupos corais, a "ópera de interesse coletivo", cantada enquanto representação do povo. E para evitar a monotonia coral, buscava solução no jogo de timbres e volumes vocais alternando vozes mistas, masculinas e femininas, combinadas em madrigais e <i>tutti</i>.</font></p>
<p><font face="Verdana" size="2">Quanto ao assunto — Mário recapitula a eclosão do projeto — o café, tão familiar aos brasileiros, não seria explorado a partir de sua experiência de jornalista que presenciara a crise de 1929 e a revolução de 30. Queria, isto sim, retomar a idéia do "princípio místico de morte e ressurreição" de deus da natureza, do sustento tribal, "mito na raiz de tantas culturas, desde a Grécia Antiga". E como esse princípio persiste "na base das próprias formas econômicas e institucionais das sociedades", a economia paulista oscilava em função da "morte e ressurreição ânua do café". A partir do momento em que o produto baixasse de preço no mercado, a insatisfação pública geraria a revolta exigindo a mudança de regime.</font></p>
<p><font face="Verdana" size="2">Surgira assim o enredo "com muita lógica conclusiva": três atos, culminando com o triunfo da revolução. <i>Café</i>, segundo o autor, vai expressar os "sofrimentos verdadeiros" e a quebra do jogo, quando as massas oprimidas renascerem no "Dia Novo", livres de fome, em um mundo onde as desigualdades sociais inexistem, porque, havendo união não haverá fracasso; mundo onde o individual é substituído pelo social. No primeiro ato, tanto no porto, como no campo, as massas corais, estivadores e colonos externam sua impotência perante "os donos da vida", a ópera denunciando as condições de penúria e opressão daqueles que dependem do café; trazendo já o ânimo de resposta e resistência das mulheres. No "Coral das famintas", as mulheres dos estivadores incitam à luta; na voz das colonas vem: "O homem não é propriedade do homem", verso marcado no texto como citação.</font></p>
<p><font face="Verdana" size="2">No segundo ato, formado pelas cenas da Câmara dos deputados e do êxodo, a intenção é confrontar abastados e desvalidos. Os primeiros sempre usando o palavreado vazio e os segundos, a linguagem do medo e da necessidade. Nos apelidos, deputado do Som-Só, deputadinho da Ferrugem, deputado Cinza, e nos papéis que lhes cabem, o sarcasmo se afirma. A indiferença dos deputados é compartilhada pela dos jornalistas; na Câmara, nada se discute de útil. Os protestos da galeria criando tumulto precedem a entrada da Mãe, o momento mais trágico do libreto. O deputado Cinza, populista e manipulador, tenta fazer com que a Mãe derrame esperança sobre os desesperados, no discurso por ele escrito, que ela não logra decorar. A Mãe se lança então na "Endeixa" em que delira e expande o discurso da angústia e da dor. Encarna todas as mães do mundo; torna-se uma espécie de arquétipo do sofrimento milenar, quando se apropria do canto da Verônica: "Falai si há dor que se compare à minha!..."</font></p>
<p><font face="Verdana" size="2">O terceiro ato, "Dia Novo", apresenta, em cena única, a revolução, a vitória sobre o "presidente Papai Grande" e os "gigantes opressores". Na apoteose final, em um grande quadro móvel, o "Hino à fonte da vida" une:</font></p>
<blockquote><p><font face="Verdana" size="2"><i>"força!... amor!... trabalho!... paz!..."</i></font></p>
</blockquote>
<p><font face="Verdana" size="2">Como se vê, a tensão dramática que cresce no decorrer dos três atos só é rompida em uma única e eficaz cena cômica. Mário dá sua explicação, em 1943 ("Do teatro cantado"), quando focaliza a diferença entre o imaginar e o escrever, pois, no passar dos anos, muita coisa mudara em sua ópera coral. Em um determinado momento, diante do excesso de gravidade na predominância dos coros masculinos, entendera que deveria desfatigar o público dando-lhe a pândega de "Câmara de ballet", uma sátira às câmaras de deputados. Associara-se então às soluções do Ballet Joos, da moderna dança sueca, cujo espetáculo, <i>Table Verte</i>, o havia deslumbrado em 1940.</font></p>
<p><font face="Verdana" size="2">Entusiasma saber que <i>Café</i> chega finalmente ao palco e recebe a música de Koellreutter. Cabe lembrar que, nos anos 60, a montagem teatral por estudantes universitários foi proibida pela censura; ameaçava o "regime, a ordem pública e as autoridades". Esse tempo sem sol tudo fez par sufocar a crença em um "Novo Dia", reiterada nos festivais de música, como estuda Walnice Nogueira Galvão em "MPB: uma análise ideológica".</font></p>
<p><font face="Verdana" size="2">Conhecida na leitura, a "concepção melodramática" de <i>Café</i> nos surpreende pela visão de cenografia, de marcação de cena, e nos dá a certeza de que o autor ouvia/construía a música que não viu concretizada na partitura. E o poema nos emociona; nos empolga. Quando, no jornal e na TV, testemunhamos o perambular de todos os sem-terra e sem-teto, no Brasil e no mundo, escutamos a Mãe que repete:</font></p>
<blockquote><p><font face="Verdana" size="2"><i>"Falai!...</i></font></p>
<p><font face="Verdana" size="2"><i>Falai si há dor que se compare à minha!..."</i></font></p>
</blockquote>
<p> </p>
<p> </p>
<p><font face="Verdana" size="2"><i>Flávia Camargo Toni</i> é pesquisadora na área de Música. <br/> <i>Marcos Antonio de Moraes</i> é doutorando em Literatura Brasileira pela FFLCH-USP.</font></p>
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<p><font face="Verdana" size="2">fonte: <a href="http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141999000300015%C2%A0">http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40141999000300015 </a>;</font></p>
<p><font face="Verdana" size="2">......................................................................................................................</font></p>
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<p align="right" style="text-align: left;"><a href="http://www2.uol.com.br/augustodecampos/semsaida.htm">http://www2.uol.com.br/augustodecampos/semsaida.htm</a> </p>
<p align="right" style="text-align: left;"><a href="http://www2.uol.com.br/augustodecampos/semsaida.htm%C2%A0"><font face="Verdana" size="2">http://www2.uol.com.br/augustodecampos/semsaida.htm </font></a></p>
<p></p>
<p><a href="http://antigo.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2006/CDROM/COM/06_Com_Perf/sessao01/06COM_Perf_0104-149.pdf">http://antigo.anppom.com.br/anais/anaiscongresso_anppom_2006/CDROM/COM/06_Com_Perf/sessao01/06COM_Perf_0104-149.pdf</a></p>
<p></p>
<p><a href="http://www.scielo.br/pdf/rieb/n62/2316-901X-rieb-62-00209.pdf%C2%A0">http://www.scielo.br/pdf/rieb/n62/2316-901X-rieb-62-00209.pdf </a>;</p>
<p></p>
<p><span style="color: #993300;" class="font-size-4">Cafezinho </span></p>
<p><a href="http://www.casaguilhermedealmeida.org.br/arquivos/1477507577-1421775357-MATERIAL%20EDUCATIVO%20_Oficina%20Cafezinho.pdf">http://www.casaguilhermedealmeida.org.br/arquivos/1477507577-1421775357-MATERIAL%20EDUCATIVO%20_Oficina%20Cafezinho.pdf</a></p>
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<p>Augusto de Campos</p>
<p><a href="http://www2.uol.com.br/augustodecampos/poemas.htm">http://www2.uol.com.br/augustodecampos/poemas.htm</a></p>
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<p>A propósito de sonho e imaginação</p>
<p><a href="https://pt.wikipedia.org/wiki/Perelandra%C2%A0">https://pt.wikipedia.org/wiki/Perelandra </a>;</p>
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<p></p>Jornalismo Literário na veia - ABJLtag:projetoescrevivendo.ning.com,2017-05-11:3985749:BlogPost:369042017-05-11T16:36:44.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
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<a href="https://cdn.fbsbx.com/v/t59.2708-21/18221449_1425348397525275_1472484998622740480_n.pdf/FNI-T1.pdf?oh=a749366708a7fc32a14127c11b325ba4&oe=59167CE2&dl=1">https://cdn.fbsbx.com/v/t59.2708-21/18221449_1425348397525275_1472484998622740480_n.pdf/FNI-T1.pdf?oh=a749366708a7fc32a14127c11b325ba4&oe=59167CE2&dl=1</a>II encontro Escrevivendo Caminhostag:projetoescrevivendo.ning.com,2017-05-11:3985749:BlogPost:368102017-05-11T03:00:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
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<p align="center"><b>O lugar da literatura na educação<a title=""><b>[1]</b></a></b></p>
<p align="center">Por Yolanda Reyes</p>
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<p>I. Literatura para além das definições</p>
<p></p>
<p>Costuma-se dizer que a literatura é a “arte que emprega como meio de comunicação a palavra falada ou escrita”. Diz- se também que ela é o conjunto de obras literárias de uma nação, de uma época ou de um gênero”. Começo descrevendo essas típicas definições de dicionários escolares para me…</p>
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<p align="center"><b>O lugar da literatura na educação<a title=""><b>[1]</b></a></b></p>
<p align="center">Por Yolanda Reyes</p>
<p></p>
<p>I. Literatura para além das definições</p>
<p></p>
<p>Costuma-se dizer que a literatura é a “arte que emprega como meio de comunicação a palavra falada ou escrita”. Diz- se também que ela é o conjunto de obras literárias de uma nação, de uma época ou de um gênero”. Começo descrevendo essas típicas definições de dicionários escolares para me referir a uma crença, ainda vigente em nossas práticas e currículos acadêmicos, segundo a qual o que se <i>deve saber</i> de literatura é muito daquilo que sobra e pouco daquilo que basta: ou seja: definições e rótulos. “ O dever antes da vida”<a title="">[2]</a>, como disse um de nossos homens ilustres. Primeiro, a letra morta; depois, quando tivermos aprendido o bastante, e se for o caso, virá o prazer... O problema é que <i>depois</i> pode ser demasiado tarde. A literatura, assim ensinada, não costuma dar segundas oportunidades.</p>
<p>Em seu <i>Curso de literatura europeia,</i> Vladmir Nobokov<a title="">[3]</a> disse que “tudo o que vale a pena é, de certo modo, subjetivo”. E esse é o problema para o qual gostaria de chamar a atenção daquele que leem estas páginas. Em nosso contato escolar com a literatura, todos nós tivemos a oportunidade de aprender um sem número de dados, datas, listas de obras e autores. E, infelizmente, com essa aprendizagem, incorporamos também uma lição não tão explicita quanto as definições do dicionário, mas provavelmente tão contundente quanto: a linguagem é uma espécie de retórica oficial; uma retórica alheia à vida e às palavras que nos constituem – as palavras subjetivas e emaranhadas com que expressamos nossa experiencia vital.</p>
<p>As manifestações dessa lição começam a ser vistas com clareza desde os primeiros anos da educação primária e costumam se consolidar ao longo da educação secundária. Os diversos tipos de escritos produzidos pelos alunos são testemunhas do divórcio entre literatura e vida: de um lado, os diários íntimos, as notas e os bilhetes com mensagens de amizade ou amor trocadas pelos jovens, as letras das canções da moda, os papeizinhos que circulam clandestinamente durante as aulas e aos quais agora se unem outros, que vão à velocidade do <i>Messenger.</i> De outro, indiferente, segue fluindo o jargão oficial: o resumo do livro, a redação insossa sobre as férias, as análises literárias e até os contos escritos a pedido do professor, que raras vezes conseguem se afastar do estereótipo e ir em busca de uma voz interior para expressar emoções verdadeiras. A máscara da linguagem escolar serve quase sempre para nos encobrirmos e quase nunca para nos revelarmos, a nós mesmos ou aos outros.</p>
<p>É como se existissem duas linguagens paralelas ou, pior ainda, dois mundos paralelos. (De novo, voltamos às definições escolares: “Linhas paralelas são aquelas que, por mais que se prolonguem, nunca chegam a se encontrar”.)</p>
<p>Talvez por isso as férias sejam uma coisa e a redação sobre elas, outra, muito diferente. Provavelmente por isso também um aluno pode passar anos inteiros escrevendo dia após dia para o mesmo professor sem que nenhum dos dois consiga, por meio da escrita, estabelecer uma conexão pessoal. Assim, todos, alunos e professores vão se resignando a trocar palavras vazias, definições de dicionário, com significados “objetivos”, assépticos, livres de equívocos e suficientemente gerais para evitarmos o trabalho de algo pessoal.</p>
<p>Se existisse um dicionário no qual nos dissessem o que <i>não</i> é literatura, seguramente descobriríamos que literatura não é o argumento, nem os personagens, tampouco os significados que lemos. Além disso, tudo parece indicar que as definições pouco ajudam quando se quer aprofundar de verdade um tema, sem a urgência de fazer uma prova escolar. O poeta Rainer Maria Rilke<a title="">[4]</a>, que passou a vida lendo e escrevendo, nos diz que:</p>
<p>[...]as coisas não são todas tão compreensíveis nem tão fáceis de se expressar quanto geralmente nos fizeram crer. A maioria dos acontecimentos são inexprimíveis; ocorrem no interior de um recinto no qual jamais palavra alguma adentrou. E mais enexprimíveis do que qualquer outra coisa são obras de arte.</p>
<p>Poderíamos continuar tecendo essa conversa com escritores de épocas e lugares distintos até nos depararmos com uma dolorosa certeza; não é fácil escrever, nem expressar- se, tampouco traduzir em palavras um mundo interior para comunicar a outros seres humanos, que têm, por sua vez, mundos interiores próprios, uma mínima parte do que queremos. E, do mesmo modo, pode não ser fácil para o leitor penetrar nesse mundo de palavras, nessas marcas deixadas por outro em um papel depois de um processo de criação árduo e complexo. De onde surgiu, então, esse consenso escolar que obriga todos a sublinharem a mesma coisa em um mesmo parágrafo de um conto, a entenderem rapidamente as mesmas ideias principais e a enxergarem todas as obras a partir de um mesmo ponto de vista? De onde surgiu este desprezo que a educação nutre pelo subjetivo, o inefável, pelo que não pode ser definido nas linhas de um dicionário?</p>
<p>Atrevo-me a pensar que há um pouco de arrogância nesse equívoco. Porque, em nossa concepção de ensino, pede-se ao professor que seja capaz de controlar, planificar e avaliar o processo de aprendizagem durante todas as etapas, do princípio ao fim, sem que nada fuja ao controle. Essa concepção, herdada da tecnologia educativa, supõe que, quanto mais a curto prazo forem os objetivos que se proponha um professor e quanto mais se materializem em indicadores concretos, mais fáceis serão de ver, comprovar e avaliar em termos quantitativos tais objetivos. De alguma maneira, a “eficácia” do professor ainda é estimada em função do <i>quanto</i> de aprendizagem conseguem demonstrar que seus alunos <i>obtiveram</i>. O que não é visível, mensurável e observável não dá pontos. O que sai da resposta esperada, não vale. O que se passa fora da classe não conta. Os processos que se concluem depois de finalizado o ano letivo ou as revelações que vão surgindo paulatinamente a um ser humano, ao longo de uma vida, graças, talvez, à influência de um bom professor ou ao encontro com um livro definitivo não se qualificam.</p>
<p>Se já esboçamos que a literatura trabalha com toda a experiência vital de um ser humano – e não só com o pedacinho que se pode medir -, podemos imaginar quão pouco essa linguagem representa para um sistema pedagógico baseado em perguntas fechadas do tipo “ múltipla escolha”. As provas do PISA, que o mundo todo conhece e que fazem tremer os professores, são um exemplo típico dessa concepção de literatura retomada do dicionário. O pior dos leitores poderia escolher o item “certo”, ao passo que Rilke, com todas as suas dúvidas e incertezas, não chegaria a um “aceitável”.</p>
<p> </p>
<p> </p>
<p>II. Casas de palavras</p>
<p> </p>
<p>Pensemos, por um instante, na essência da linguagem literária e trataremos de situa-la no contexto mais amplo da comunicação humana. Cada um de nós possui uma língua determinada para expressar seu mundo interior e para se relacionar com os outros. Em nosso caso, pertencemos à comunidade linguística que fala castelhano, que por sua vez tem um código próprio, um sistema de signos que permite a todos os falantes nomear, com certos rótulos, algumas imagens mentais ou alguns significados determinados. Isso garante que possamos compartilhar, de certa forma, um código comum. De fato, se escrevo <i>casa</i>, posso ficar segura de que todos vocês, que compartilham o uso da mesma língua, evoquem em sua mente o conceito de casa. Todavia, nenhuma das imagens mentais que vocês formarem corresponderá ao significado <i>standard</i> do dicionário. Haverá mansões, apartamentos ou casas de campo; algumas serão grandes e outra, pequenas. Muitos irão mais longe e associarão a palavra a um cheiro particular, a certa sensação de segurança ou de calor do lar, a uma saudade ou a seus próprios segredos. E isso ocorre porque todos nós vivemos em casas distintas.</p>
<p>Vamos nos valer dessa imagem para ilustrar nossa relação com a língua; casa um constrói sua própria casa de palavras. Temos um código comum, digamos que são os materiais e as especificações básicas. Mas cada ser humano vai se apropriando do código por meio de suas próprias experiências vitais e costuma produzir seus significados para além de um dicionário, mediante uma trama complexa de relações e de histórias. Assim, sob os rótulos, a linguagem que habitamos oculta zonas privadas e pessoais. Junto a essas zonas iluminadas existem grandes zonas de penumbra.</p>
<p>Que significado tem tudo isso para o ensino da literatura? Nada mais nada menos do que o reconhecimento dessas zonas. Procuremos entender: ler um manual de instruções para instalar um forno não é o mesmo que ler um poema, e se a escola não se dá conta dessa sutileza continuará ensinando a ler todos os textos a partir de uma mesma postura.</p>
<p>É certo que, para ligar um forno, devem ser seguidas, de maneira literal e obediente, alguns passos, pois, do contrário, pode haver um curto-circuito. Entretanto, é igualmente certo dizer que, no caso do poema, são a liberdade do leitor e, de certa forma, sua desobediência ao sentido literal das palavras que lhe permitem “ compreendê-lo” em toda a sua dimensão. Embora em ambas as leituras falemos em <i>compreender</i>, o tipo de compreensão que se estabelece é muito distinto. Para entender o poema, é preciso conectá-lo a sensações, emoções, ritmos interiores e zonas secretas> se não nos permitirmos explorar essas zonas de penumbra e ambiguidade da linguagem, esse poema não nos dirá nada. Assim, responderemos qual é seu tema ou quando nasceu seu autor, e identificaremos se tem rimas assonantes nos versos pares.</p>
<p>Apesar de essas duas leituras compartilharem muitas palavras e signos, á algo nelas que nos faz, como leitores, entrar em dinâmicas diferentes. E a escola, que fique claro, deve ensinar a ler de todas as formas possíveis e com diversos propósitos, pois precisamos seguir instruções cada vez mais complexas, não só para instalar um forno, mas para que uma espaçonave possa decolar e explorar lugares remotos, por exemplo. Porém, também necessitamos, e cada vez com maior urgência, explorar o fundo de nós mesmos e, a partir dessa região, nos conectarmos com os outros, iguais e diferentes, que compartilham conosco as raízes humanas. Tal como, algumas vezes, temos de ser obedientes ou literais, e outras necessitamos analisar com exatidão textos científicos e acadêmicos, da mesma forma precisamos de ferramentas para fazer leituras livres e transgressoras.</p>
<p>Ao indagar a fundo essa “casa de palavras”, a literatura deve ser lida – vale dizer: sentida – a partir da própria vida. Quem escreve deve estrear as palavras e reinventá-las a cada vez, para lhes imprimir sua marca pessoal. E quem lê recria esse processo de invenção para decifrar e decifra-se na linguagem do outro. É esse o processo complexo que implica, para dizer o mínimo, dois sujeitos, com toda a sua experiencia, com toda sua história, com suas leituras prévias, com suas sensibilidades, com sua imaginação, com seu poder de situar-se para além de si mesmos. Trata-se de uma experiencia de leitura complexa e, deve-se dizer, difícil. Mas passível de ser ensinada. E, para ensiná-la, convém partir de sua essência.</p>
<p>Caberia, então, promover uma pedagogia da literatura que desse vasão à imaginação dos alunos e ao livre exercício de sua sensibilidade, para impulsioná-los a serem recriadores dos textos. E, aqui, falo de recriar no sentido de reconstruir o processo criador. Isso implica reconhecer um caminho seguindo as pegadas do outro. Talvez por isso continue sendo mais fácil ensinar a repetir, a memorizar e a copiar da enciclopédia do que promover o surgimento da voz própria de cada aluno.</p>
<p> </p>
<p>III. o que a literatura pode ensinar</p>
<p> </p>
<p>Nossas crianças e jovens estão imersos em uma cultura de pressa e tumulto que os iguala a todos e que os impede de se refugiar, em algum momento do dia ou, inclusive, de sua vida, no profundo de si mesmos. Daí que a experiencia do texto literário e o encontro com esses livros reveladores que não se leem com os olhos ou com a razão, mas com o coração e o desejo, sejam hoje mais necessários do que nunca como alternativas para que essas casas interiores sejam construídas. Em meio à avalanche de mensagens e estímulos externos, a experiencia literária brinda o leitor com as coordenadas para que ele possa nomear-se e ler-se nesses mundos simbólicos que outros seres humanos construíram. E embora ler literatura não transforme o mundo, pode fazer ao menos habitável, pois o fato de nos vermos em perspectiva e de olharmos para dentro contribui para que se abram novas portas para a sensibilidade e para o entendimento de nós mesmos e dos outros.</p>
<p>Precisamos de histórias, de poemas e de toda a literatura possível na escola, não para sublinhar ideias principais, mas para favorecer uma educação sentimental. Não para identificar a moral da história, ensinamentos e valores, mas para empreendermos essa antiga tarefa do “conhecer-te a ti mesmo” e “conheça os demais”. O objetivo fundamental de um professor é o de acompanhar seus alunos nessa tarefa, criando, ao mesmo tempo, um clima de introspecção e condições de diálogo, para que, em torno de cada texto, possam ser tecidas as vozes, as experiencias e as particularidades e cada criança. De cada jovem de carne e osso, com seu nome e sua história.</p>
<p>Um professor de leitura é, simplesmente, uma voz que conta; uma mão que abre portas e traça caminhos entre a alma dos textos e a alma dos leitores. E para fazer seu trabalho não deve esquecer que, para além de professor, é também um ser humano, com zonas de luz e sombra, com uma vida secreta e uma casa de palavras que têm sua própria história. Seu trabalho, com a literatura mesma, é risco e incerteza. Seu oficio privilegiado é, basicamente, ler. E seus textos de leituras não são apenas os livros, mas também os leitores. Não se trata de um ofício, mas de uma atividade de vida. Não figura em dicionários nem nos textos escolares, tampouco no manual de funções, mas pode ser ensinado. E essa atitude será o texto que os alunos irão ler. Quando saírem do colégio e esquecerem datas e nomes, poderão recordar a essência dessas conversas de vida que se teciam entre as linhas. No fundo, os livros são isso: conversas sobre a vida. E é urgente, sobretudo, aprender a conversar.</p>
<p> </p>
<div><br clear="all"/><hr align="left" size="1" width="33%"/><div><p><a title="">[1]</a> Texto retirado do livro <i>Ler e brincar, tecer e cantar</i> – Literatura, escrita e educação. Coleção Gato Letrado, Editora Pulo do Gato, 2012.</p>
</div>
<div><p><a title="">[2]</a> “Deber antes que vida”, da estrofe do Hino Nacional colombiano. Refere-se a Ricardo Ricaurte, que perdeu a vida na Batalha de San Mateo, ao optar por queimar-se vivo em um alojamento cheio de munições, a fim de impedir que os espanhóis tomassem o local. [n.e.]</p>
</div>
<div><p><a title="">[3]</a> Vladmir Nobokov. <i>Curso de literatura europea</i>. Editorial Bruguera, 1983. [n.a.]</p>
</div>
<div><p><a title="">[4]</a> Rainer Maria Rilke, <i>Cartas a um jovem poeta</i>. Rio de Janeiro, Editora Globo, 2001. [n.e.]</p>
<p></p>
<p style="text-align: center;"></p>
</div>
</div>
<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502932?profile=original" target="_self">Yolanda%20Reyes%20LITERATURA.doc</a></p>Escrevivendo Caminhos/ primeiro encontro: textos complementares: H. de Campos e Guy ( GA)tag:projetoescrevivendo.ning.com,2017-05-06:3985749:BlogPost:368042017-05-06T21:00:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p></p>
<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502829?profile=original" target="_self"><img class="align-full" src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502829?profile=original" width="160"></img></a></p>
<p></p>
<p></p>
<p><i>Galáxias – Formante I</i></p>
<p>Haroldo de Campos</p>
<p> </p>
<p><i>e começo aqui e meço aqui este começo e recomeço e remeço e arremesso</i></p>
<p><i>e aqui me meço quando se vive sob a espécie da viagem o que importa</i></p>
<p><i>não é a viagem mas o começo da por isso meço por isso começo a escrever</i></p>
<p><i>mil páginas…</i></p>
<p></p>
<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502829?profile=original" target="_self"><img src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502829?profile=original" width="160" class="align-full"/></a></p>
<p></p>
<p></p>
<p><i>Galáxias – Formante I</i></p>
<p>Haroldo de Campos</p>
<p> </p>
<p><i>e começo aqui e meço aqui este começo e recomeço e remeço e arremesso</i></p>
<p><i>e aqui me meço quando se vive sob a espécie da viagem o que importa</i></p>
<p><i>não é a viagem mas o começo da por isso meço por isso começo a escrever</i></p>
<p><i>mil páginas escrever milumapáginas para acabar com a escritura para</i></p>
<p><i>começar com a escritura para acabarcomeçar com a escritura por isso</i></p>
<p><i>recomeço por isso arremesso por isso teço escrever sobre escrever é</i></p>
<p><i>o futuro do escrever sobrescrevo sobrescravo em milumanoites miluma-</i></p>
<p><i>páginas ou uma página em uma noite que é o mesmo noites e páginas</i></p>
<p><i>mesmam ensimesmas onde o fim é o começo onde escrever sobre o escrever</i></p>
<p><i>é não escrever sobre não escrever e por isso começo descomeço pelo</i></p>
<p><i>descomeço desconheço e me teço um livro onde tudo seja fortuito e</i></p>
<p><i>forçoso um livro onde tudo seja não esteja seja um umbigodomundolivro</i></p>
<p><i>um umbigodolivromundo um livro de viagem onde a viagem seja o livro</i></p>
<p><i>o ser do livro é a viagem por isso começo pois a viagem é o começo</i></p>
<p><i>e volto e revolto pois na volta recomeço reconheço remeço um livro</i></p>
<p><i>é o conteúdo do livro e cada página de um livro é o conteúdo de um livro</i></p>
<p><i>e cada linha de uma página e cada palavra de uma linha é o conteúdo</i></p>
<p><i>da palavra da linha da página do livro ensaia um livro</i></p>
<p><i>todo livro é um livro de ensaio de ensaios do livro por isso o fim-</i></p>
<p><i>começo começa e fina recomeça e refina se afina o fim no funil do</i></p>
<p><i>começo afunila o começo no fuzil do fim no fim do fim recomeça o</i></p>
<p><i>recomeço refina o refino do fim e onde fina começa e se apressa e</i></p>
<p><i>regressa e retece há milumestórias na mínima unha de estória por</i></p>
<p><i>isso não conto por isso não canto por isso a nãoestória me desconta</i></p>
<p><i>ou me descanta o avesso da estória que pode ser escória que pode</i></p>
<p><i>ser cárie que pode ser estória tudo depende da hora tudo depende</i></p>
<p><i>da glória tudo depende de embora e nada e néris e reles e memnada</i></p>
<p><i>de nada e nures de néris de reles de ralo de raro e nacos de necas</i></p>
<p><i>e nanjas de nullus e nures de nenhures e nesgas de nulla res e</i></p>
<p><i>nenhumzinho de nemnada nunca pode ser tudo pode ser todo pode ser total</i></p>
<p><i>tudossomado todo somassuma de tudo suma somatória do assomo do assombro</i></p>
<p><i>e aqui me meço e começo e me projeto eco do começo em eco no oco eco de um soco</i></p>
<p><i>no osso e aqui ou além ou aquém ou láacolá ou em toda parte ou em</i></p>
<p><i>nenhuma parte ou mais além ou menos aquém ou mais adiante ou menos atrás</i></p>
<p><i>ou avante ou paravante ou à ré ou a raso ou a rés começo re começo</i></p>
<p><i>rés começo raso começo que a unha-de-fome da estória não me come</i></p>
<p><i>não me consome não me doma não me redoma pois no osso do começo só</i></p>
<p><i>conheço o osso o osso buco do começo a bossa do começo onde é viagem</i></p>
<p><i>onde a viagem é maravilha de tornaviagem é tornassol viagem de maravilha</i></p>
<p><i>onde a migalha a maravalha a apara é maravilha é vanilla é vigília</i></p>
<p><i>é cintila de centelha é favila de fábula é lumínula de nada e descanto</i></p>
<p><i>a fábula e desconto as fadas e conto as favas pois começo a fala</i></p>
<p><i> </i></p>
<p>In: CAMPOS, Haroldo de. <i>Galáxias.</i> 2ª ed. revista; organização de Trajano Vieira. São Paulo: Ed.34, 2004.</p>
<p><i> </i><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502994?profile=original" target="_self">Gal%C3%A1xias%20I%20HC.doc</a></p>
<p></p>
<p></p>
<p>TEXTO II - Guilherme de Almeida</p>
<p></p>
<p><i>O Estado de São Paulo,</i> 1929</p>
<p><i> </i></p>
<p><i> </i></p>
<p><i> </i></p>
<p><i>A Sociedade</i> 10 nov. 1929</p>
<p><i> </i></p>
<p><i> </i></p>
<p align="center"><b>...De Guarujá</b></p>
<p align="center"><b><i> </i></b></p>
<p> Eu não quis escrever nada acho, no lugar dessas reticências, antes desse “de Guarujá”. Para quê! “Saudade”! “Remorso”! “Luar”! Literaturas! Títulos bons para valsas nacionais, perfeitamente horríveis.</p>
<p> “...de Guarujá” - isso basta.</p>
<p> Foi uma semana...Uma semana é mais do que suficiente para fazer a gente esquecer, de uma maneira total e absoluta, uma grande paixão ou um grande infortúnio; mas nunca bastará para que a mais desmemoriada de todas as criaturas humanas esqueça o menos significativo de todos os prazeres. Não somos assim: adoravelmente assim...</p>
<p> Aquele último “weekend” de outubro – que começou na quinta-feira, 31, e terminou na segunda-feira, 4 de novembro – foi uma pequena, doce glória. E, sob esse loureiro do passado, a gente fecha os olhos e dorme. E sonha:</p>
<p> “Grande Hotel de la Plage”. A chegada dos automóveis trazendo São paulo – o lindo São Paulo – entre os seus coiros e seus cristais. Srs. e Sras. Edgar Conceição, Guilherme Prates, Eduardo Almeida, Fritz de Sousa Queiroz, Jayme Telles, Firmiano Pinto Filho, Carlos Mendonça, Jorge Alves de Lima, Sandro Aristeo, João Sampaio; sras. dd. Dinah Almeida e Cecília Amaral; senhorita Antonieta Amaral, srs. Amadeu Saraiva, Fernando Prestes, Paulo Aquino, Thomas Cunha Bueno, Alfredo Mesquita, dr. Olindo Chiafarelli, Luis Baêta, Anatole Salles.</p>
<p> Manhãs de “maillot” e “volleyball” na praia de oiro...</p>
<p> O “coktail”, no bar, com a “boutade” e a pele-de-limão “queezed” [<i>sic</i>] on top”.</p>
<p> O almoço em “maillot” no terraço,:sugestão muito européia do velho Lido...</p>
<p> Chá dançante no “Asturias”; aquele restaurante que faz a gente pensar que está a bordo. Vitrola com todos os sons dos últimos filmes...</p>
<p> Agora, é o anoitecer marítimo, com as luzes dançando na água e sob os faróis dos automóveis rasgando de novo bandeirantemente, o caminho do Perequê...</p>
<p> Jantar. O ar fino do mar recorta do “Voge” as figurinhas muito “ritzy” de Bénito, Lepape ou P. Mourgue: e elas ficam vivendo ali, coloridas e leves, incrivelmente...</p>
<p> O café na sala “ubi fuit”, a roleta velha. Luz forte. As jóias brilham, nas peles e nas sedas. Aquilo é uma vitrine de Maubossin...</p>
<p> Madrugada...chuva...</p>
<p> Segunda-feira, 4, Ressaca no mar...e em terra. E a volta triste, a São Paulo, dos automóveis chorando de chuva...</p>
<p> </p>
<p><i> </i></p>
<p><i> </i></p>
<p> GUY</p>
<p><i><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503118?profile=original" target="_self">De%20%20Guaruj%C3%A1.doc</a></i></p>
<p><i> </i></p>
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<p></p>Escrevivendo Caminhos - maio 2017tag:projetoescrevivendo.ning.com,2017-05-04:3985749:BlogPost:370022017-05-04T12:00:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
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<p>No mês de maio, o Projeto Escrevivendo acontecerá no SESC de Santos</p>
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<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503051?profile=original" target="_self"><img class="align-full" src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503051?profile=original" width="477"></img></a></p>
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<div>Com a proposta de incentivar o público a ler textos literários ou não, a investigar seus processos de produção textual e a refletir sobre sua maneira de escrever, as oficinas do projeto pretendem desmitificar o ato da escrita, transformando-o num…</div>
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<p>No mês de maio, o Projeto Escrevivendo acontecerá no SESC de Santos</p>
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<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503051?profile=original" target="_self"><img src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503051?profile=original" width="477" class="align-full"/></a></p>
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<div>Com a proposta de incentivar o público a ler textos literários ou não, a investigar seus processos de produção textual e a refletir sobre sua maneira de escrever, as oficinas do projeto pretendem desmitificar o ato da escrita, transformando-o num processo centrado no sujeito, na forma textual adotada, no encadeamento das ideias e no papel do leitor. Assim, pretende-se desmitificar o ato da escrita (que não é um dom para poucos) e possibilitar que os autores, durante o processo, tornem-se leitores críticos de seus próprios textos. </div>
<div>Neste projeto, a exposição "Geografias - Nosso Lugar é Caminho"* será a base de reflexões, entre outras, sobre encontros e esquecimentos; de leituras de obras e de escritas criativas. Entre ensaios e memórias da cidade e do Porto de Santos, durante as oficinas, aspectos textuais, como clareza e coerência, também serão abordados.<br/></div>
<div>Karen Kipnis</div>
<p></p>
<p>E começo aqui</p>
<p>por Haroldo de Campos, Galáxias, Ed. 34, 1992.</p>
<p></p>
<p>in <a href="http://poesiaconcreta.com/audio.php?page=4&ordem=asc">http://poesiaconcreta.com/audio.php?page=4&ordem=asc</a></p>
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<p>* <a href="https://www.sescsp.org.br/programacao/116305_GEOGRAFIAS">https://www.sescsp.org.br/programacao/116305_GEOGRAFIAS</a> </p>Crônicas de Décio de Almeida - Nossas Letras SESC Belenzinho 2016tag:projetoescrevivendo.ning.com,2017-01-03:3985749:BlogPost:364012017-01-03T12:00:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
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<p><b>Nossas Letras</b></p>
<p><b>Erica Franco e Renata Guerra</b></p>
<p><b>Coordenação: Karen Kahn</b></p>
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<p><b>Por Décio de Almeida</b></p>
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<p><b> Na dúvida</b></p>
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<p>Estou há um bom tempo pensando em como escrever uma crônica para um curso de escrita criativa. A necessidade de falar sobre a cidade de São Paulo e o cotidiano de seus moradores está me…</p>
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<p><b>Nossas Letras</b></p>
<p><b>Erica Franco e Renata Guerra</b></p>
<p><b>Coordenação: Karen Kahn</b></p>
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<p><b>Por Décio de Almeida</b></p>
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<p><b> Na dúvida</b></p>
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<p>Estou há um bom tempo pensando em como escrever uma crônica para um curso de escrita criativa. A necessidade de falar sobre a cidade de São Paulo e o cotidiano de seus moradores está me deixando maluco.</p>
<p>O problema é que não consigo decidir sobre o que escrever.</p>
<p>O prédio onde moro, o Edifício Copam, seria ideal, mas ele já foi tema de outro texto. Pensei em descrever alguns lugares interessantes onde as pessoas andam de skate, bicicleta, passeiam com seus cachorros ou apenas ficam sentadas bebendo e se divertindo nos botecos espalhados pelo centro da cidade.</p>
<p>Poderia citar a famosa Galeria do Rock. Primeiro que não é só do rock. É do rock, do gótico, do eletrônico, do punk e do black. A fama – vinda dos anos 80 e 90 – é de um lugar de gente maluca e drogada. Esqueça isso. Cada andar tem seu estilo com lojas de roupas e discos, estúdios de tatuagem e lanchonetes, onde você vai encontrar pessoas de todas as idades com um visual e histórias interessantes.</p>
<p>Um assunto que daria uma boa crônica seria sobre um tipo de pessoa que está sempre pelo Centro, Augusta, Paulista e Santa Cecília. Sabe quando você está no dentista ou no médico e folheia uma revista de moda com aquelas roupas esquisitas em modelos tão, ou mais estranhos que as roupas? Esses são os hipsters.</p>
<p>É só andar um pouco que você encontra um. Outro dia estava na Praça Roosevelt – lar do teatro alternativo de São Paulo – bebendo uma cerveja quando surge um sujeito usando calças tipo gênio da lâmpada com a cintura no peito, sapato social com um bico gigante e um cabelo quadrado. A discussão da noite foi se ele cortava o cabelo com um cabeleireiro ou com um jardineiro. Algumas horas, e cervejas depois, ainda não existia um consenso. Porém, em um ponto todo mundo concordava: no jardineiro seria bem mais barato.</p>
<p>Outro lugar agradável que eu poderia citar é a Praça Dom José Gaspar. Ela fica entre a Rua 7 de Abril e a Avenida São Luiz. É um espaço bonito, com muitas árvores e bancos de madeira que se misturam com bares e restaurantes, criando um clima charmoso. O que chama a atenção nessa praça é a mistura de ambientes chiques e introspectivos – quer impressionar em um primeiro encontro? Vá até o Paribar – onde se ouve jazz e música eletrônica ao lado de bares nos quais as pessoas comem e bebem na calçada e o samba é tocado, ao vivo, no último som.</p>
<p>São dois os bares, quase lado a lado, com aqueles grupos de pagode que tocam sempre as mesmas músicas. Óbvio que os bares ficam lotados e depois de um tempo as pessoas começam a dançar perto dos músicos com uma graça e leveza que combinam com o álcool ingerido. A comida é muito boa e você irá encontrar vários pratos por um preço justo, além de uma feijoada bem servida aos sábados. Chegando cedo dá pra comer tranquilo, pois os “shows” só começam depois das 14 horas.</p>
<p>Bom, agora que já encontrei vários assuntos, vou escrever a crônica.</p>
<p>Até mais.</p>
<p> </p>
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<p><b> Neblina</b></p>
<p></p>
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<p>O apartamento onde moro não tem cortinas. Todos os dias vou acordando com a claridade e o barulho da cidade. Depois de alguns anos – e um ou dois erros que me custaram pequenos atrasos no trabalho – consigo saber com uma precisão quase indígena que horas são.</p>
<p>Mas hoje a cidade esta diferente. A claridade. O barulho. Tudo parece mais abafado, mais lento. Sentado na cama, demoro alguns instantes para entender o por que.</p>
<p>São Paulo amanheceu com neblina.</p>
<p>Olho para o relógio e vejo que ainda tenho algum tempo até entrar na rotina diária. Poderia voltar a deitar e curtir mais alguns minutos de sono, os melhores, mas resisto e me deixo seduzir pela névoa lá fora.</p>
<p>Volto no tempo quando acordava depois de alguns gritos e ameaças de minha mãe. Assim que saia do quarto já sentia o cheiro de café e podia ouvir o locutor da rádio repetindo a hora e logo em seguida a uma música que enaltecia as qualidades da cidade e de seus moradores sempre preparados para mais um dia de trabalho.</p>
<p>Nesses dias minha mãe pegava duas canecas fumegantes e me esperava no corredor que dava acesso ao quintal do fundo. Minha casa ficava no alto de um morro e essa porta era uma passagem para outro mundo nos dias de neblina. A temperatura fazia com que eu apertasse a caneca entre as mãos numa tentativa de vencer a batalha contra o frio.</p>
<p>O sofrimento valia a pena, pois, para uma criança, era como se o mundo tivesse deixado de existir. Tudo – ou o nada – era de um branco espesso, quase oleoso. Mesmo as casas mais próximas só se tornavam visíveis depois de um tempo, quando o olho começava a se acostumar.</p>
<p>Lembro da carona de meu irmão até a escola e de como a cidade ia se mostrando lentamente, cada quarteirão se revelando conforme o carro ia abrindo caminho pela neblina espessa e gelada.</p>
<p>Depois, mais jovem, no caminho para o trabalho, ficava procurando a cidade através da janela do metro. Um trem perdido entre o passado e o futuro.</p>
<p>Há anos que a cidade não amanhece abraçada pela neblina. Talvez os prédios e a loucura que tomou conta das condições climáticas tenha feito a cidade perder uma de suas grandes – junto com a garoa – marcas registradas.</p>
<p>E hoje, anos depois, essa característica estava de volta.</p>
<p>A São Paulo da minha infância.</p>
<p>Não resisti, fui fazer um café e fiquei no celular procurando a estação de rádio que minha mãe ouvia. Não pude deixar de me emocionar quando a mesma voz – um pouco mais velha e cansada, é verdade – continuava lá repetindo a hora. Até a música ainda era a mesma.</p>
<p>Com a caneca quente nas mãos fui até a janela e fiquei procurando os prédios vizinhos, suas janelas e antenas.</p>
<p>Hoje vou me atrasar.</p>
<p></p>
<p> ***</p>
<p></p>Crônicas de Sueli Rocha - Nossas Letras SESC Belenzinho 2016tag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-12-19:3985749:BlogPost:362722016-12-19T11:39:36.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
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<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
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<p align="center"><b>SÃO PAULO ENTRE FOLHAS E FLORES</b></p>
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<p>Moro na Penha, um dos bairros mais antigos de São Paulo, numa rua de mão única, com movimento de carros bastante intenso para uma rua tão pequena e até mesmo desconhecida. Para os motoristas mais apressados, minha rua serve muito bem para encurtar o caminho e desviar do farol…</p>
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<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
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<p align="center"><b>SÃO PAULO ENTRE FOLHAS E FLORES</b></p>
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<p>Moro na Penha, um dos bairros mais antigos de São Paulo, numa rua de mão única, com movimento de carros bastante intenso para uma rua tão pequena e até mesmo desconhecida. Para os motoristas mais apressados, minha rua serve muito bem para encurtar o caminho e desviar do farol existente na avenida principal.</p>
<p>Numa típica manhã de primavera, coloquei minha cadeira dobravél na varanda para aproveitar o sol e ler as notícias da Folha. Entre uma manchete e outra, fico deprimido com os acontecimentos políticos e, principalmente, com a eleição do novo prefeito, que parece ser tão despreparado para administrar a maior cidade do país.</p>
<p>Com um olho no jornal e outro na vizinhança, me distraio vendo Dona Luísa chegar com sua beleza natural, cabelos presos, vestida de modo simples, mulher de poucas palavras mas de atitude. Dona Luísa é admirável, cuida de seus dois filhos adolescentes, trabalha fora e mantém seu pequeno jardim e a calçada sempre limpos.</p>
<p>Segurando com firmeza uma vassoura de palha, começa a varrer a calçada forrada de flores amarelas. Eu não saberia dizer se há mais flores na copa da árvore ou no chão. Há, ainda, uma variedade imensa de passaros que pousam na árvore, cantam, fazem ninhos, ficam por algum tempo e vão embora. Apenas um sabiá laranjeira está sempre lá, todas as manhãs, cantando no mesmo horário e acordando a vizinhança.</p>
<p>Fico ali observando Dona Luísa, retirar todas as flores da calçada, que vestem e colorem a rua de amarelo. Não tarda para o senhor Zenildo, vizinho da direita, aparecer e fazer sua pergunta habitual:</p>
<p>- Bom dia Dona Luísa, quando a senhora vai pedir à Prefeitura para remover essa árvore? Faz tanta sujeira, dá um trabalho danado pra senhora, e minha casa fica empesteada de flores, levadas pelo vento ou pelos sapatos.</p>
<p>Com toda paciência, e sem demonstrar seus sentimentos de indignação, a senhora responde que a Prefeitura só remove as árvores mortas ou que atrapalham muito a rede elétrica. Exagerou ao dizer que se trata de uma Sibipiruna, um símbolo tão nacional quanto o Ipê Amarelo.</p>
<p>Esta cena não era nova para mim, pois se repetia no decorrer de cada estação do ano. As reclamações do senhor Zenildo diminuíam quando terminava a primavera, voltando com força total com a chegada do outono, quando as queixas passavam das flores amarelas para as folhas marron alaranjadas.</p>
<p>Na minha opinião, este cenário, típico de uma cidade interiorana, parece não acontecer no seio da cidade de São Paulo, nosso maior jardim de árvores e flores; casas e prédios imensos; bicicletas, ônibus, mêtros e carros...tudo ao mesmo tempo. É exatamente isso que mais me fascina e encanta.</p>
<p></p>
<p>Sueli Rocha</p>
<p></p>
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<p></p>
<p align="center"><b>Meu Deus! Onde foram parar os cinemas de rua?</b></p>
<p align="center"></p>
<p>Essa foi a pergunta que fiz a mim mesma ou a Deus quando, passeando pelas ruas do bairro onde moro, Vila Esperança, em uma tarde ensolarada de domingo, deparei-me com uma grande fila de pessoas entrando numa igreja, onde há muito tempo funcionava um cinema.</p>
<p>Imediatamente fui transportada às memórias de minha infância e adolescência, quando frequentava o cine Saturno. O próprio cinema já chamava atenção, as paredes laterais simulavam uma galáxia, com estrelas e cometas; o tapete era vermelho, cor de sangue, as cadeiras de madeira escura e as cortinas de veludo preto. Após passar pela bilheteria havia uma grande vitrine com chocolates, balas, doces e chicletes de todas as cores e sabores, uma verdadeira perdição para as crianças. </p>
<p>Ah... e o Lanterninha? era um profissional que ostentava um belo uniforme, calças pretas, blusão vermelho com botões e um quepe. Com uma lanterna na mão, tinha como função ajudar os atrasados a encontrarem seus lugares quando o filme já havia começado e também preservar a ordem. De vez em quando passava pelos corredores e surpreendia os namorados que se beijavam, iluminando seus rostos. </p>
<p>Minha família era humilde e não tinhamos dinheiro para assistir tantos filmes como gostaria, porém aqueles que assisti lembro com detalhes até hoje.</p>
<p>Na Semana Santa ir à matinê assistir "Paixao de Cristo - Vida e Morte de Jesus" - era quase uma obrigação comemorativa que se repetia todos os anos. Ficava feliz em comprar diversas guloseimas, especialmente um doce quadradinho de amendoim, para comer durante o filme. Essa alegria, porém, ia logo embora à medida que o filme avançava e ao final, eu, com tão pouca idade, sempre chorava, me sentindo culpada pela felicidade inicial.</p>
<p>Mas o tempo passou muito depressa Senhor! ... o Saturno deu lugar a um universo inteiro de pequenas cadeiras brancas enfileiradas com um tapete longo e vermelho no centro, estendido desde a entrada até o fim do salão, até parece ser o mesmo tapete de outrora.</p>
<p>Já ao pé do viaduto Vila Matilde, pensei sorrindo, Ah...o cine São Sebastião, esse sim foi inesquecível, onde assisti o primeiro filme para maiores de 18 anos, "Dona Flor e Seus Dois Maridos" baseado no romance de Jorge Amado. Como me esquecer do Vadinho? De Dona Flor? Dos cenários na Bahia? E a música do Chico "O que será que será"? Foi lá o meu primeiro beijo, também flagrado pelo lanterninha.</p>
<p>Diante de tantos pensamentos e recordações, resolvi passar em frente ao prédio que abrigou o São Sebastião e deparei-me novamente com mais um templo religioso, com colunas e fachadas de granito e com um letreiro dourado reluzente. Já não anuncia mais nada.</p>
<p>Resolvi seguir rumo a Penha, agora um pouco entristecida, diante das mudanças, mas confiante em encontrar algum cinema de rua funcionando. Contudo no bairro da Penha, onde existiam três cinemas, o Penharama, O Jupiter e o São Geraldo, um deles foi transformado em estacionamento e os outros dois em grandes magazines de roupas e calçados.</p>
<p>Tentei por alguns minutos descobrir as razões pelas quais os cinemas saíram das ruas e foram abrigados em shoppings , talvez pela segurança ou comodiadade proporcionada por tais centros comerciais, mas mesmo assim , diante de tantas hipoteses não consegui compreender a ocupação daqueles prédios por igrejas e lojas ...só sei que definitivamente algo se perdeu.</p>
<p>Por fim, acabei cedendo à modernidade. Entrei num shopping , dirigi-me ao cinema, comprei meu ingresso, entrei e fui guiada por luzinhas existentes no piso para encontrar minha cadeira... estofada, reclinável, com lugar para copos, um verdadeiro primor.</p>
<p>Apagaram-se as luzes, começou o filme, porém sem querer deixei cair minha carteira e na escuridão tateando a encontrei...aí que saudades do Lanterninha.</p>
<p> </p>
<p>Sueli Rocha </p>
<p> </p>
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<p> </p>Crônicas de Fabiola Ribeiro - Nossas Letras SESC Belenzinho 2016tag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-12-14:3985749:BlogPost:361972016-12-14T20:30:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p></p>
<p>Nossas Letras Crônicas 2016</p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord: Karen Kahn</p>
<p></p>
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<p></p>
<p></p>
<p>A MEIA HORA</p>
<p></p>
<p>Hoje saí do trabalho mais cedo que normalmente, abri a porta e o mormaço quente veio na minha direção. O verão não chegou, mas na terra da garoa ele veio mais cedo. Tenho um compromisso importante: aniversário de um amigo. Por sorte ele mora próximo ao meu trabalho - ou seria o contrário? Confesso que a única qualidade…</p>
<p></p>
<p>Nossas Letras Crônicas 2016</p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord: Karen Kahn</p>
<p></p>
<p></p>
<p></p>
<p></p>
<p></p>
<p>A MEIA HORA</p>
<p></p>
<p>Hoje saí do trabalho mais cedo que normalmente, abri a porta e o mormaço quente veio na minha direção. O verão não chegou, mas na terra da garoa ele veio mais cedo. Tenho um compromisso importante: aniversário de um amigo. Por sorte ele mora próximo ao meu trabalho - ou seria o contrário? Confesso que a única qualidade de trabalhar numa das ruas mais conhecidas de São Paulo, a Oscar Freire, é estar perto de quase todos os lugares que os jovens adultos gostam de ir e, consequentemente, de morar. <br/> <br/> Subi até a Avenida Paulista, peguei o metrô e cheguei na Brigadeiro. Eu não sou paulistana, nasci e morei em uma pequena cidade chamada Extrema, no interior de Minas Gerais, menor do que qualquer bairro de São Paulo. Lá, perto era a casa da amiga que ficava há cinco minutos a pé, e longe era ir à rodoviária que demorava vinte minutos caminhando. Mas acho que aprendi a ser paulistana, aqui as distâncias são calculadas de outra forma: você pega um metrô ou ônibus e chega no local em meia hora? Então é bem próximo.<br/> <br/> Cheguei ao apartamento dele, bem bonito, “jeitosinho”. Da janela vemos a Avenida Paulista e ouvimos o trânsito, a buzina, o barulho e a bagunça. Neste lugar tem um fluxo infinito de gente, as pessoas nunca param e a rua nunca fica vazia. Os jovens gostam do movimento e da adrenalina. Às vezes me considero uma senhora diante de todas essas manifestações.<br/> <br/> Depois de algumas horas e longas conversas, nos arrumamos para sair, “próxima parada Bela Cintra”. Na rua a cidade ainda não para, é de noite e as calçadas continuam lotadas. Aqui não existe dificuldade para chegar: têm ônibus, metrô, bicicleta, táxi e uber. O mais difícil mesmo é ir a pé. <br/> <br/> No meio das conversas, dos drinks inusitados e da boa comida, percebi o quanto São Paulo mescla pessoas diferentes e as convida para todas estarem juntas. Aqui é uma mistura de pessoas, estilos, raças e etnias, isto me fascinou para sair da minha pequena cidade monocromática e vir para a grande metrópole. A cidade nunca dorme, você nunca se sentirá sozinho e sempre terá algo para fazer. Têm coisas para todos os gostos e têm gente em todos os lugares. Não tem desculpa para não sair de casa, só se você não quiser. <br/> <br/> Conversa vai, conversa vem, e o metrô vai fechar e não espera ninguém. Mesmo adorando a baderna do coração de São Paulo, a mistura de pessoas no centrão e as bebidas de rua, desvio da maioria das pessoas que estavam comigo no bar e vou para mais longe. Afinal a garota do interior ainda vive em mim e, apesar de vir para São Paulo por causa da bagunça, gosto mesmo é de sossego, de morar na minha casa de vila, próximo ao Tatuapé, a meia hora de tudo que preciso.</p>
<p align="right">Fabiola Ribeiro</p>
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<p><span class="font-size-3">Chuva</span></p>
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<p>Estava caminhando pela Praça da Luz quando deparei com moradores de ruas típicos de São Paulo. Um deles me pediu uns trocados para comprar uma bebida e, como estou acostumada com essa abordagem todo o tempo, disse que não tinha nada e continuei andando para dentro das ruas do Bom Retiro. Foi neste momento que lembrei da primeira vez que vim para cá.</p>
<p>Eu tinha 13 anos e estava em excursão de escola para o Museu da Língua Portuguesa. A única coisa que sabia sobre a cidade era o que a televisão aberta me propunha e não era nada bom. Logo quando chegamos na frente da Estação da Luz, só conseguia prestar atenção nas garotas de roupa curta na esquina e nos senhores de idade enterrados em seus cobertores de jornal. O medo me aterrorizou. Aqui não tinha céu azul e muito menos barulho de pássaro. Imaginei como alguém poderia querer morar nesta imensidão cinza.</p>
<p>Voltei do devaneio e ri de mim, por ter sido seduzida por esta cidade também. Pensei como havia decidido vir para cá, sem nenhum dinheiro e nenhuma expectativa? Caminhei pelas ruas desviando dos vendedores ambulantes e me escondendo do calor. Será que não cometi um erro vindo para cá? Aquela menina de treze anos tinha certa razão. Aqui vivemos dentro de uma nuvem de poluição e falta de ar. No meio de tanta gente somos apenas zumbis.</p>
<p>Olhei para cima e vi que estava começando a chover, percebi que as pessoas foram ocupando todos os toldos e espaços cobertos disponíveis e só o que me restava era ficar na rua, agora molhada e vazia. Decidi continuar minha caminhada para lugar nenhum e, olhando ao redor, entendi o porquê cheguei aqui para fazer parte desta multidão.</p>
<p>Mesmo São Paulo sendo uma completa bagunça, uma ascensão dos desesperados e os gritos que ninguém ouve, com a rua vazia, pude notar aquele um por cento que me encanta: o mendigo feliz pela água que cai, os cachorros comendo o resto que os outros desperdiçam e os jovens se manifestando para mostrar que são diferentes. E logo vem o tempo depois da chuva, que é fresco e limpo, me mostrando que nem tudo aqui cheira a desgraça.</p>
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<p>Fabiola Ribeiro</p>
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<p align="right"></p>Crônicas de Maiara Rodrigues - Nossas Letras SESC Belenzinho 2016tag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-12-12:3985749:BlogPost:363442016-12-12T12:30:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
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<p align="center" style="text-align: left;">Por Erica Franco e Renara Guerra</p>
<p align="center" style="text-align: left;">Coordenação: Karen Kahn</p>
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<p align="center"><b>ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA AO PREFEITO COM CONSCIÊNCIA SOCIAL DEFEITUOSA (AAPCSD)…</b></p>
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<p align="center" style="text-align: left;">Por Erica Franco e Renara Guerra</p>
<p align="center" style="text-align: left;">Coordenação: Karen Kahn</p>
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<p align="center"><b>ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA AO PREFEITO COM CONSCIÊNCIA SOCIAL DEFEITUOSA (AAPCSD)</b></p>
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<p>Terça-feira à tarde, calor e muita fadiga após horas consecutivas de aula. Caminho da faculdade até o terminal de ônibus, aguardo pacientemente na fila a chegada do busão, e, passados alguns ventos, o transporte chega e eu entro à procura de um lugar pra sentar.</p>
<p>Após minutos de movimento, trânsito e calor escaldante, de espécimen que faz suar até as entranhas, avisto de longe um cadeirante de aparência peculiar dar sinal para o ônibus. O coletivo para, o cobrador sai de seu aposento e ajeita as engenhocas do automóvel para que o rapaz de cadeira entre. O moço se direciona até o seu local de direito e com os dedos visivelmente atrofiados começa a alternar os movimentos entre fuçar o celular e assoar o nariz com um lenço.</p>
<p>Depois de algum tempo de contemplação do rapaz, não demora muito para eu perceber que já tinha topado com ele em algum lugar, e então me lembro de tê-lo visto andar pelos corredores da faculdade uma vez, porém com cabelo totalmente diferente.</p>
<p>Reflito sobre as atividades que para mim exigem pouco esforço, mas que para ele, com visível paralisia dos membros inferiores e superiores, exigem muito sacrifício, e logo penso no quanto estou diante de alguém com capacidade de enfrentamento surreal; um herói, eu diria. Um Super Homem de Assim Falou Zaratustra.</p>
<p>Por esse motivo me sinto mal em ter reclamado tanto do calor e de fadiga, noto que preciso descer no próximo ponto e direciono a minha atenção para o celular que vibra <i>non-stop</i>.</p>
<p>Passadas algumas auroras, um perrengue ou outro e etapas de relatórios concluídas, glorifico a chegada da tão pré-felicidade-esperada sexta-feira. Eis então que, em uma das minhas bisbilhotagens de três horas seguidas no Facebook, me deparo com uma notícia sobre o prefeito eleito da nossa cidade, cuja manchete diz que o político cometeu uma gafe ao chamar a instituição AACD de Associação de Crianças Defeituosas. Me lembro do cadeirante do ônibus, como num déjà vu. Será que ele foi membro da AACD algum dia?</p>
<p>Devaneio sobre a notícia e rumino a escassez de consciência social do prefeito eleito. Compreendo então a necessidade improrrogável de uma Associação de Assistência ao Prefeito com Consciência Social Defeituosa (AAPCSD), essencial para o processo de tratamento de políticos portadores de deficiência intelectual, social e humana.</p>
<p>Afinal, é um ato de bondade doar um salário – proporcional a uns poucos centésimos de toda a fortuna acumulada ao longo da vida por meio da exploração de escravos - a uma entidade cujo nome nem é lembrado? Por que isso não foi pensando antes das eleições, no iate de Miami, no banquete de farturas ou no extrato bancário? Aliás, quem é defeituoso? O cadeirante do ônibus, os pacientes da AACD ou o prefeito sem consciência social?</p>
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<p> Maiara Rodrigues</p>
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<p align="center"><b>Sem trampo, liberdade, amor, família, pálio e pó</b></p>
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<p>15 de Novembro de 1991, Proclamação da República Brasileira.</p>
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<p> Baile da Madrugada, Rua Manuel Madruga e sirene quebra-clima de uma viatura policial: “Desce do carro! Encosta no muro! Rápido, rápido! Agora!” - três jovens, quase que intuitivamente, levantaram os braços – “Nóis só queria dá umas volta no fiat... Nóis é de família, seu policial. Minha mãe precisa de mim. Ela só tem e...”. “Não quero saber! Entra no carro! Vai! Agora, meu!”</p>
<p>O caminho até a Casa de Detenção de São Paulo era longo, partia do abraço agasalhado da mãe em Itaquera para o desamparo mortífero do bairro do Carandiru. A reclusão era de quatro a dez anos, mas a pena de um dos rapazes seria encurtada em nome de um massacre que deixaria Jota Ê, o único sobrevivente do bando, com traumas pesados. Tão pesados que ele sentia náusea e sopapos no estômago só de lembrar. Tão cruéis que o jovem acumulou ódio e medo inesgotáveis contra o mundo e tudo aquilo que o remetia ao dia da chacina.</p>
<p> </p>
<p>15 de Novembro de 2016, Proclamação da República Brasileira.</p>
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<p>A euforia da madrugada deixou o jovem Jota Ê infestado de álcool e vontade de cheirar o mágico pó daquela viela da rua debaixo. O pó que o fazia esquecer o passado, as cobranças, o trampo e o antecedente criminal traumático. O pó que o deixava feliz sem ostentar aquela hilux zero quilômetro ou o mizuno de 1000 paus do Shopping Metrô Itaquera.</p>
<p>O rapaz não hesitou, e cheirou com tanta vontade que perdeu o fio da meada, do tempo, da consciência e do sangue que jorrava de suas narinas. Com tanto desejo que sentiu o prazer da dor como se fosse o mestre Tim Maia cantando os pesares de "Azul da Cor do Mar" numa arena lotada.</p>
<p>Extasiado, brisado e com o coração em 200 bpm, resolveu dar carona aos manos da biqueira. “Carona pra onde? Pra quê?” Não sabia, e nem queria saber, pois só pensava em apreciar a brisa e dar um rolê com os parças no pálio verde 1997 pago com tanto sacrifício.</p>
<p>Acelerou ao chegar à Avenida Campanella.</p>
<p>Na casa 542 da Rua Luís Pereira, Mariana – esposa de Jota Ê - agonizava a ausência de seu companheiro. "Ele ainda tá assinando a condicional. Se os polícia pegá de novo, eu não quero nem pensá. Nóis não tem grana nem pra fralda do Jotinha direito, imagina pra levá cesta nas visita. Ele precisa voltá logo!"</p>
<p>Uma, duas, três, quatro da manhã e nada do mano Jota. O estômago da patroa se apertava de tanta ansiedade e medo.</p>
<p>O celular dela toca, o coração acelera, ela respira fundo e desliza o polegar na seta verde: "Alô!" "A senhora se chama Mariana?" "Sim, sô eu!" "O seu marido, Jota Ê, acaba de ser detido em flagrante e se encontra no 34º DP." "O quê?! Não, não é possível! Deixa eu fala aí com ele, purfavô!" "A senhora vai ter que comparecer à delegacia pra falar com ele." - Mariana bufa alto e engole um apanhado de choro - "Tô indo aí...".</p>
<p>Ela pega o busão, desce no ponto em frente ao Distrito Policial e entra desesperada a procura de seu parceiro. "Cadê o Jota Ê?" "Ô, moço, como eu faço pra ver o meu marido?". Um policial guia a mulher até a cela do detento e os deixa a sós por alguns minutos. O jovem se debruça em lágrimas, implora por perdão e diz que só queria dar uma carona aos amigos no seu pálio verde e esquecer os problemas do trampo pesado. Mariana o abraça, diz que acredita nele e aceita as desculpas, mas não sabe o que fazer para visitá-lo agora e o que será dela e do molequinho recém-nascido.</p>
<p>“Sem trampo, liberdade, amor, família, pálio e pó por mais seis anos” – A Justiça Brasileira disse.</p>
<p>O Carandiru virou Parque da Juventude, o velho fiat e pálio verde foram sucateados e serviram de abrigo às ratazanas, mas a náusea, os sopapos no estômago, a chacina e os amigos esquartejados vieram à tona em forma de desespero e ódio contra si, a vida e o mundo.</p>
<p>O dia amanhece e o corpo de Jota Ê acorda frio e pendurado em um cadarço verde e amarelo.</p>
<p>Agora, Jota Ê é só mais um sem trampo, liberdade, amor, família, pálio, pó e vida.</p>
<p>Justiça pra quem? Proclamação da República pra quê?</p>
<p> </p>
<p> Maiara Rodrigues</p>Crônicas de Grasiele Maia Nossas Letras SESC Belenzinho 2016tag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-12-12:3985749:BlogPost:363422016-12-12T12:00:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
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<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coordenação: Karen Kahn</p>
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<p style="text-align: center;"><b>Linha vermelha da depressão</b></p>
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<p> Segunda-feira. Chegar cedo ao trabalho era minha meta. Saí 10 minutos mais cedo de casa.</p>
<p> “Por que as pessoas param do lado esquerdo? ” – pensei já aborrecida, enquanto subia a escada rolante.</p>
<p> Começou a garoa... “Pronto! É hoje que chego amanhã”.</p>
<p> Perto da catraca, notei…</p>
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<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coordenação: Karen Kahn</p>
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<p style="text-align: center;"><b>Linha vermelha da depressão</b></p>
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<p> Segunda-feira. Chegar cedo ao trabalho era minha meta. Saí 10 minutos mais cedo de casa.</p>
<p> “Por que as pessoas param do lado esquerdo? ” – pensei já aborrecida, enquanto subia a escada rolante.</p>
<p> Começou a garoa... “Pronto! É hoje que chego amanhã”.</p>
<p> Perto da catraca, notei o uni duni tê que uma moça fazia para escolher a catraca que estava livre. “Por que não escolhe uma e vai? ”</p>
<p> Engatilhado, meu bilhete único passou sem mais demoras. Desci as escadas rumo à plataforma. Lotada. Preguiça. O relógio indicava 7h45.</p>
<p> Passou 1,2,3,4. Quatro metrôs e eu não saí do lugar. “Daqui a pouco deve passar o vazio das 8h15” – a esperança toma conta.</p>
<p> A lombar já dolorida indica duas coisas: a mochila pesada e a posição que não aliviava a coluna.</p>
<p> “O vazio! ” Alegria. Passou direto, a desilusão.</p>
<p> Passou 1,2,3,4 lotados. Mais um metrô se aproxima da plataforma. Vazio! “Calma gente. ” Sentar era utopia. Uma viva alma segurou minha mochila e a marmita. “Gratidão.”</p>
<p> Destino: República. Nove estações. Freadas bruscas colocavam os bois nos melhores lugares. “Deve ser recém-contratado. ” “Se meu fisioterapeuta andasse de metrô, entenderia a razão da minha lordose e escoliose. Ai RPG. ”</p>
<p> Chega no Brás. O impossível acontece e o que estava lotado, fica intragável. Lá vem a cavalaria de <i>Game Of Thrones</i>, punhos cerrados e peito aberto.</p>
<p> Sé. Alívio? O tanto que sai é quase o mesmo tanto que entra. “Força, tá chegando. ”</p>
<p> República.</p>
<p> “Ufa, cheguei. ” “Chegamos. ”</p>
<p> Amanhã começa tudo de novo...</p>
<p></p>
<p></p>
<p>Grasiele Maia</p>
<p></p>
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<p style="text-align: center;"><b>Sob os olhos da Catedral da Sé</b></p>
<p><b> </b></p>
<p>As portas se abrem e como no jogo de bilhar, as pessoas procuram suas caçapas: Jabaquara, Tucuruvi, Saída. Subo as escadas, meu destino está fora dos trilhos. As catracas recepcionam quem chega e dizem até logo para quem segue adiante.</p>
<p> </p>
<p>Um ar nostálgico invade minhas lembranças. Durante anos, eu, minha mãe e minha irmã fizemos o mesmo trajeto. Destino? O convênio médico que tínhamos no prédio do sindicato dos trabalhadores da indústria. De mãos dadas, seguíamos a placa: Catedral da Sé, rua Anita Garibaldi. Faço o mesmo caminho e as mudanças do passar dos anos vêm à tona. O comprador de ouro e o senhorzinho que consertava relógios antigos, na rua Onze de Agosto, em 1990, deram espaço à Cacau Show e ao Instituto Brasileiro de Ciências Criminais.</p>
<p> </p>
<p>Na esquina com a Praça João Mendes, não encontro mais a banca de jornal, um dos nossos pontos de parada. O jornaleiro, um senhor carismático, sempre comentava o quanto eu e minha irmã estávamos crescendo. As aquisições eram sempre as mesmas: dois gibis da Turma da Mônica para ajudar a passar o tempo. Onde será que ele está? Como será que ele está?</p>
<p> </p>
<p>Esperando o farol abrir, me deparo com o Fórum João Mendes e me vem à memória o grupo de senhores e senhoras, vestidos de branco, na maioria orientais, que praticavam <i>tai chi chuan,</i> às 7 horas da manhã. Será que esses encontros ainda acontecem?</p>
<p> </p>
<p>Volto ao presente em meio às buzinas e aos transeuntes. Ao contrário de muitos, tenho um tempo de sobra e decido percorrer o caminho que há anos não faço. Cruzo a praça e antes de atravessar a Conselheiro Furtado, percebo que as lojinhas com delicados artigos orientais viraram galerias com produtos gospel e <i>made in china. </i> </p>
<p> </p>
<p>Começo a descer a Conde de Sarzedas. A primeira diferença torce meu estômago, a quantidade de moradores de rua, crianças, idosos, homens e mulheres jogados à própria sorte; ao redor, lojas de artigos evangélicos os acolhem sem ao menos abraçá-los. O som alto não vem das <i>pick ups</i>, mas das lojas de Jeová. Continuo minha peregrinação. Edifícios grandiosos foram construídos e os estacionamentos dividem espaço com igrejas. Imóveis abandonados, outros disponíveis para locação e mais lojas gourmetizadas de artigos religiosos. Tento forçar a memória e só me recordo das mãos da minha mãe nos guiando pelas calçadas tortuosas. A antiga fachada de mármore deu espaço a um prédio pintado de laranja e amarelo com grades azuis. Cheguei, o prédio estava fechado. Talvez porque fosse sábado...</p>
<p> </p>
<p>Em frente ainda tem uma lanchonete ou, melhor, um boteco. Lembro-me das poucas vezes que meu pai nos acompanhou, ele comprava um café com leite e um pão de queijo. Será que é o mesmo dono? A curiosidade foi sanada, quanta coisa está diferente. Não reconheço mais aquele local como um ambiente que antes era familiar. Agora tenho que encarar a subida e voltar aos trilhos.</p>
<p></p>
<p>Grasiele Maia</p>
<p></p>Crônicas de Danilo Lago - Nossas Letras SESC Belenzinho 2016tag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-12-12:3985749:BlogPost:360952016-12-12T11:47:56.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coordenação: Karen Kahn</p>
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<p align="center"><b>FRETADO</b></p>
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<p> tinha esquecido o guarda-chuva em casa. pra fugir da garoa, enquanto esperava o ônibus, me escondi debaixo do toldo de uma igrejinha enterrada atrás do ponto.</p>
<p> meia, uma, uma hora e meia e nada, nem sinal.</p>
<p> na igrejinha, luzes acesas. dava pra ouvir um cara dizendo pro povo se levantar, sentar, repetir umas palavras pra quem estivesse ao…</p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coordenação: Karen Kahn</p>
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<p align="center"><b>FRETADO</b></p>
<p> </p>
<p> tinha esquecido o guarda-chuva em casa. pra fugir da garoa, enquanto esperava o ônibus, me escondi debaixo do toldo de uma igrejinha enterrada atrás do ponto.</p>
<p> meia, uma, uma hora e meia e nada, nem sinal.</p>
<p> na igrejinha, luzes acesas. dava pra ouvir um cara dizendo pro povo se levantar, sentar, repetir umas palavras pra quem estivesse ao lado, ofertar. prometia os céus, uma cdhu no paraíso, um zero quilômetro na terra, transformação de vida, conversão, cura, de pecador pobre e falido a empresário próspero, um santo empreendedor.</p>
<p> o segurança, obreiro, me encarou. sorri, meio tímido, meio atordoado. ele destroncou a cabeça. foi quando algo dobrou a esquina. quebrei o pescoço, pude ver os faróis e ouvir o gemido do motor. vinha na minha direção.</p>
<p> fiz sinal com o braço e dei a última secada na igrejinha. transbordavam olhares sobrecarregados, mãos atrofiadas, bocas amordaçadas. nos olhos de um homem engravatado, segurando um microfone com as duas mãos, vi gigantescos cifrões.</p>
<p> o ônibus parou, recolhi o braço, embarquei. pedi pro motorista arrancar, apertar o pé no acelerador, me levar pra outro mundo, longe dos falsos profetas, distante de gente que lucra com corações dilacerados.</p>
<p> depois de uma cota perambulando pela cidade, o motorista disse pronto, chegamos, e abriu as portas. desembarquei. li a placa pendurada no poste, Avenida Pires do Rio, Cemitério da Saudade. </p>
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<p align="right">Danilo Lago</p>
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<p align="center">eu já tive</p>
<p align="center">um</p>
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<p> <a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502782?profile=original" target="_self"><img src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502782?profile=original" width="177" height="391" class="align-center"/></a></p>
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<p> não importa se toda memória não passa de imaginação. tô falando isso porque um amigo tava reclamando do aparelho celular dele, bem mais novo que o meu, dizendo que era uma porcaria, feio, lerdo, pouca memória, poucos aplicativos, câmera de baixa resolução, ninguém mais queria um daquele, mó vergonha de mexer nisso no meio dozotro.</p>
<p> coisa que eu discordava. tá certo que não era o último lançamento do Iphone, mas quebrava um galhão. o celular dele tinha até acesso à internet, 3G, GPS, Facebook, WhatsApp, essas coisas que eu nem sei escrever o nome direito e que servem de isca pras Casas Bahia da vida. </p>
<p> falei pra ele aquietar o facho, seu aparelho ta mó de boa, funcionando, melhor que muito celular por aí, não vale a pena gastar mais que dois salários com um novo.</p>
<p> quem disse que ele deu bola. e ainda ficou falando mal do meu. isso me fez lembrar que eu já tive um velho Siemens A52 que salvou a vida de um jovem, frágil e mal-educado smartphone, há dois anos, quando ainda trabalhava num escritório de despacho aduaneiro, na Paulista.</p>
<p> às vezes, saía tarde de lá. naquela noite eu e mais dois funcionários tivemos que esticar. um terminando de emitir Nota Fiscal, eu aguardando a Nota emitida pra fechar o malote e o motorista do transporte aguardando o malote, com a Nota, lacrado. o documento precisava ser encaminhado no mesmo dia pra filial de Santos. exigência do chefe.</p>
<p> assim que o cara emitiu a Nota, botou o seu smartphone no bolso e foi embora sem dar tchau. guardei a Nota, lacrei o malote às pressas e liberei o motorista. eu não via a hora de ir pra casa, tomar banho, jantar, dormir... peguei a mochila, marquei o ponto. </p>
<p> tinha acabado de dobrar a esquina quando vi o colega da Nota, parado na testa da guia, esperando o semáforo de pedestres abrir. nisso, um cara que eu não conhecia, e que vinha no sentido contrário, ganhava a sua direção, chegando cada vez mais perto.</p>
<p> bem na hora do bote, as mãos fora do bolso, o veneno no ar, o cobra bateu os olhos em mim. desistiu do colega da Nota e se arrastou na minha direção. o semáforo abriu, o smartphone conseguiu atravessar. não tive tempo de dar um passo atrás. é o seguinte, malucão, passa o celular, tendeu, tô armado, e se gritá o bagulho vai ficá bichado pro seu lado.</p>
<p>ao ver o meu Siemens A52, não pensou duas vezes, esse celular é seu, quê que é isso cara, esse treco ainda funciona, nem minha bisavó tem um aparelho tão velho assim, cê é museu, é museu que vive de passado, cria vergonha e compra um novo, rapaz, larga o escorpião do bolso, tira um lá na loja, é mó fácil, cê trabalha com cartão de crédito, então, parcela no cartão, em até 10 vezes sem juros e sem entrada, faz o seguinte, anota o meu número aí, não, melhor, tó, fica com meu cartão de vendas, aí tem o meu telefone, e-mail, site, zap, daí quando cê fô comprá um aparelho novo, entra em contato comigo, a gente faz uma cotação, orçamento, vai negociando, sem dor de cabeça, óquei, agora pode guardá aí o seu A52 de volta, tá tudo bem, vai de boa, pensa nisso que te falei, pensa com carinho, mas pensa mesmo, tá, e</p>
<p>desculpa qualquer coisa,</p>
<p>vai com deus.</p>
<p> </p>
<p align="center"> </p>
<p align="center"> </p>
<p align="center"> Danilo Lago</p>
<p></p>NOSSAS LETRAS - VIII& último Encontro de CRÔNICAS SOBRE SÃO PAULOtag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-12-03:3985749:BlogPost:360882016-12-03T03:00:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p><b> </b></p>
<p></p>
<p></p>
<p><b><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502630?profile=original" target="_self">foto%20sesc%20cronicas%20grupo%20E%26R.jpg</a></b></p>
<p></p>
<p></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
<p> </p>
<p><b>Encontro 8 - Crônicas de São Paulo - Nossas Letras.</b></p>
<p></p>
<p>Neste último encontro, apresentamos ao grupo a curadora do projeto Nossas Letras, Karen Kahn. Como grande parte dos participantes…</p>
<p><b> </b></p>
<p></p>
<p></p>
<p><b><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502630?profile=original" target="_self">foto%20sesc%20cronicas%20grupo%20E%26R.jpg</a></b></p>
<p></p>
<p></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
<p> </p>
<p><b>Encontro 8 - Crônicas de São Paulo - Nossas Letras.</b></p>
<p></p>
<p>Neste último encontro, apresentamos ao grupo a curadora do projeto Nossas Letras, Karen Kahn. Como grande parte dos participantes frequentaram os módulos anteriores, muitos já a conheciam de outros encerramentos, uma vez que esteve presente no último encontro de cada um dos quatro módulos do Projeto, a fim de elaborar um relatório final que também será publicado neste site. </p>
<p>Em seguida, demos continuidade à leitura da primeira versão das segundas crônicas produzidas no módulo, cujo tema era São Paulo no tempo. Ao todo, foram lidas seis crônicas. Como no encontro anterior, projetamos os textos no telão para que todos tivessem acesso a eles; e demos maior destaque à discussão dos comentários tanto nosso quanto dos colegas. Todas as primeiras versões já haviam sido revisadas pelas mediadoras e enviadas aos alunos no dia anterior ao encontro. </p>
<p>Após o breve intervalo, li alguns trechos e destaquei a diferença entre conceitos de meta-ficção e de auto-ficção, baseada no livro “Mutações da literatura no século XXI”, de Leyla Perrone-Moisés, recém-lançado pela Companhia das Letras. </p>
<p>Depois, os participantes leram a versão final de uma crônica escrita durante oficina. Como o tempo era curto, nem todos tiveram a oportunidade de ler um segundo texto.</p>
<p>O encontro foi encerrado com muitas fotos do grupo e com um gostinho de quero mais Nossas Letras!!</p>
<p></p>
<p>Abaixo, um material de apoio para este último módulo do Projeto.</p>
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<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503355?profile=original" target="_self">PPT%20Cronograma%20FINAL%20CR%C3%94NICAS.pptx</a></p>
<p> </p>Nossas Letras - Material didático do Módulo IV: Crônicas sobre São Paulotag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-11-27:3985749:BlogPost:362542016-11-27T15:30:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503326?profile=original" target="_self"><img class="align-full" height="645" src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503326?profile=RESIZE_1024x1024" width="484"></img></a> <a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503326?profile=original" target="_self"><br></br></a></p>
<p>Abaixo, o material didático produzido para o Módulo IV: Crônicas sobre São Paulo, por Karen Kipnis, Erica Franco e Renata Guerra. …</p>
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<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503326?profile=original" target="_self"><img width="640" src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503326?profile=RESIZE_1024x1024" width="484" class="align-full" height="645"/></a><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503326?profile=original" target="_self"><br/></a></p>
<p>Abaixo, o material didático produzido para o Módulo IV: Crônicas sobre São Paulo, por Karen Kipnis, Erica Franco e Renata Guerra. </p>
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<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503960?profile=original" target="_self">PPT%207%C2%BA%20encontro%20-Cronograma%20final.pptx</a></p>
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<p>Ontem, 26 de novembro, encerramos o Projeto Nossas Letras 2016 no SESC Belenzinho. Em pensar que tudo começou com uma troca de e-mails com a Thaís Batista ( então ....) que buscava um tipo muito específico de oficina literária para um público muito particular do SESC Belenzinho, ainda em 2015.</p>
<p></p>
<p>Convite aceito, convidei a Gabriela Rodella para planejarmos juntas o projeto (como fizemos outras vezes), mas.... tendo passado num concurso, Gabi fez as malas e foi lecionar em Universidade da Bahia! Sorte dela e dos baianos!</p>
<p></p>
<p>Dos cinco alunos oriundos do curso de licenciatura Metodologia de Ensino da Língua Portuguesa da FE/USP, por ela indicados e que que entraram em contato comigo, os cinco encararam o desafio de ministrarem módulos das oficinas de leitura e escrita do Projeto, sob minha curadoria. </p>
<p></p>
<p></p>
<p>Antes de batizarmos o projeto de Nossas Letras, pensou-se em Primeiras Letras, uma vez que o SESC Belenzinho pretendia atrair um público iniciante, aquele que usufrui de opções de esporte e lazer em seu espaço, mas que não se sente atraído, por um motivo ou por outro, pelos cursos literários oferecidos na unidade. Neste mesmo espírito, Frederico Barbosa e eu, há dez anos!, batizamos e demos início ao Projeto Escrevivendo na Casa das Rosas, em 2006.</p>
<p></p>
<p>O que se verificou, então e agora, é que, se por um lado não conseguimos, ainda, atrair o público pré-determinado (a fim de democratizar informações e conhecimentos e dar voz a cidadãos) para a escrita e leitura de textos, ainda que com apelos lúdicos e ampliando a discussão sobre o que seja a literatura na contemporaneidade, por outro lado, confirmamos a constante necessidade de cidadãos já escreviventes continuarem, em espaços públicos e não formais de educação, desenvolvendo seus processos pessoais e infinitos de escrita e leitura. E isto se aplica não apenas aos participantes das oficinas, mas aos professores mediadores das oficinas, e a mim, sempre.</p>
<p></p>
<p>Neste sentido, o Projeto Escrevivendo (Nossas Letras, na versão 2016 no SESC Belenzinho), é um modelo de ação educativa em espaços culturais e públicos que valorizam, cada vez mais, a educação informal e continuada de cidadãos. Este modelo é desenvolvido por profissionais oriundos da Universidade Pública e constrói pontes discursivas e dialógicas entre pessoas, afim de se reconhecerem como iguais e humanas.</p>
<p></p>
<p>Ainda haverá uma última postagem com as segundas crônicas sobre São paulo produzidas e editadas dos escreviventes durante o módulo; entretanto, no momento, compartilho o cronograma da oficina, desenvolvido em equipe com Erica franco e Renata Guerra, a partir de metodologia do Projeto Escrevivendo.</p>
<p></p>
<p></p>
<p>Aqui o material didático:</p>
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<p></p>
<p>Abaixo, o material didático produzido para o Módulo IV: Crônicas sobre São Paulo, por Karen Kipnis, Erica Franco e Renata Guerra. </p>
<p></p>
<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503960?profile=original" target="_self">PPT%207%C2%BA%20encontro%20-Cronograma%20final.pptx</a></p>
<p></p>
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<p>Abraços, </p>
<p>Karen Kipnis</p>
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<p></p>NOSSAS LETRAS - VII Encontro do módulo CRÔNICAS SOBRE SÃO PAULOtag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-11-20:3985749:BlogPost:362592016-11-20T19:00:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p><b>Nossas letras- SESC Belenzinho</b></p>
<p><b>Crônicas sobre a cidade de São Paulo</b></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
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<p><b>Encontro 7 - Crônicas de São Paulo - Nossas Letras.</b></p>
<p>Por Erica Franco</p>
<p> </p>
<p>Começamos o encontro com poucos participantes pois, naquele dia, houve algum problema na Radial Leste, e isso atrasou a chegada dos oriundos da Zona Leste, a maioria.</p>
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<p>Este encontro foi dedicado à leitura e à…</p>
<p><b>Nossas letras- SESC Belenzinho</b></p>
<p><b>Crônicas sobre a cidade de São Paulo</b></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
<p> </p>
<p><b>Encontro 7 - Crônicas de São Paulo - Nossas Letras.</b></p>
<p>Por Erica Franco</p>
<p> </p>
<p>Começamos o encontro com poucos participantes pois, naquele dia, houve algum problema na Radial Leste, e isso atrasou a chegada dos oriundos da Zona Leste, a maioria.</p>
<p></p>
<p>Este encontro foi dedicado à leitura e à correção compartilhadas da primeira versão das segundas produções de crônicas, sob o tema ‘a cidade no tempo’. Cinco delas foram lidas; e os demais entregaram durante a semana e foram lidas conjuntamente, com os demais colegas, no oitavo encontro.</p>
<p></p>
<p>Como, no sexto encontro, mencionamos que a crônica é um gênero que é bem aderente aos demais, foi interessante ver como os participantes aproveitaram isto bem em suas crônicas. Segue aqui uma análise das crônicas lidas neste encontro e que enviamos por e-mail para os participantes:</p>
<p></p>
<p><i>“A Maria Cecília usufruiu bem o gênero jornalístico para mostrar como o tempo foi alterando o espaço, o tema de sua crônica é o bairro do Tatuapé. Então, para falar do passado dele, ela usou relato de antigos moradores, o que lembra um pouco reportagem, e para falar como está o bairro atualmente, ela usou a descrição, lembrando notícias da parte de cotidiano do jornal. Ficou bem interessante esse jogo entre reportagem e notícia para contar um pouco sobre a história do bairro.</i></p>
<p><i>A Grasiele escreveu uma crônica mais memorialística, organizou, no texto, o presente e passado, comparando como era o comércio da Rua Anita Garibaldi na sua infância com o atual. Mesmo tendo um tom pessoal e poético, ela faz a gente pensar o quanto essa alteração no tipo de comércio é um reflexo de uma mudança, ao longo do tempo, na sociedade como um todo.</i></p>
<p><i>A Fabíola também fez uma crônica com tom mais pessoal e memorial. E mostra para o leitor como, ao longo do tempo, o sentimento que ela tinha por São Paulo foi mudando; é mais uma mudança no tempo psicológico, o que também ficou bem interessante.</i></p>
<p><i>As crônicas do Danilo e da Maiara são tramas, tem enredo, nó e desenlace. São ações, o tempo da narrativa deles é curto, trata de um acontecimento. Elas ficaram muito lindas, super bem escritas, mas convidamos vocês dois a tentarem incluir na narrativa de vocês esse diálogo com o passado e o presente da cidade. “</i></p>
<p> </p>
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<p> </p>NOSSAS LETRAS - VI Encontro do módulo CRÔNICAS SOBRE SÃO PAULOtag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-11-18:3985749:BlogPost:363372016-11-18T15:16:15.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
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<p><b>Nossas letras- SESC Belenzinho</b></p>
<p><b>Crônicas sobre a cidade de São Paulo</b></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
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<p>Começamos o sexto encontro mencionando e discutindo as quatro crônicas que pedimos para serem lidas em casa entre os encontros anteriores. O objetivo foi discutir sobre as interpenetrações de tipos textuais e gêneros literários ( que nunca são <em>puros</em>) e como isso ocorre nas quatro crônicas. A de…</p>
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<p><b>Nossas letras- SESC Belenzinho</b></p>
<p><b>Crônicas sobre a cidade de São Paulo</b></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
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<p> </p>
<p>Começamos o sexto encontro mencionando e discutindo as quatro crônicas que pedimos para serem lidas em casa entre os encontros anteriores. O objetivo foi discutir sobre as interpenetrações de tipos textuais e gêneros literários ( que nunca são <em>puros</em>) e como isso ocorre nas quatro crônicas. A de Drummond, “Carta a uma senhora”, mescla-se ao gênero epistolar, além de usar a linguagem da propaganda; e do Duvivier, “Crônica de Raíz”, constroe-se pelo tipo textual argumentativo. “Brincadeira”, de Luis Fernando Veríssimo, é um drama, no qual os acontecimentos se organizam por meio de um diálogo e, enfim, a do Fernando Sabino, “A mulher do vizinho”, estrutura-se como uma anedota.</p>
<p></p>
<p>Na parte teórica do encontro, apresentamos os três elementos básicos dos gêneros a partir de Bakthin:</p>
<p></p>
<p>i. estrutura/ organização/ forma</p>
<p>ii. tema</p>
<p>iii. estilo do autor</p>
<p></p>
<p>Em seguida, analisamos o filme que assistimos no V encontro, “São Paulo S.A”, que nos remete ao neorrealismo italiano e o cinema novo brasileiro. A partir do eixo temático articulado entre atividade industrial, ações ilegais e angústia pessoal, Person é um dos primeiros cineastas a criticar o senso comum no qual a cidade de São Paulo seria a “locomotiva do Brasil”. Ele contrasta tal metáfora com a de homem-máquina, homem-série: engrenagem.</p>
<p></p>
<p>Os participantes deram muitas contribuições na análise do filme. Houve quem dissesse que, excetuando o lado misantropo do personagem Carlos, suas crises de consciência e sentimento de vazio causaram sentimento de empatia e identificação.</p>
<p></p>
<p>Também conversamos sobre o filme “Entre Rios”. Esse documentário apresenta o histórico das políticas de urbanização na cidade de São Paulo. Com as aspirações de ser a ‘Chicago’ da América Latina, uma cidade de grandes avenidas e arranha-céus, o asfalto soterra as várzeas, os leitos e os rios, para dar passagem aos prédios e carros. E, como consequência, temos uma cidade com sérios problemas de deslocamento, precarização habitacional e enchentes.</p>
<p></p>
<p>No entanto, apesar de falarmos muito do ônus de se viver em São Paulo, também lembramos que aqui é possível se proteger no anonimato. É um pouco como disse Dráuzio Varella, na crônica que lemos nesse dia: <i>“É a paisagem humana, o caldeirão de negros, brancos, mulatos e orientais, senhoras de roupas recatadas, meninos com o boné virado para trás, homens de gravata, casais que se beijam na boca no meio dos transeuntes, mulheres sedutoras, homossexuais de mãos dadas, camelôs, bêbados, travestis, putas, entregadores de pizza e a legião de motoqueiros que zumbe entre nossos carros atolados no asfalto.”.</i></p>
<p></p>
<p>Depois disso fomos para o intervalo!</p>
<p></p>
<p>Na volta, fizemos a leitura compartilhada das crônicas “Perdizes”, do Antônio Prata; “São Paulo”, de Dráuzio Varella e “Os pensadores... do subúrbio”, do Sacolinha.</p>
<p></p>
<p>A 1ª tem a ver com a relação do eu-cronista e a cidade, e ela com o tempo: as transformações na paisagem, sua verticalização. Na segunda o cronista enfatiza o quanto o espaço da cidade o constitui. Já a do Sacolinha tem a ver com um fluxo de consciência disparado pela corriqueira notícia de que garotos da periferia foram assassinados pela polícia.</p>
<p></p>
<p>Os 2 primeiros textos dialogam diretamente com a cidade no tempo, cidade na história e como o cronista sente e se vê nesse tempo-espaço.</p>
<p></p>
<p>No fim do encontro, explicamos a proposta para a 2ª produção: “cidade no tempo”.</p>
<p></p>
<p>Segue a instrução enviada por e-mail:</p>
<p><i>“Queremos uma crônica que dialogue com o passado, mas que tenha como disparo algo do presente, como vimos no texto do Antonio Prata e Drauzio Varella (o dele foi o aniversário da cidade - acho que não comentamos isso em sala - vacilo nosso).</i></p>
<p></p>
<p><i>E vocês podem usufruir dos outros gêneros narrativos para compô-la como o conto, a anedota, a parábola, o drama, o poema, a memória, entre outros. A crônica do Sacolinha foi um exemplo de que algo do cotidiano pode levar a pensamentos, sensações in continuum, como se fossem um fluxo de consciência. Então, como foi explicado ontem, o tema é delimitado: SP no tempo, mas a estrutura/forma do texto e o estilo do autor são livres. Ah, outra coisa: crônica é um texto breve, portanto, uma página e meia, no máximo.</i></p>
<p></p>
<p></p>
<p><i>Lembrando mais uma vez, vocês podem entregar o texto até sexta, 18/11, pela manhã. Sintam-se livres para trocar e ler entre os amigos, como fizemos em sala. O texto que entregarem para nós será considerado como versão 1.</i></p>+ LEITURAS/ COMPLEMENTARES - Nossas Letras Crônicas sobre São Paulotag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-11-09:3985749:BlogPost:360822016-11-09T12:29:41.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<div>Por Renata Guerra e Erica Franco</div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5738">Caros, tudo bem? </div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5734"></div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5732"></div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5726">Sugerimos mais três leituras a fim de adiantarmos nossas discussões para o próximo encontro: …</div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5754"></div>
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<div>Por Renata Guerra e Erica Franco</div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5738">Caros, tudo bem? </div>
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<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5726">Sugerimos mais três leituras a fim de adiantarmos nossas discussões para o próximo encontro: </div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5754"></div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5758"><p dir="ltr" id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5757"><span>Perdizes</span><span>,</span> <span>Antonio Prata</span><span>.</span> <span id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5756">Publicada no</span> <span id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5760">Jornal O Estado de São Paulo</span> <span>em 04 de maio de 2009 e posteriormente na coletânea de crônicas</span> <span id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5762">Meio intelectual, meio de esquerda</span><span>, de Antonio Prata, da Editora 34, 2010. Disponível no link:</span> <a rel="nofollow" target="_blank" href="http://blogs.estadao.com.br/antonio-prata/perdizes-1/" id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5765" name="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5765"><span id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5764">http://blogs.estadao.com.br/ antonio-prata/perdizes-1/</span></a></p>
<p dir="ltr"></p>
<p dir="ltr" id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5769"><span>São Paulo,</span> <span>Drauzio Varella</span><span>.</span> <span>Publicada no</span> <span id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5768">Jornal Folha de São Paulo</span><span>, em 25 de abril de 2014. Disponível no link:</span> <a rel="nofollow" target="_blank" href="http://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/2014/01/1402836-sao-paulo.shtml" id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5772" name="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5772"><span id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5771">http://www1.folha.uol.com.br/ colunas/drauziovarella/2014/ 01/1402836-sao-paulo.shtml</span></a></p>
<p dir="ltr"></p>
<p dir="ltr" id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5775"><span>Os pensadores... do subúrbio</span><span>,</span> <span id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5774">Sacolinha. Disponível no link:</span> <span><a rel="nofollow" target="_blank" href="http://www.capao.com.br/abre_artigo.asp?id_artigo=346">http://www.capao.com.br/abre_ artigo.asp?id_artigo=346</a></span></p>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5777"></div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5781"></div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5785"><p dir="ltr" id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5784"><span>Uma outra São Paulo</span><span>,</span> <span>Marcelo Rubens Paiva. Publicada no</span> <span id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5783">Jornal O Estado de São Paulo</span><span>, em 26 de setembro de 2015. Disponível no link:</span> <span><a rel="nofollow" target="_blank" href="http://cultura.estadao.com.br/blogs/marcelo-rubens-paiva/uma-outra-sao-paulo/">http://cultura.estadao.com.br/ blogs/marcelo-rubens-paiva/ uma-outra-sao-paulo/</a></span></p>
<p dir="ltr"></p>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5807"></div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5809">É isso aí, a gente dá trabalho pra vocês, para que depois vocês deem trabalho pra gente.</div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5811"></div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5813">Beijos e boa semana a todos,</div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5815"> </div>
</div>
</div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5818"><div class="yiv8073713271m_-8879381505343176863gmail_signature" id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5817">Renata Guerra<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1478693876372_5824"> e Erica Franco</div>
</div>
</div>NOSSAS LETRAS - V Encontro de CRÔNICAS SOBRE SÃO PAULOtag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-11-08:3985749:BlogPost:361752016-11-08T03:55:18.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p><b> </b></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
<p> </p>
<p>Por Renata Guerra</p>
<p> </p>
<p>Começamos o encontro perguntando aos participantes se receberam e estavam de acordo com as recomendações que fizemos sobre os textos, enviadas por e-mail. Responderam, expondo as opiniões deles.</p>
<p></p>
<p>Levei alguns livros sobre meta ficção para exemplificar uma explicação que havia sido dada na semana anterior. Li alguns trechos e apontei o uso do discurso…</p>
<p><b> </b></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
<p> </p>
<p>Por Renata Guerra</p>
<p> </p>
<p>Começamos o encontro perguntando aos participantes se receberam e estavam de acordo com as recomendações que fizemos sobre os textos, enviadas por e-mail. Responderam, expondo as opiniões deles.</p>
<p></p>
<p>Levei alguns livros sobre meta ficção para exemplificar uma explicação que havia sido dada na semana anterior. Li alguns trechos e apontei o uso do discurso direto feito por uma escritora em particular: Lina Meruane, em “Sangue no olho”, romance publicado pela Cosac Naify.</p>
<p></p>
<p>Em seguida, quatro participantes leram suas crônicas para os colegas. Com o intuito de evitar alguns deslizes no futuro, apontamos para a turma algumas construções com problemas e o uso de certos termos que encontramos nestes quatro textos. </p>
<p></p>
<p>Após o intervalo, passamos o filme “São Paulo S/A”, de Luis Sergio Person, disponível no YB: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=ns-LPKhz_AE&t=2984s">https://www.youtube.com/watch?v=ns-LPKhz_AE&t=2984s</a>.</p>
<p></p>
<p></p>
<p>O encontro acabou antes do filme e, por isso, pedimos aos alunos que terminassem de assisti-lo em casa. Também foi sugerido que assistissem o curta “Entre Rios: a urbanização de São Paulo”, igualmente disponível no YB: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=Fwh-cZfWNIc&t=502s">https://www.youtube.com/watch?v=Fwh-cZfWNIc&t=502s</a>.</p>
<p></p>
<p>Finalmente, explicamos que, no próximo encontro, iriamos discutir os dois filmes, mais as quatro crônicas que foram enviadas por e-mail durante a última semana - alguns vieram cobrar o porquê não tínhamos discutido os textos até então. Também ficou combinado que a última versão da primeira crônica será lida no último dia da oficina.</p>
<p>Abs, </p>
<p>Renata</p>
<p> </p>Primeiros textos -Crônicas- comentadostag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-11-01:3985749:BlogPost:362482016-11-01T14:38:51.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p></p>
<p>Publicamos a primeira versão, ou esboço, das primeiras produções textuais do módulo Crônicas após conferências de grupo e nossos comentários individuais. Esta postagem serve como um raio x para que se perceba o trabalho do mediador do projeto, atento tanto às ideias do autor quanto à forma de expressá-las (técnicas de redação). </p>
<p> …</p>
<p></p>
<p></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p></p>
<p>Publicamos a primeira versão, ou esboço, das primeiras produções textuais do módulo Crônicas após conferências de grupo e nossos comentários individuais. Esta postagem serve como um raio x para que se perceba o trabalho do mediador do projeto, atento tanto às ideias do autor quanto à forma de expressá-las (técnicas de redação). </p>
<p> </p>
<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503304?profile=original" target="_self">Danilo_V1_revisado.docx</a></p>
<p></p>
<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503318?profile=original" target="_self">Fabiola.Ribeiro_V1_revisado.docx</a></p>
<p></p>
<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503478?profile=original" target="_self">Decio_Almeida_V1_revisado.docx</a></p>
<p></p>
<p></p>
<p>Crônica V1 Sem título <a>[1]</a> para que se </p>
<p>02:01 Oi. 02:02 Tá dormindo?</p>
<p>Tem dias que eu me sinto grata pelo modo silencioso, comigo desde os idos tempos do meu Nokia 5125. É verdade que ele sempre ficava no modo toque ou alto, e que cada plim plim 8 bit era motivo de excitação,<a>[2]</a> afinal, para enviar uma mensagem naquela época <a>[3]</a> o remetente gastava um real, e um real, naquela época, valia muito mais do que vale hoje. Assim<a>[4]</a> como as mensagens de texto.</p>
<p> </p>
<p>A loucura disso tudo é que deixar o celular no silencioso muitas vezes pode atrasar a leitura de uma mensagem que de vez em quando chega, fazendo com que a tentativa de contato se enfraqueça. Foi assim que hoje, lá pelas 09:00 da manhã, eu me peguei pensando nas possibilidades de respostas à pergunta que chegou sete horas antes: Tá dormindo?</p>
<p> </p>
<p>Achei engraçadinho responder que <a>[5]</a> “sim”, que mostraria preocupação em excesso responder “desculpa, só vi agora” e que “durante a semana é melhor tentar das 08:00 às 00:00” deixaria meu interesse no contato claro demais. Acabei não respondendo nada. <a>[6]</a> </p>
<p> </p>
<p>Essa besteira toda me fez lembrar quando dávamos e recebíamos toques: era preciso deixar chamar o bastante <a>[7]</a> para a ligação ficar registrada, mas não o suficiente para que a pessoa conseguisse atender. Esses toques também carregavam esse quê de não dito,<a>[8]</a> como as mensagens de madrugada… Mas as coisas precisam ser ditas e compreendidas, mesmo que só lidas no outro dia de manhã!</p>
<p> </p>
<p>O ponto é que minha pálpebra direita começou a tremer de uns tempos pra cá ao escutar meu telefone tocando, então eu resolvi deixar no silencioso quase que intermitentemente. Minha pálpebra direita não parou de tremer, mas mensagens recebidas na madrugada não atrapalham mais o meu sono - talvez tomem tempo demais de minhas manhãs. É preciso se proteger.</p>
<p> </p>
<p> </p>
<p> </p>
<p><b>Fernanda,</b></p>
<p> </p>
<p><b>Muito gostoso de ler sua crônica. O final é brilhante. Olé!!!!</b></p>
<p><b>Massssssss não falou de SP, então coloque alguma coisa na sua crônica que remeta à SP.</b></p>
<p> </p>
<p><b>Erica e Renata, 25/10</b></p>
<div><hr align="left" size="1" width="33%"/><div><div><p>Não há título ou o título é "sem título"?</p>
</div>
</div>
<div><div><p>Pt: Substituir a vírgula por ponto final .</p>
</div>
</div>
<div><div><p>V: Eliminar expressão repetida.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>S: Nesse período, há uma relação de adição, por isso melhor usar uma vírgula ao invés de ponto final.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>S: Eliminar o pronome.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>S: Você quer criar uma relação de alternância. Então tente reescrever este parágrafo, levando em conta que o "sim" e as outras mensagens maiores não ficaram claras.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>V: substituir por palavra mais adequada. Não sei se é uma expressão regional...</p>
</div>
</div>
<div><div><p>E: Boa construção! Foi uma frase bem expressiva</p>
<p></p>
<p></p>
<p></p>
<p>Maiara Rodrigues</p>
<p>Maiara_Rodrigues_V1</p>
<p align="center"><b>ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA AO PREFEITO COM CONSCIÊNCIA SOCIAL DEFEITUOSA</b><a>[1]</a> </p>
<p>Terça-feira à tarde, dia de <a>[2]</a> calor e muita fadiga após seis horas consecutivas de aula. Mesmo assim, resolvo ir caminhando<a>[3]</a> da faculdade até o terminal de ônibus, aguardo pacientemente na fila a chegada do busão, e, passados alguns ventos,<a>[4]</a> o transporte chega e eu me movo porta adentro <a>[5]</a> à procura de um lugar para sentar.</p>
<p>Após minutos de movimento, trânsito e calor escaldante, de espécimen que faz soar<a>[6]</a> até as entranhas, eu <a>[7]</a> avisto de longe um "cadeirante" <a>[8]</a> de aparência peculiar, e não menos interessante, dar sinal para o ônibus. O coletivo para, o cobrador sai de seu aposento e se ajeita para preparar as engenhocas do busão de modo a permitir<a>[9]</a> que o rapaz de cadeira (e não o rapaz da cadeira ou cadeirante) <a>[10]</a> entre. O moço se direciona cautelosamente até o seu local de direito e começa a alternar os movimentos entre fuçar o celular e assoar o nariz com um lenço, porém<a>[11]</a> com os dedos visivelmente atrofiados, o que torna qualquer ato difícil, árduo e fastigioso.</p>
<p>Depois de algum tempo de contemplação do rapaz de cadeira<a>[12]</a> , não demora muito para eu perceber que já o havia encontrado em algum lugar, e então me recordo de tê-lo visto andar pelos corredores da faculdade certa vez,<a>[13]</a> todavia<a>[14]</a> com cabelo totalmente diferente (pois naquela ocasião ele estava com o cabelo<a>[15]</a> tingido de loiro claríssimo).</p>
<p>Começo a devanear sobre as atividades que para mim exigem pouco sacrifício<a>[16]</a> , mas que para ele, com visível paralisia dos membros inferiores e superiores, exigem muito esforço, e logo penso no quanto estou diante de alguém com capacidade de enfrentamento surreal; um herói, eu diria. Um Super-Homem de Assim Falou Zaratustra.</p>
<p>De certo modo, me sinto mal por ter reclamado tanto do calor e de fadiga, mas então vejo que preciso descer no próximo ponto e direciono a minha atenção para o meu celular que vibra non-stop<a>[17]</a> .</p>
<p>Passadas algumas auroras, um perrengue ou outro e etapas de relatórios concluídas, glorifico a chegada da tão pré-felicidade-esperada<a>[18]</a> sexta-feira. Eis então que, em uma das minhas bisbilhotagens de três horas seguidas no Facebook, eu<a>[19]</a> me deparo com uma notícia sobre o atual <a>[20]</a> prefeito eleito da nossa cidade cosmopolita, cuja manchete diz que o político cometeu uma gafe ao chamar a instituição AACD de Associação de Crianças Defeituosas, e disse ainda que doaria o seu primeiro salário a essa entidade, como num ato de caridade às pessoas "defeituosas".<a>[21]</a> </p>
<p>Novamente, começo a devanear<a>[22]</a> sobre a notícia e me vejo ruminando<a>[23]</a> a deficiência de consciência social do prefeito eleito. Afinal, por que<a>[24]</a> é um ato de bondade doar um salário - equivalente<a>[25]</a> a uns poucos centésimos de toda a fortuna acumulada ao longo da vida por meio da exploração de escravos - a uma entidade cujo nome nem é lembrado? Por que isso não foi pensando antes das eleições, no iate de Miami, no banquete de farturas ou no estrato<a>[26]</a> da conta bancária? Aliás, quem é defeituoso? O cadeirante do ônibus, os pacientes da AACD ou o prefeito elitizado sem consciência social?</p>
<p>Talvez alguns ainda saibam a resposta. Ou não.</p>
<p> </p>
<p><b>Maiara, arrasou! Seu texto está coeso e coerente, só precisa pequenos ajustes. Eu adorei seu arremate.</b></p>
<p><b>Erica e Renata, 25/10</b></p>
<p> </p>
<div><hr align="left" size="1" width="33%"/><div><div><p align="left">E: Título muito bom. Irônico e com aliteração.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">V: evitar redundância</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">E: eu sintetizar os 3 verbos em 1: "caminho"</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">E: Gostei muito. Teve voz autoral.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">G: essa construção está arcaica. Ninguém fala assim. Numa crônica a coloquialidade é valorizada. Outra coisa: você mudou o tom: começou informal e nessa construção tornou-se formal demais.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">O: Este é o verbo suar? Ou o verbo o soar?</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">V: eliminar pronomes egóticos</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">V: é um sinônimo dicionarizado e não precisa vir entre aspas</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">E e V: Substituiria essa construção pela preposição "para".</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">S: O verbo tem que ser conjugado para o futuro, afinal o cadeirante vai entrar.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">C: O "porém" estabelece a relação lógica de oposição ou contradição, o que não é o caso. Nessa condição, a relação é de adição.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">E: acho que não precisa qualifica-lo mais uma vez.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">S: este trecho ficaria melhor entre pontos finais.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">V: ninguém usa "todavia". É formal demais.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">E: retiraria tudo isso e o parênteses.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">E e V: preste atenção nessa palavra, lembre da aula de campo semântico. Para você, seria esforço. Para ele, talvez, sacríficio.Fica melhor, se vc inverter esses termos.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">O: palavra estrangeira deve vir em itálico ou aspas. Eu prefiro itálico.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">E: adorei o neologismo.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">V: retirar pronome egótico.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">O atual não procede, porque atual é Haddad.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">E: A ideia está encadeado no texto como um todo. Porém, ela precisa ficar mais sintética. Trabalhe nela. Você pode fazer muito melhor.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">E: vamos sintetizar para apenas um elemento?</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">E: vamos sintetizar para apenas um elemento?</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">V: esse "por que" é desnecessário.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">V: "equivalente" talvez não seja a melhor palavra.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">O: bancário é com ...</p>
<p align="left"></p>
<p align="left"></p>
<p align="center">A PRIMEIRA CRÔNICA<a>[1]</a> </p>
<p align="center"> </p>
<p>Acordo cedo, muito cedo preocupada com a crônica que devo escrever<a>[2]</a> (a difícil e sedutora arte de escrever.)<a>[3]</a> </p>
<p>Passei dias anotando num caderno tudo o que via e sentia da cidade de São Paulo, foram folhas e folhas e a sensação de que eu<a>[4]</a> pouco reparava nos detalhes da cidade.<a>[5]</a> </p>
<p>Mesmo sem inspiração percebo <a>[6]</a> que eu posso escrever sobre o que eu <a>[7]</a> vejo e sinto, aqui mesmo do meu apartamento.</p>
<p>A cidade que diz que não dorme, está como que despertando de um sono mal dormido. <a>[8]</a> </p>
<p>Posso ouvir o forte ruído da grande marginal do Rio Tietê, que corta a cidade, bem perto de onde moro.</p>
<p>Sirenes anunciam a pressa das ambulâncias em abrir espaço no trânsito já muito lento (eu imagino a angústia de quem necessita do socorro.)<a>[9]</a> </p>
<p>Um helicóptero - com seu potente barulho - corta agilmente o céu, demonstrando a celeridade de quem pode passar por cima dos simples mortais.<a>[10]</a> </p>
<p>O som de um alarme de carro dispara subidamente<a>[11]</a> competindo com o barulho já existente.</p>
<p>Vou até a sacada onde posso ter uma vista panorâmica de parte do bairro onde eu moro. Vejo a cidade do alto do 15º andar.</p>
<p>A paisagem é cinzenta assim como as fachadas dos prédios.</p>
<p>Alguns prédios novos estão surgindo na paisagem<a>[12]</a> urbana e, aos poucos, vão tirando<a>[13]</a> a vista da i<a>[14]</a> greja da Penha, que se destaca no alto da colina. É a construção mais antiga do pedaço e mostra como era o tradicional bairro da zona leste.</p>
<p>De outra janela vejo parte da Serra da Cantareira bem ao longe. E também observo as luzes dos aviões que levantam vôo<a>[15]</a> saindo do aeroporto em várias direções.</p>
<p>Olho para<a>[16]</a> o céu e vejo o tempo bem fechado e o vento uivando alto avisa que deve chover em breve.</p>
<p>Ouço<a>[17]</a> os pássaros que moram no parque vizinho cantarem anunciando a chegada de mais um dia (eles não me deixam esquecer do meu sonho de ter uma pousada na Serra da Mantiqueira.)<a>[18]</a> </p>
<p>Uma forte chuva cai agora com fortes trovoadas e o tempo escurece de novo<a>[19]</a> como se estivesse anoitecendo.</p>
<p>Sinto sono e preguiça.</p>
<p>Volto para a cama e tento dormir novamente.</p>
<p>Relaxo, não me cobro mais.</p>
<p>Mais tarde devo acordar mais inspirada para escrever a minha crônica.</p>
<p> </p>
<p><b>Maria Cecília,</b></p>
<p><b>Texto muito criativo.</b></p>
<p><b>Gostei do título.</b></p>
<p><b>Apenas precisa arrumar os tempos verbais e substituir alguns verbos de percepção pela própria cena/acontecimento.</b></p>
<p><b>Erica e Renata, 25/10</b></p>
<div><hr align="left" size="1" width="33%"/><div><div><p>E: título estilístico. Faz uma intertextualidade com a crônica do Sabino.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>O tempo dos acontecimentos externos como o trânsito, a rua etc podem estar no presente, porque eles acontecem sempre, o que é chamado de tempo agnóstico. Já a ação de acordar e ter que escrever uma crônica é pontual, por isso é melhor colocar no passado. Porque vc já escreveu...</p>
</div>
</div>
<div><div><p>A frase cabe no texto, já que é um texto subjetivo.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>V: retirar o pronome egótico.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>C: O tempo está certo.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>C: Conjugar o verbo no passado</p>
</div>
</div>
<div><div><p>V: retirar o pronome egótico.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>E: construção lindíssima!</p>
</div>
</div>
<div><div><p>Tente deixar mais explícita a relação entre o barulho da sirene e o sentimento de compaixão que você tem por quem precisa dela. Que tal algo como "Sirenes anunciam a pressa das ambulâncias em abrir espaço no trânsito já muito lento, e daqui, imagino a angústia de quem necessita do socorro.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>P: Reescrever este parágrafo, tentando ser mais sintética. Pense na aula de campo semântico.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>O: Subitamente</p>
</div>
</div>
<div><div><p>V: observar que a mesma palavra apareceu pouco antes. Procurar outra.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>E: SUGESTÃO: tirar ou roubar?</p>
</div>
</div>
<div><div><p>O: Como é o nome da igreja, é em maiúsculo.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>O: a palavra voo perdeu o acento circunflexo na nova ortografia.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>P: Descreva com mais detalhes o céu e retire os verbos de percepção.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>S e V: Retire o verbo de percepção.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>P: não há necessidade dos parênteses. Você pode colocar aqui "e" e continuar a frase.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>Quando isso aconteceu antes?</p>
<p></p>
<p></p>
<p>SÃO PAULO EM DOIS TONS</p>
<p> Miriam Leirias</p>
<p> </p>
<p>Passo pela construção onde homens trabalham, cumprimento-os e eles retribuem amistosamente.</p>
<p>Um pensamento me atravessa: perdi o medo de passar por uma construção ou espaços onde ficam muitas pessoas do sexo masculino. Hoje já não tenho aquela juventude nem a beleza que pudesse ocasionar fiu,<a>[1]</a> fiu ou coisa parecida (como se a beleza ou a juventude fossem a causa de algum assédio).</p>
<p>Hoje sou mais corajosa. Converso com eles, puxo assunto.</p>
<p>Vou para o ponto do ônibus. Um ônibus está chegando ao ponto<a>[2]</a> , mas não espera a moça que sobe a ladeira fazendo um esforço para alcançá-lo. O motorista fazia<a>[3]</a> que ia esperá-la, mas foi embora.</p>
<p> - Filho de uma puta! Gritou a moça.</p>
<p>Alguém falou: - As putas já disseram que não geraram cafajestes iguais a estes ou como Temer. Nem as éguas. Este não é filho de éguas. Este não tem <b>mãe.</b></p>
<p>Foi o suficiente para instaurar um elo de comicidade.</p>
<p>Chego no meu destino <a>[4]</a> Largo São Francisco, onde vai acontecer a vivência Corpo Cartográfico. Mulheres de diferentes idades e segmentos sociais ocupam a praça. C<a>[5]</a> onstroem uma cartografia sensível dos afetos e trajetos percorridos até chegarem ali. Usam seus corpos, seus<a>[6]</a> desejos e medos <a>[7]</a> desenham, escrevem, compartilham. Já não estão sós.</p>
<p>Outro tom:</p>
<p>Na mesma semana vou pegar o ônibus. Chuva, chuva e tome chuva. Escurece. <a>[8]</a> Trânsito emperrado. Não tenho como chegar. Volto. Não há iluminação nas casas nem nas ruas. Entro no único lugar que tem luz, um supermercado, procuro velas para comprar. Esgotaram os estoques. (Como vou ler o Mayombe do Pepetela? E aquela lamparina que tenho a <a>[9]</a> mais de vinte anos sem uso? Precisa de querosene). Comprei o querosene.</p>
<p>Devorei o Pepetela naquela noite. Ficou o prazer <a>[10]</a> e a fuligem da lamparina.</p>
<p> </p>
<p><b>Miriam,</b></p>
<p><b>Gostei bastante do seu texto. Ele mostrou como a vida é caótica em SP.</b></p>
<p><b>Uma cidade <i>high tech</i>, mas que às vezes pede luz da lamparina.</b></p>
<p><b>A construção dos tempos na sua narrativa foi primorosa.</b></p>
<p><b>Erica e Renata, 25/10.</b></p>
<p> </p>
<p> </p>
<p> </p>
<div><hr align="left" size="1" width="33%"/><div><div><p align="left">Pt: não há necessidade de vírgula aqui. A expressão é "fiu fiu"</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">V: redundante, já falou no ponto.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">C: O tempo foi concluído, por isso precisa ser "fez". O fazia dá a ideia de continuidade mesmo no passado.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">Pt: falta colocar o : , que sinaliza explicação.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">C e S: o ponto final cortou a sequência das ações. talvez seja melhor usar a conjunção 'e'.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">V: retiraria o pronome repetido, já que você não colocou na frente de "medos".</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">S: faltou um "e" aqui.</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">SUGESTÃO; não escurece antes de chover???</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">O: Não é "a" e sim "há".Conjugação do verbo "haver", de "faz tanto tempo"</p>
</div>
</div>
<div><div><p align="left">S: O prazer se refere à lamparina ou à leitura? Desfazer ambiguidade.</p>
<p align="left"></p>
<p align="left"></p>
<p>AINDA VERDES SOBREVIVENTES</p>
<p>Minhas raízes profundas atravessam ruas e sem que percebam sobem por esses paredões onde tentam me enjaular e as poucas sementes lançadas pelo vento vingaram. Já mostram sua cor no alto dos prédios.<a>[1]</a> </p>
<p>Pessoas passam, o movimento é intenso, e cada um tem seu ritmo. Algumas vão, mas<a>[2]</a> voltam, outras vão e há os que costumeiramente param por aqui, mas no geral, não me olham.</p>
<p>Sou cúmplice de casos de amor e de dor, de encontros e despedidas, de sonhos e de desilusões, de lutas diárias e guerras perdidas.</p>
<p>Sobrevivente, plantada num pequeno pedaço de terra, fui crescendo e fica <a>[3]</a> difícil me equilibrar.</p>
<p>A sede só sacio <a>[4]</a> quando chove. Adubo? Nem pensar. </p>
<p>Impassível, enfrento grandes agressões. Querem registrar sobre meu corpo,<a>[5]</a> sentimento dos tempos, tatuam grosseiramente corações com iniciais que eu desconheço. Eles não sabem, mas sangro, isso também acontece quando meus galhos são arrancados, eles são<a>[6]</a> braços que saúdam a quem me olhar<a>[7]</a> .</p>
<p>Aqui, solidão não existe, apenas alguns momentos silenciosos, que muitas vezes são interrompidos por alguém que grita, querendo ser ouvido. Eu me assusto!</p>
<p>Dia desses, jogaram pelos <a>[8]</a> meus galhos blusas e um cobertor. Mesmo não cheirando bem eu me vi feliz. Será que fui merecedora de decoração de Natal?</p>
<p>Mas que nada! Os dias foram passando e aqueles panos fedidos apodreceram sobre mim.</p>
<p>Assisto a tudo e sinto demais, a vida pulsa em cada folha.</p>
<p> </p>
<p>Neideci 21/102016</p>
<p> </p>
<p><b>Neide, texto lindíssimo! Com belas imagens poéticas. No entanto, faltaram referências para saber que a árvore fica numa rua de SP.</b></p>
<p><b>Quanto ao tempo do texto, discutiremos isso em sala.</b></p>
<p><b>Erica e Renata, 25/10</b></p>
<div><hr align="left" size="1" width="33%"/><div><div><p>S: Esta construção está confusa. Deu para entender que a árvore começa pela raiz, fixa, e termina nas sementes, que se soltam. Essa imagem é muito bonita, mas precisa ficar mais clara nesses dois períodos destacados.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>E: ficaria melhor a ideia de adição do que a ideia de oposição. Dá mais fluidez à construção. A repetição do vão e voltam fica bonita no texto.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>C: esse tempo está problemático. Porque ele sai do gerúndio e não estabelece relação de paralelismo.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>E: Aliteração!</p>
</div>
</div>
<div><div><p>Pt: não há vírgula aqui. Vc está separando verbo do complemento.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>E: SUGESTÃO: tiraria o "eles são" e deixaria a metáfora mais fluida.</p>
</div>
</div>
<div><div><p>E: Personificação! Figura de liguagem!</p>
</div>
</div>
<div><div><p>V: Já que a ideia é agasalhar, não seria melhor colocar a preposição "sobre"?</p>
<p></p>
<p></p>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
<p></p>
<p></p>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>
</div>Nossas Letras/ Crônicas: BIBLIOGRAFIA DE APOIOtag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-10-31:3985749:BlogPost:362442016-10-31T21:29:47.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p></p>
<p></p>
<p>ANDRADE, Carlos Drummond de. Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.</p>
<p></p>
<p>ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Melhores crônicas de Machado de Assis. São Paulo: Global, 2003.</p>
<p></p>
<p>BENDER, Flora; LAURINDO, Ilka. Crônica: história, teoria e prática. São Paulo: Editora Scipione, 1993.</p>
<p></p>
<p>BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas. 18. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.</p>
<p></p>
<p>CALIGARIS, Contardo. Quinta-coluna. São Paulo: Publifolha,…</p>
<p></p>
<p></p>
<p>ANDRADE, Carlos Drummond de. Prosa seleta. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2003.</p>
<p></p>
<p>ASSIS, Joaquim Maria Machado de. Melhores crônicas de Machado de Assis. São Paulo: Global, 2003.</p>
<p></p>
<p>BENDER, Flora; LAURINDO, Ilka. Crônica: história, teoria e prática. São Paulo: Editora Scipione, 1993.</p>
<p></p>
<p>BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas. 18. ed. Rio de Janeiro: Record, 2002.</p>
<p></p>
<p>CALIGARIS, Contardo. Quinta-coluna. São Paulo: Publifolha, 2008.</p>
<p></p>
<p>CONY, Carlos Heitor. O harém das bananeiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999.</p>
<p></p>
<p>FERNANDES, Millôr. Todo homem é minha caça. Rio de Janeiro: Record, 2005.</p>
<p></p>
<p>GARCÍA MÁRQUEZ, Gabriel. Crônicas: 1961-1984. Rio de Janeiro: Record, 2006.</p>
<p></p>
<p>JABOR, Arnaldo. Os canibais estão na sala de jantar. São Paulo: Siciliano, 1993.</p>
<p></p>
<p>LAJOLO, Marisa (Org.). Crônica na sala de aula: material de apoio ao professor. 2. ed. São Paulo: Itaú Cultural, 2004.</p>
<p>SÁ, Jorge de. A crônica. São Paulo: Editora Ática, 2008.</p>O que é crônica? Três cronistas tentam respondertag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-10-31:3985749:BlogPost:363272016-10-31T17:55:44.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p><a href="http://mais.uol.com.br/view/e0qbgxid79uv/o-que-e-cronica-tres-cronistas-tentam-responder-0402CD9A3566DCB95326?types=A&">http://mais.uol.com.br/view/e0qbgxid79uv/o-que-e-cronica-tres-cronistas-tentam-responder-0402CD9A3566DCB95326?types=A&</a>;)</p>
<p></p>
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<p><a href="http://mais.uol.com.br/view/e0qbgxid79uv/o-que-e-cronica-tres-cronistas-tentam-responder-0402CD9A3566DCB95326?types=A&">http://mais.uol.com.br/view/e0qbgxid79uv/o-que-e-cronica-tres-cronistas-tentam-responder-0402CD9A3566DCB95326?types=A&</a>;)</p>
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<p></p>NOSSAS LETRAS - IV Encontro do módulo CRÔNICAS SOBRE SÃO PAULOtag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-10-30:3985749:BlogPost:360702016-10-30T19:30:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p><b> </b></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p></p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
<p> </p>
<p></p>
<p>Começamos o encontro com uma justificativa: não havíamos enviado por e-mail as crônicas revisadas, porque não queríamos que eles fossem “contaminados” pelos nossos comentários antes de ouvir os dos colegas. Explicamos que enviaríamos depois da aula. Eles concordaram conosco.</p>
<p></p>
<p>Explicamos a dinâmica da aula, em que cada participante leria a própria crônica em voz alta para a…</p>
<p><b> </b></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p></p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
<p> </p>
<p></p>
<p>Começamos o encontro com uma justificativa: não havíamos enviado por e-mail as crônicas revisadas, porque não queríamos que eles fossem “contaminados” pelos nossos comentários antes de ouvir os dos colegas. Explicamos que enviaríamos depois da aula. Eles concordaram conosco.</p>
<p></p>
<p>Explicamos a dinâmica da aula, em que cada participante leria a própria crônica em voz alta para a turma e esta faria comentários a respeito do texto. Cada um teria, no máximo, 20 minutos para ler o próprio texto e ouvir os comentários a respeito da crônica. O mais interessante é que os alunos que não tinham ido ao encontro anterior estavam muito ansiosos para lerem seus textos, pois já tinham ficado sabendo da leitura entre as duplas.</p>
<p></p>
<p>A roda de leitura aconteceu de modo tranquilo e respeitoso entre os participantes, e tudo rolou naturalmente, tanto os elogios quanto as críticas. Apontamos problemas recorrentes nos textos: falta de paralelismo, termos redundantes, construções repetidas, períodos confusos e erros gramaticais. Apontamos as qualidades, como neologismos, frases bem construídas, montagem de cenas, sonoridade, metáforas e, principalmente, a voz autoral. No entanto, quatro participantes não tiveram tempo de ler suas crônicas, atividade que será retomada no início do próximo encontro.</p>
<p></p>
<p>De acordo com o plano, estava previsto uma explicação baseada no texto “Aos rés do chão”, de Antonio Candido, porém, percebemos que seu conteúdo já havia sido diluído nos outros encontros por meio de explicações indiretas (sem citação explícita do autor). Decidimos então apresentar este vídeo (<u><a href="http://mais.uol.com.br/view/e0qbgxid79uv/o-que-e-cronica-tres-cronistas-tentam-responder-0402CD9A3566DCB95326?types=A&">http://mais.uol.com.br/view/e0qbgxid79uv/o-que-e-cronica-tres-cronistas-tentam-responder-0402CD9A3566DCB95326?types=A&</a></u>) , síntese do que já havia sido dito e que termina com os três escritores falando a respeito do importante trabalho de edição. </p>
<p> </p>
<p><b>Atividade extra-aula:</b> Prometemos mandar, por e-mail, uma lista com as leituras da semana, bem como recomendamos que eles lessem crônicas dos jornais e prestassem atenção ao gênero em seu suporte de veiculação. E cobramos deles a versão final da crônica até o final da semana. </p>Nossas Letras/ Crônicas - indicações de leituras para o quinto encontrotag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-10-30:3985749:BlogPost:363232016-10-30T19:00:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12318"><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503740?profile=original" target="_self"><img class="align-full" src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503740?profile=RESIZE_1024x1024" width="750"></img></a> "Da fala para a escrita: atividades de retextualização", de Luis Antônio Marcuschi. </div>
<div>Boa tarde, </div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12327">Como a Érica havia prometido, envio a imagem anexa (acima),<span>o modelo de operações textuais-discursivas na passagem do texto oral para o texto escrito</span>,…</div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12318"><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503740?profile=original" target="_self"><img width="750" src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503740?profile=RESIZE_1024x1024" width="750" class="align-full"/></a> "Da fala para a escrita: atividades de retextualização", de Luis Antônio Marcuschi. </div>
<div>Boa tarde, </div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12327">Como a Érica havia prometido, envio a imagem anexa (acima),<span>o modelo de operações textuais-discursivas na passagem do texto oral para o texto escrito</span>, retirado do livro "Da fala para a escrita: atividades de retextualização", do prof. Luis Antônio Marcuschi. </div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12328"></div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12329"></div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12330">Abaixo, os links das crônicas que vocês terão que ler para a próxima aula. Também decidi indicar outros links, a título de leitura complementar.</div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12332"><div class="yiv5580720258m_-2783420964533073370gmail-m_-4612645601380741899gmail-m_3243527719985638160gmail-m_5631542014018955921gmail_signature" id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12331"></div>
<div class="yiv5580720258m_-2783420964533073370gmail-m_-4612645601380741899gmail-m_3243527719985638160gmail-m_5631542014018955921gmail_signature" id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12333"></div>
<div class="yiv5580720258m_-2783420964533073370gmail-m_-4612645601380741899gmail-m_3243527719985638160gmail-m_5631542014018955921gmail_signature" id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12336"><div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12335"><span>Carta a uma senhora</span><span id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12334">, Carlos Drummond de Andrade. Texto da coleção</span> <span>Para Gostar de Ler: Crônicas 5</span><span>, Editora Ática, 2005. Disponível no link:</span> <a rel="nofollow" target="_blank" href="http://praticandoaleitura.blogspot.com.br/2011/07/carta-uma-senhora.html" id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12338" name="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12338"><span id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12337">http://praticandoaleitura.blog spot.com.br/2011/07/carta-uma- senhora.html</span></a></div>
<p dir="ltr" id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12339"><span> </span></p>
<p dir="ltr" id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12341"><span>A mulher do vizinho</span><span>, Fernando Sabino</span><span>.</span> <span id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12340">Texto do livro</span> <span>Fernando Sabino - Obra Reunida</span> <span>- vol.01, Editora Nova Aguilar, 1996. Disponível no link:</span> <a rel="nofollow" target="_blank" href="http://www.releituras.com/fsabino_mulhervizinho.asp" id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12343" name="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12343"><span id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12342">http://www.releituras.com/fsab ino_mulhervizinho.asp</span></a></p>
<p dir="ltr" id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12344"><span> </span></p>
<p dir="ltr" id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12346"><span>Brincadeira</span><span>, Luis Fernando Veríssimo.</span> <span id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12345">As mentiras que os homens contam</span><span>, Objetiva, 2000. Disponível no link:</span> <a rel="nofollow" target="_blank" href="http://www.refletirpararefletir.com.br/4-cronicas-de-luis-fernando-verissimo" id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12348" name="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12348"><span id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12347">http://www.refletirpararefleti r.com.br/4-cronicas-de-luis-fe rnando-verissimo</span></a></p>
<p dir="ltr" id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12349"><span> </span></p>
<p dir="ltr"><span>Crônica de raiz</span><span>, Gregorio Duvivier</span><span>.</span> <span>Publicada no</span> <span>Jornal Folha de São Paulo</span><span>, em 18 de maio de 2015. Disponível no link:</span> <a rel="nofollow" target="_blank" href="http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2015/05/1630206-cronica-de-raiz.shtml"><span>http://www1.folha.uol.com.br/c olunas/gregorioduvivier/2015/0 5/1630206-cronica-de-raiz.shtm l</span></a></p>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12352"></div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12351">Além disso, deem uma olhada no jornal. Identifiquem a seção dos cronistas, estudem o gênero em seu suporte de veiculação. </div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12350"></div>
<div>Aqui, alguns links sobre literatura, teoria literária, crônicas e textos inéditos: </div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12371"><div><font face="arial, helvetica, sans-serif"> </font></div>
<div><font face="arial, helvetica, sans-serif"> </font></div>
<div><font face="arial, helvetica, sans-serif">Gosto muito das crônicas dessa mulher aqui. Ia indicar a "Ante Crônica", mas não está mais disponível, por isso, corram e leiam as que ainda dá para ler. Ela é portuguesa, então escreve em um registro diferente do nosso. </font></div>
<div><a rel="nofollow" target="_blank" href="http://www.revistapessoa.com/artigo.php?artigo=2152"><font face="arial, helvetica, sans-serif">http://www.revistapessoa.com/a rtigo.php?artigo=2152</font></a></div>
<div><font face="arial, helvetica, sans-serif"> </font></div>
<div><font face="arial, helvetica, sans-serif"> </font></div>
<div><div><font face="arial, helvetica, sans-serif">Gosto dos textos - memorialísticos - da Ana Luisa Escorel. Não todos, claro, mas gosto muito de "O tio". Mas para a oficina, selecionei este metalinguístico, sobre o ofício do escritor: </font></div>
<div><a rel="nofollow" target="_blank" href="http://ourosobreazul.com.br/blog/index.php/o-escritor/"><font face="arial, helvetica, sans-serif">http://ourosobreazul.com.br/bl og/index.php/o-escritor/</font></a></div>
</div>
<div><font face="arial, helvetica, sans-serif"> </font></div>
<div><font face="arial, helvetica, sans-serif">A revista pessoa é bem interessante, discute bastante literatura contemporânea, mas para acessá-la na íntegra </font><span>tem que pagar</span><span>.</span></div>
<div><div><a rel="nofollow" target="_blank" href="http://www.revistapessoa.com/artigo.php?artigo=2152">http://www.revistapessoa.com</a></div>
<div>O suplemento reúne crítica e textos inéditos, bem como boas entrevistas. </div>
<div><a rel="nofollow" target="_blank" href="http://www.suplementopernambuco.com.br/">http://www.suplementopernambuc o.com.br/</a></div>
</div>
<div>Aqui, cada dia da semana, um diferente autor, uma nova crônica. </div>
<div><a rel="nofollow" target="_blank" href="http://www.vidabreve.com/">http://www.vidabreve.com/</a></div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12373">E, por último, e não menos importante, um vídeo com a escritora Carola Saavedra, falando de sua relação com a escrita e leitura: <a rel="nofollow" target="_blank" href="https://www.youtube.com/watch?v=EpRZzpanwEk" id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12372" name="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12372">https://www.youtube.c om/watch?v=EpRZzpanwEk</a></div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12370"></div>
</div>
</div>
<div class="yiv5580720258m_-2783420964533073370gmail-m_-4612645601380741899gmail-m_3243527719985638160gmail-m_5631542014018955921gmail_signature" id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12360"><div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12362">Por enquanto é só! :)</div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12361">Boa semana a todos.</div>
<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12359">Abs,</div>
</div>
<div class="yiv5580720258m_-2783420964533073370gmail-m_-4612645601380741899gmail-m_3243527719985638160gmail-m_5631542014018955921gmail_signature" id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12358"><br/> Renata Guerra<div id="yui_3_16_0_ym19_1_1477853071741_12369"> e Erica Franco</div>
</div>
</div>NOSSAS LETRAS - III Encontro do módulo CRÔNICAS SOBRE SÃO PAULOtag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-10-30:3985749:BlogPost:363192016-10-30T01:00:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p><b> </b></p>
<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503708?profile=original" target="_self"><img class="align-full" height="312" src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503708?profile=RESIZE_1024x1024" width="744"></img></a></p>
<p></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
<p></p>
<p></p>
<p>Começamos o encontro perguntando quem havia lido “Bons dias”, de Machado de Assis, crônica mencionada no encontro anterior e que ficou como sugestão de leitura.</p>
<p>Em seguida, lemos a crônica “Dois entendidos”, de Fernando Sabino. Após a leitura, analisamos o…</p>
<p><b> </b></p>
<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503708?profile=original" target="_self"><img width="750" src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503708?profile=RESIZE_1024x1024" width="744" class="align-full" height="312"/></a></p>
<p></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
<p></p>
<p></p>
<p>Começamos o encontro perguntando quem havia lido “Bons dias”, de Machado de Assis, crônica mencionada no encontro anterior e que ficou como sugestão de leitura.</p>
<p>Em seguida, lemos a crônica “Dois entendidos”, de Fernando Sabino. Após a leitura, analisamos o quanto o cronista utiliza palavras correlatas que pertencem ao mesmo campo semântico para criar o tema da crônica: a disputa pelo saber. Os verbos ‘defrontar’, ‘recuperar [o terreno perdido]’ ‘respeitar’, ‘impedir’, além dos sentidos entre disputa bélica e futebolística.</p>
<p> </p>
<p>Da discussão sobre o campo semântico, apresentamos uma definição sobre coesão e coerência, que foram:</p>
<p>“<b>Coesão</b> é a conexão estabelecida entre as partes de um texto (palavras, períodos e parágrafos) por meio de conectivos - conjunções, pronomes, preposições, advérbios - e outros recursos linguísticos (sequência).</p>
<p>“<b>Coerência</b> é a estruturação lógica das ideias, que estabelece continuidade entre as sequências ou frases de um texto, conferindo um sentido unitário para o todo (conceito/ sentido).”</p>
<p>Também mostramos um exemplo duas frases para exemplificar quão difícil é entender um período não coeso:</p>
<p><i>Dia incandescente de sol. Ruas expostas ao calor. Corpos largados, sangue escuro, zumbido de insetos. Desolação.</i> (coesa)</p>
<p><i>O motorista parou o ônibus, pois o passageiro desceu. Portanto, ele andou e fez um cumprimento.</i> (não coesa)</p>
<p>Na lousa, também foi explicada a estrutura do parágrafo.</p>
<p>Entregamos aos participantes a ficha de leitura, uma folha de “avaliação”, adaptada por nós, que serviria para auxiliá-los na próxima atividade. Eles leram a ficha individualmente e em silêncio e perguntaram pela definição de alguns elementos que ficaram com dúvidas.</p>
<p> Após o intervalo, pedimos aos participantes para reunirem-se em duplas e um grupo de três. Cada um leu sua crônica para o colega, o ouvinte, que comentaria os pontos fortes e fracos do texto. Em seguida, este leu sua própria crônica e ouviu os comentários do outro. Essa dinâmica foi retirada do livro “A arte de ensinar a escrever bem”, de Lucy Calkins. Os participantes agiram conforme nossa orientação, discutindo o texto dos colegas. No final, perguntamos para eles o que havia chamado mais atenção no texto do colega, se haviam elementos comuns entre os textos, e elencamos algumas características que vimos passeando entre as duplas.</p>
<p> </p>
<p><b>Atividade de escrita</b></p>
<p>No final do encontro, pedimos para que eles fizessem uma segunda versão do texto, que seria entregue por e-mail. Ficou combinado o seguinte: a revisão da primeira versão só seria entregue quando recebêssemos a segunda versão da crônica.</p>
<p> </p>
<p>Abs!</p>
<p> </p>
<p> </p>
<p> </p>Nossas Letras/Crônicas: Dois Entendidos, de Fernando Sabinotag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-10-19:3985749:BlogPost:363122016-10-19T16:00:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p align="center"></p>
<p align="center" style="text-align: center;"><span style="color: #000000;"><font color="#BA231B" face="Arial" size="4">Leitura para o III Encontro</font></span></p>
<p align="center"></p>
<p align="center"></p>
<p align="center"><font color="#BA231B" face="Arial" size="4">Dois Entendidos</font></p>
<p align="center"></p>
<p align="right"><strong><font face="Arial" size="3">Fernando Sabino</font></strong></p>
<p align="justify"><font face="Verdana" size="2"><br></br> Dizem…</font></p>
<p align="center"></p>
<p align="center" style="text-align: center;"><span style="color: #000000;"><font face="Arial" size="4" color="#BA231B">Leitura para o III Encontro</font></span></p>
<p align="center"></p>
<p align="center"></p>
<p align="center"><font face="Arial" size="4" color="#BA231B">Dois Entendidos</font></p>
<p align="center"></p>
<p align="right"><strong><font face="Arial" size="3">Fernando Sabino</font></strong></p>
<p align="justify"><font face="Verdana" size="2"><br/> Dizem que tem uma memória extraordinária e sabe tudo sobre futebol. Suas lembranças desafiam contestação.<br/> <br/> Um dia, porém, viu-se numa reunião em que se achava outro com igual prestígio. E os dois acabaram se defrontando:<br/> <br/> — Você se lembra da primeira Copa Roca disputada no Brasil? - perguntou-lhe o outro.<br/> <br/> — Se me lembro.<br/> <br/> E disse o dia, o mês e o ano.<br/> <br/> — Fazia um calor danado.<br/> <br/> — Isso mesmo: um calor danado. Lembra-se da formação do time brasileiro?<br/> <br/> — Quem é que não se lembra?<br/> <br/> Cantou para o outro o time todo. O outro ia confirmando com a cabeça. Fez apenas uma ressalva quanto ao extrema-esquerda.<br/> <br/> — Eu sei: mas estou falando o time titular. Agora vou lhe dizer os reservas.<br/> Declamou a lista dos reservas, e sugeriu, por sua vez:<br/> <br/> — Você naturalmente se lembra da formação do time argentino.<br/> O outro embatucou: o time argentino? Não, isso ninguém era capaz de dizer.<br/> <br/> — Pois então tome lá.<br/> E recitou o time argentino. O outro, meio ressabiado, procurou recuperar o terreno perdido:<br/> <br/> — Para nomes não sou muito bom. Mas me lembro que o goleiro argentino segurou um pênalti. - Um pênalti mal cobrado, foi por isso: faltavam sete minutos para acabar o jogo.<br/> <br/> O outro, como que ocasionalmente, disse quem cobrara o pênalti, fazendo nova investida:<br/> <br/> — E lhe digo mais: o juiz apitou quinze "fouls" contra nós no primeiro tempo, dezessete contra eles. No segundo tempo...<br/> <br/> — Está aí; isso eu não sou capaz de garantir. Tudo mais sobre o jogo eu lhe digo. Aliás, sobre esse jogo, ou qualquer outro que você quiser, de 1929 para cá. Mas essa história de número de "fouls". . Como é que você sabe disso com tanta certeza?<br/> <br/> — Sei — tornou o outro, triunfante — porque fui o juiz da partida.<br/> Com essa ele não contava. O juiz da partida.<br/> <br/> — Como é mesmo o seu nome?<br/> Ficou a rolar na língua o nome do outro.<br/> <br/> — Você tinha algum apelido?<br/> O outro deu uma gargalhada:<br/> <br/> — Juiz, com apelido? Naquele tempo eu já me fazia respeitar.<br/> <br/> — Sei, sei — e ele sacudiu a cabeça, pensativo.<br/> <br/> — Engraçado, me lembro perfeitamente do juiz, não se parecia com você. Chamava-se... Espera aí: se não me falha a memória...<br/> <br/> — Ela costuma falhar, meu velho.<br/> Ao redor a expectativa dos circunstantes crescia, ante o duelo dos dois entendidos.<br/> <br/> —...o juiz era grande, pesadão, anulou um gol nosso, houve um começo de sururu...<br/> <br/> — Emagreci muito desde então. E anulei o gol porque já tinha apitado quando ele chutou. Houve realmente um ligeiro incidente, mas fiz valer minha autoridade e o jogo prosseguiu.<br/> <br/> — Você já tinha apitado...<br/> <br/> — Já tinha apitado.<br/> <br/> Os dois se olharam em silêncio.<br/> <br/> — Quer dizer que quem apitou aquele jogo foi você - recomeçou ele, intrigado.<br/> <br/> — Fui eu. E lhe digo mais: quando Fausto fez aquele gol de fora da área...<br/> <br/> — Já na prorrogação.<br/> <br/> — Na prorrogação: quiseram protestar dizendo que ele estava impedido...<br/> <br/> — Não estava impedido.<br/> <br/> — Eu sei que não estava. Tanto assim que não anulei. Mesmo porque, a regra naquele tempo era diferente.<br/> <br/> — Nem naquele tempo nem hoje nem nunca aquilo seria impedimento. Se o juiz me anula aquele gol...<br/> <br/> —...teria que anular também o primeiro gol dos argentinos...<br/> <br/> —...que foi feito exatamente nas mesmas condições.<br/> <br/> Calaram-se um instante, medindo forças. Mas o outro teve a infelicidade de acrescentar:<br/> <br/> — Mesmo que o bandeirinha tivesse assinalado...<br/> Ele saltou de súbito, brandindo o dedo no ar:<br/> <br/> — Já sei! isso mesmo! Você não foi juiz coisa nenhuma! Você era o bandeirinha! Me lembro muito bem de você: era mais gordo mesmo, todo agitadinho, corria se requebrando... Tinha o apelido de Zuzú.<br/> <br/> O outro não teve forças para negar e se rendeu à memória do adversário. Mesmo porque, encafifado, fazia uma cara de Zuzú.</font></p>
<p align="justify"></p>
<div><font face="Verdana" size="2"> ***</font></div>
<p></p>
<p><em><font face="Verdana" size="2"><br/></font> <font face="Verdana" size="2">A Companheira de Viagem</font><font face="Verdana" size="2">, Editora do Autor - Rio de Janeiro, 1965, p.60.</font></em></p>
<p></p>
<p><em><font face="Verdana" size="2">fonte: <a href="http://www.releituras.com/fsabino_doisentendidos.asp">http://www.releituras.com/fsabino_doisentendidos.asp</a></font></em></p>
<p></p>
<p><em><font face="Verdana" size="2">Boa leitura!!</font></em></p>
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<p><em><font face="Verdana" size="2">Karen Kahn</font></em></p>
<p><em><font face="Verdana" size="2">Coordenadora do projeto Nossas Letras - SESC Belenzinho </font></em></p>
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<p></p>NOSSAS LETRAS - II Encontro do módulo CRÔNICAS SOBRE SÃO PAULOtag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-10-15:3985749:BlogPost:361682016-10-15T01:00:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p><b> </b></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
<p> </p>
<p>No começo do encontro, os participantes contaram um pouco como foi a experiência de alimentar o diário. De certo modo, o exercício de anotar as impressões do cotidiano sensibilizou o olhar de todos para os detalhes do dia a dia.</p>
<p> Após a conversa, partimos para a leitura da “Última crônica”, de Fernando Sabino. Nela o cronista narra um dia de pouca inspiração. O que escrever? Sobre…</p>
<p><b> </b></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
<p> </p>
<p>No começo do encontro, os participantes contaram um pouco como foi a experiência de alimentar o diário. De certo modo, o exercício de anotar as impressões do cotidiano sensibilizou o olhar de todos para os detalhes do dia a dia.</p>
<p> Após a conversa, partimos para a leitura da “Última crônica”, de Fernando Sabino. Nela o cronista narra um dia de pouca inspiração. O que escrever? Sobre o quê? E quando o cronista já está a ponto de desistir, encontra uma cena que o comove, que lhe arranca da mesmice e o inflama de súbito. E enfim, ele escreve a última crônica.</p>
<p>E terminamos a leitura compartilhada.</p>
<p>A recepção à crônica teve ressalvas. Algumas participantes questionaram o léxico do cronista. Confesso que a mim também incomodou um pouco. Fruto de uma linguagem historicamente racista, o adjetivo ‘negrinha’ hoje não é unânime como campo lexical positivo. Há controvérsias, e elas foram expostas no encontro. Discutimos sobre letramento racial, social, de gênero. Também falamos sobre o limite entre riso de um, e a ofensa ao outro. Foi uma rica discussão.</p>
<p>A continuar sobre São Paulo, e apresentar as diferentes cidades que há nela, escutamos: “Fim de semana no parque”, dos Racionais; “Gagá”, Filarmônica de Pasárgada e “Depressão Periférica”, do Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Criolo. Cada canção tem um eu-lírico em lugares específicos da cidade. O Brown fala do Parque São Domingos, Grajaú, da ponte para lá. Kiko, isolado em Guarulhos, lamenta ter perdido sua pequena para um da Vila Madalena. Já Pasárgada é amigo do rei, e vê do alto, da São João central, Rua Augusta, 25, tudo muito legal! Tem até quem queira ser empresário, astronauta, capitão. Mas já avisaram: “depois fica gagá, depois vai falecer, e a vida continua sem você.”</p>
<p>Mais uma vez a discussão foi brilhante: sobretudo as participantes mulheres, sempre atentas. A música de Brown e Kiko são ótimas, mas ressentem e caem naquele machismo que não desce mais pelas goelas. Sem deixar de apontar esse triste apesar insistente do machismo, concordamos com o poeta Kiko que São Paulo é mais que a Vila Madalena.</p>
<p> Há muito mais São Paulo para re-conhecer.</p>
<p>Fomos para o intervalo. Na volta, fizemos um breve panorama da história da crônica. Mostrei uma das cópias digitalizadas das crônicas de Fernão Lopes. E falamos da crônica no tempo, até sua ida ao jornal. Foi inevitável falar de Machado de Assis, lembrando que nossos grandes escritores também foram cronistas.</p>
<p> Para terminar o encontro, apresentamos a definição de crônica, dada pelo poeta e também cronista Carlos Drummond de Andrade:</p>
<p>“A crônica é fruto do jornal, onde aparece entre notícias efêmeras. Trata-se de um gênero literário que se caracteriza por estar perto do dia a dia, seja nos temas, ligados à vida cotidiana, seja na linguagem despojada e coloquial do jornalismo. Mais do que isso, surge inesperadamente como um instante de pausa para o leitor fatigado com a frieza da objetividade jornalística. De extensão limitada, essa pausa se caracteriza exatamente por ir contra as tendências fundamentais do meio em que aparece (...). Se a notícia deve ser sempre objetiva e impessoal, a crônica é subjetiva e pessoal. Se a linguagem jornalística deve ser precisa e enxuta, a crônica é impressionista e lírica. Se o jornalista deve ser metódico e claro, o cronista costuma escrever pelo método da conversa fiada, do assunto-puxa-assunto, estabelecendo uma atmosfera de intimidade com o leitor”. (DRUMMOND, 1999, p. 13).”</p>
<p> </p>
<p><b>Atividade de escrita</b></p>
<p>Ao final do encontro, pedimos para os participantes escreverem sua primeira crônica de São Paulo, baseados no diário de impressões. </p>
<p></p>NOSSAS LETRAS - I Encontro do módulo CRÔNICAS SOBRE SÃO PAULOtag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-10-11:3985749:BlogPost:363052016-10-11T19:30:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
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<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503268?profile=original" target="_self"><img class="align-full" height="358" src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503268?profile=original" width="282"></img></a></p>
<p>Casa das Rosas, <em>in</em> Av.Paulista de Carla Café</p>
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<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
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<p>Começamos o dia nos apresentando, em seguida os participantes também contaram um pouco de si.</p>
<p>Todos apresentados, nós perguntamos quais as expectativas deles em relação à oficina. Houve quem contou sobre…</p>
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<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503268?profile=original" target="_self"><img src="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503268?profile=original" width="282" class="align-full" height="358"/></a></p>
<p>Casa das Rosas, <em>in</em> Av.Paulista de Carla Café</p>
<p></p>
<p></p>
<p>Por Erica Franco e Renata Guerra</p>
<p>Coord. Karen Kahn</p>
<p></p>
<p>Começamos o dia nos apresentando, em seguida os participantes também contaram um pouco de si.</p>
<p>Todos apresentados, nós perguntamos quais as expectativas deles em relação à oficina. Houve quem contou sobre seu desejo de escrever, e muitos deles estavam curiosos em saber o que caracteriza a crônica. Avisamos, então, que as discussões sobre esse gênero, tão aberto, seriam desenvolvidas durante os encontros seguintes. Mas, para alimentar a curiosidade, adiantamos que um dos elementos marcantes da crônica é ficar evidenciado, no enunciado, o olhar do cronista, sem a preocupação de esconder o eu que narra.</p>
<p>E se o olhar do cronista é tão importante nas crônicas, nada melhor do que convidar os participantes a falarem um pouco mais de si. Então, perguntamos a eles: “De onde vocês são?”, “Vocês são de São Paulo?”</p>
<p>Muitos são de São Paulo, a maioria dos participantes é da Zona Leste. Há também aqueles que vieram de PE, RS e MG, e interior de SP.</p>
<p> A discussão foi boa: a pergunta, que tinha por objetivo apenas conhecer um pouco mais sobre os participantes, se ampliou e, espontaneamente, estávamos discutindo sobre o tema desse módulo: a cidade de São Paulo. Se perguntaram o que é São Paulo. Terra da oportunidade? Da poluição sonora? Do anonimato? Da memória? Do esquecimento? Solidão a milhão?</p>
<p> Alguns contaram suas histórias de conquistas, afetos em São Paulo.</p>
<p> E fomos para o intervalo.</p>
<p> Na volta, fizemos a leitura compartilhada da crônica “Paulista”, do Antônio Prata. A crônica descreve a visão do adolescente classe média que, no dia que seu time é campeão brasileira, se dá conta do quão paradoxal é essa cidade. Da euforia à distopia, na curta crônica.</p>
<p> E entendemos um pouco o que é essa voz do cronista, que apoia a tecitura narrativa.</p>
<p> Um pouco antes do final, todos os participantes escreveram uma frase, um pequeno verso, uma pequena rima ou uma ligeira estrofe sintetizando um pouco o que é a cidade de São Paulo, vista pela lente de cada um deles.</p>
<p> Aqui estão alguns desses olhares sobre São Paulo.</p>
<p> </p>
<p>***</p>
<p>“Quando ando por essa cidade, quantas vezes tropeço em buraco na calçada, mas sempre caio num canto, onde floresce uma flor qualquer, num espaço qualquer, desta cidade de São Paulo.”</p>
<p>***</p>
<p>“Amontoado de solidões que se cruzam em meio à monotonia e a pressa de fazer e ter, mas tão pouco de ser.”</p>
<p>***</p>
<p>“Céu e trevas tudo e nada eclética e conservadora, de ricos e pobres. Assim é São Paulo de ontem, hoje e amanhã. Porque o prazer e o sofrimento depende de quem vê.”</p>
<p> </p>
<p>***</p>
<p>“Entrei no metrô de São Paulo e percebi que (não) estava sozinha.”</p>
<p> </p>
<p>***</p>
<p>“São Paulo. A cidade que eu olho é a que eu vejo?</p>
<p>São Paulo. Ela é cinza, mas se você raspar tem cor.”</p>
<p> </p>
<p>***</p>
<p>“Lugares e deslugares para inventar o meu lugar, assim é São Paulo no corpo da gente.”</p>
<p> </p>
<p>***</p>
<p>“(A)ssidade da solidão ~ Lélio”</p>
<p> </p>
<p>***</p>
<p>“São Paulo é um bêbado mijando do viaduto do chá nos transeuntes, nos cachorros, nas bolsinhas girando, no churrasquinho grego, nos moradores de rua; São Paulo é um bêbado mijando em si mesmo.”</p>
<p> </p>
<p>***</p>
<p>“Misturados.</p>
<p>Travessões intercalados em vírgulas, aspas, reticências, pausas, exclamações e um punhado de interrogações, mas espero que nunca seja um ponto final.”</p>
<p>“São Paulo é céu cinza, chão cinza e gente colorida tentando brilhar.”</p>
<p> </p>
<p>***</p>
<p>“1. São Paulo, terra dos contrários: alegrias e tristezas, espantos e surpresas. Tudo numa terra só.”</p>
<p>2. São Paulo: lugar de todos. O mundo vive aqui.”</p>
<p> </p>
<p>***</p>
<p>“São Paulo é sentimento,</p>
<p>sentimisto, sentilento</p>
<p>e corre</p>
<p>na veiado paulistano</p>
<p>e no coração de quem</p>
<p>mais chegar”</p>
<p> </p>
<p>***</p>
<p>“Ela é assim...</p>
<p>Poesia e sons</p>
<p>Afetos e desafetos,</p>
<p>Ela é assim...</p>
<p>Encontros e Caminhos.</p>
<p>Um desatino</p>
<p>Paixão insana.</p>
<p>Ela é São Paulo”. </p>
<p> </p>
<p>***</p>
<p>“1. São Paulo, decifra-me ou te devoro</p>
<p>2. São Paulo, terra de gigante”</p>
<p> </p>
<p>***</p>
<p>“São Paulo esquizofrênica, bipolar, polaroid.”</p>
<p> </p>
<p>***</p>
<p>“São Paulo, a cidade onde mora os meus pés e me traz componentes para o meu coração voar pelo mundo.”</p>
<p> </p>
<p><b>Atividade de escrita</b></p>
<p>Ao final do encontro, pedimos para que os participantes fizessem um diário para anotarem impressões, percepções ou narrativas de eventos que tenham chamado a atenção deles durante a semana.</p>
<p></p>
<p style="text-align: center;">***</p>
<p></p>
<p></p>
<p>Algumas notas cosmopolitas para início de conversa e trocas em de <em>Crônicas sobre São Paulo</em>,oficina de escrita e leitura do Projeto Nossas Letras/ SESC Belenzinho, </p>
<p></p>
<p>“Quando ando por essa cidade, quantas vezes tropeço em buraco na calçada, mas sempre caio num canto, onde floresce uma flor qualquer, num espaço qualquer, desta cidade de São Paulo.”</p>
<p>Sueli Rocha</p>
<p></p>
<p>“Amontoado de solidões que se cruzam em meio à monotonia e a pressa de fazer e ter, mas tão pouco de ser.” Maiara Rodrigues</p>
<p></p>
<p>“Céu e trevas tudo e nada eclética e conservadora, de ricos e pobres. Assim é São Paulo de ontem, hoje e amanhã. Porque o prazer e o sofrimento depende de quem vê.”</p>
<p>Jovenize Prado</p>
<p></p>
<p>“Entrei no metrô de São Paulo e percebi que (não) estava sozinha.”</p>
<p>Lisi Kieling</p>
<p></p>
<p>“São Paulo. A cidade que eu olho é a que eu vejo? São Paulo. Ela é cinza, mas se você raspar tem cor.”</p>
<p>Décio</p>
<p></p>
<p>“Lugares e deslugares para inventar o meu lugar, assim é São Paulo no corpo da gente.”</p>
<p>Paulo Ricardo</p>
<p></p>
<p>“(A)ssidade da solidão ~ Lélio”</p>
<p>Vinícius</p>
<p></p>
<p>“São Paulo é um bêbado mijando do viaduto do chá nos transeuntes, nos cachorros, nas bolsinhas girando, no churrasquinho grego, nos moradores de rua; São Paulo é um bêbado mijando em si mesmo.”</p>
<p>Danilo Lago</p>
<p></p>
<p>“Misturados. Travessões intercalados em vírgulas, aspas, reticências, pausas, exclamações e um punhado de interrogações, mas esperoque nunca seja um ponto final.”</p>
<p>Grasiele Maia</p>
<p></p>
<p>“São Paulo é céu cinza, chão cinza e gente colorida tentando brilhar.”</p>
<p>Guilherme Belarmino</p>
<p></p>
<p>“1. São Paulo, terra dos contrários: alegrias e tristezas, espantos e surpresas. Tudo numa terra só.” 2. São Paulo: lugar de todos. O mundo vive aqui.”</p>
<p>Maria Cecília</p>
<p></p>
<p>“São Paulo é sentimento, sentimisto, sentilento e corre na veiado paulistano e no coração de quem mais chegar” Raquel Cruz</p>
<p></p>
<p>“Ela é assim... Poesia e sons Afetos e desafetos, Ela é assim... Encontros e Caminhos. Um desatino Paixão insana. Ela é São Paulo”.</p>
<p>Claudine Barbosa</p>
<p></p>
<p>“1. São Paulo, decifra-me ou te devoro</p>
<p>2. São Paulo, terra de gigante”</p>
<p>Valdeci</p>
<p></p>
<p>“São Paulo esquizofrênica, bipolar, polaroid”.</p>
<p>Miriam</p>
<p></p>
<p>“São Paulo, a cidade onde mora os meus pés e me traz componentes para o meu coração voar pelo mundo”.</p>
<p>Neideci</p>
<p></p>
<p></p>
<p>Bjks, </p>
<p>Karen</p>
<p></p>
<p></p>
<p></p>
<p></p>Nossas Letras /Cartas + Produções textuaistag:projetoescrevivendo.ning.com,2016-09-25:3985749:BlogPost:361662016-09-25T21:00:00.000ZKaren Kipnishttps://projetoescrevivendo.ning.com/profile/KarenKipnis
<p></p>
<p>+ Produções textuais dos participantes do módulo Cartas </p>
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<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502526?profile=original" target="_self">1.%20Amandha%20Cardoso%20%5BProdu%C3%A7%C3%A3o%201%5D.pdf</a></p>
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<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503145?profile=original" target="_self">4.%20Daniela%20Merino%20%5BProdu%C3%A7%C3%A3o%201%5D.pdf…</a></p>
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<p></p>
<p></p>
<p>+ Produções textuais dos participantes do módulo Cartas </p>
<p></p>
<p></p>
<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348502526?profile=original" target="_self">1.%20Amandha%20Cardoso%20%5BProdu%C3%A7%C3%A3o%201%5D.pdf</a></p>
<p></p>
<p></p>
<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503145?profile=original" target="_self">4.%20Daniela%20Merino%20%5BProdu%C3%A7%C3%A3o%201%5D.pdf</a></p>
<p></p>
<p></p>
<p><a href="http://storage.ning.com/topology/rest/1.0/file/get/3348503330?profile=original" target="_self">9.%20Jovenize%20Prado%20%5B2%C2%AA%20Carta%20%28Pedindo%20um%20conselho%29%5D.pdf</a></p>
<p></p>
<p></p>
<p style="text-align: center;">***</p>
<p></p>
<p></p>
<p align="left">São Paulo,</p>
<p align="left">Qualquer dia do inverno.</p>
<h1>pai,</h1>
<p>entrei no apartamento e não lembrava seu nome, ao que lhe perguntei e ele sorriu os dentões dentro dos lábios carnudos na face gorda respondendo animado, "Flávio, que nem você!", ao que eu ri da coisa, meu xará, os dois já tirando a roupa toda, ele ainda de camiseta, vergonha das banhas, ao que eu sento no sofá daquela casa simples, então ele começa, eu lhe arranco a peça que falta, eu quero vê-lo, estou ali para ver, e então fodemos. O quarto é contíguo à sala, uma kit net antiga, quarto andar de um prédio velho, o pé direito do térreo é mais alto, a janela, ampla, do lado a cama e, enquanto abro o preservativo, paro e vejo a tarde ensolarada, o dia lá fora, a cidade lá embaixo, eu nu e ele me esperando de bruços deitado, mas aquela vista, naquela situação, tudo tão novo, quem disse que é só trepar? , isso não existe, o paço da Luz na estação reformada, a rua, os outros prédios tão marcados quanto, um carrinho com a mãe empurrando e o neném passeando, lentos, lerdeza depois do almoço, trabalhadores correndo da sexta para o fim de semana, algumas crianças, será que dá pra me ver lá de baixo? , nós dois lá em cima, agora pelados na cama, eu lá dentro dele, os dois, nós dois, fodendo. O amor acontece na carne. Depois do frenesi, corpos extasiados, eu ainda levemente siderado, e ele afirma, com uma pergunta, mas afirma, se o poppers, o estimulante que eu trouxe e usei sozinho, se não é benzeno. A vida é veneno, penso, se não escolhemos a máscara que fatalmente usamos, restam outras saídas enquanto a vestimos à força, a minha ali nas minhas mãos, no vidrinho. Digo que não, que é "nitrato de alguma coisa", e emendo, "fosse benzina e a galera já tinha trocado" — afinal, sairia mais barato —, e ele lembra que "benzina só dá pra comprar se for gráfico", ao que pergunto me vestindo, meio lembrando, atordoado e satisfeito, contente e extasiado, "ah, a venda é proibida? Controlada, digo", e me justifico emendado: "não sabia". "É", ele confirma. "Então vou cheirar benzina pra descobrir se dá o mesmo barato", ele ri, já semivestido, grandes dentes de uma face reluzente e gorda à mostra, "Se tá dá um piripaque, cê tá ferrado!", eu terminando de amarrar os cadarços: "já estamos". Então vem um beijinho na face, curiosidade desfeita, abre-me à porta e, ufa, estou logo na cidade outra vez, a Prestes Maia, rua, ar novo, um catador vai na minha frente levando uns caixotes empilhados, bate numa parada de ônibus vazia, sem ninguém, derrubando tudo o que com esmero carregava, o ultrapasso, olho para trás, o vejo juntando, ele me olha nos olhos, um homem maduro, um sorriso banguela, faceiro, dobro a esquina, tô voltando pra casa, passo na frente de um prédio novo, placa de venda, estilo neoclássico, tem uma transex perguntando o preço pro corretor na rua, "são as últimas unidades!", ouço seu alerta, passo por passo decido se piso na sombra ou no sol, é inverno mas tá calor, estou flutuando, leve, sem sequer imaginar o estrangulamento no peito pela primeira vez sentido mais tarde nas horas que vem da noite, receio da morte, a lembrança de que um coração vivo dói, estrangulamento e dor, é o meu coração no lugar da máscara, trocada pelo veneno, depois passa, depois volta, e eu decido não fazer nada, passando na frente da polícia civil com aquele vidrinho maravilhoso no bolso pensando na desgraça de atraso desse país hipócrita, violento, regredido, infantilizado, imbecilizante, triste, idiota, cretino, eu tô voltando pra casa, encontro o Renezinho no caminho, a gente se pega de leve, conto a novidade, "tenho poppers, vem lá em casa", ele sorri, "olha que eu vou, hein", "depois a gente combina". Ficamos assim, São 14h, horário que normalmente chego no trabalho mas, hoje, o dia é de home office.</p>
<p align="left">Flávio</p>
<p></p>
<p></p>
<p style="text-align: center;">***</p>
<p></p>
<p></p>
<p class="Standard">Olá Bukowski, tudo bem?</p>
<p class="Standard"> </p>
<p class="Standard">Espero que essa carta não chegue em meio a uma ressaca, essa nossa amiga indesejável de muitas manhãs que insiste em nos cobrar um preço alto pelas poucas horas de diversão com outra de nossas companheiras: a bebida. Ainda vamos morrer entre essas duas forças femininas, afinal, se elas nos dominam durante a vida, porque não fariam isso na morte.</p>
<p class="Standard">A manhã esta fria e cinzenta, uma coisa rara de acontecer aqui em São Paulo, pois nossos invernos cada vez mais parecem verões, com aqueles dias claros e azuis e quentes que acabam com a melancolia inerente a todo escritor.</p>
<p class="Standard">Imagino, na sua sinceridade, você olhando para essa carta e imaginando que merda é essa que esse cara esta escrevendo, e porque pra mim? O que esse cara quer comigo?</p>
<p class="Standard">Eu explico:</p>
<p class="Standard">Te vejo parado em um pier ao lado de um grande barco, com velas imensas amarradas como um cachorro bravo, tensas, esperando a liberdade para brigar com a natureza e mostrar sua força. Nessa luta desigual sabemos quem perde. As costuras, como cicatrizes, marcam os anos e deixam claro que morrer lutando não é opção, e sim destino.</p>
<p class="Standard">Nesse grande navio vejo muitas pessoas trabalhando. Os carregadores trazendo as caixas de alimento que vão servir de alimento para a tripulação e para os ratos. Ouço o barulho dos martelos, o rufar das pancadas consertando as partes quebradas e reforçando aquelas mais fracas. Uma sinfonia de barulhos, uns gritando, outros cantando canções tristes de abandono e solidão que só quem já esteve no mar por longos períodos sabe como entoar.</p>
<p class="Standard">E você ali, parado na beirada, olhando.</p>
<p class="Standard">Seu navio. Sua construção. Seus personagens.</p>
<p class="Standard">Obedecem aos seus desejos e vão na direção que você escolhe, mesmo que esse caminho leve ao desconhecido, sem saber quais desafios enfrentarão. Não existirão motins nem reclamações, pois você é senhor e Deus de tudo e de todos.</p>
<p class="Standard">Esse é o objetivo dessa carta. Peço humildemente, como um marujo de primeira viagem, que você me mostre como construir um navio desse porte, como alimentar as velas para que elas sejam psicopatas e enfrentem a fúria dos ventos quando todos recuam ou abraçar essa fúria e navegar mais veloz, abrindo caminho para lugares inexplorados.</p>
<p class="Standard"> Não espero tratamento privilegiado nem palavras mansas, pois a vida no mar não é assim. Ela é de luta, de pequenas vitórias e grandes frustrações. Por isso não me iludo quanto a natureza de suas lições. Como diz o ditado: os remédios mais amargos são sempre os melhores.</p>
<p class="Standard">“Então é isso”, posso ouvir você dizendo. Poderia até dizer que vejo um pequeno sorriso de canto de boca enquanto seu olhar se perde em direção ao mar durante um tempo até se voltar e se fixar em mim novamente. “Venha garoto, sua primeira lição não é aqui no barco. Você deve ir aonde todo marinheiro passa a maior parte do tempo quando não esta no mar.”</p>
<p class="Standard">Desculpe, Bukowski, por essa pequena licença poética.</p>
<p class="Standard">Me despeço aqui desejando que a bebida seja boa, a mulher quente, a ressaca leve e as palavras fluam como o vento de uma tempestade de verão.</p>
<p class="Standard">Prometo que o primeiro brinde da noite será em homenagem àqueles que dedicaram sua vida a navegar pelos mares da literatura.</p>
<p class="Standard"> </p>
<p class="Standard">Abraços</p>
<p class="Standard">Décio</p>
<p></p>
<p></p>
<p style="text-align: center;">***</p>
<p></p>
<p align="right">São Paulo, 25 de agosto de 2016</p>
<p>Querido amigo Pessoa,</p>
<p>Não saberia ao certo como começar, mas escolhi me comunicar a você por sermos tão próximo a tanto tempo. Faz tempo que não sei notícias suas e espero que me responda esta carta que escrevo com tanto carinho.</p>
<p>A pouco tempo atrás fui lhe visitar, mas você não estava, então continuei minha jornada para onde meu coração meu guiava, buscando conhecer cada vez mais sua terra natal. Fui para lhe pedir uma ajuda, um conselho, você com sua experiência mundana talvez pudesse me ajudar. Mas, como não tive resposta, decidi que seria melhor escrever.</p>
<p>Cresci muito desde que te conheci, não só com a aparência e idade, que seria bem obvio, mas também mentalmente. Creio que mudei meus planos e atualmente eu ando encaminhando minha vida para outro lado. Seria loucura reescrever minha história? Você como um bom escritor que sei que é logo me responderia que a vida deve ser reescrita inúmeras vezes. Existem inúmeros caminhos que posso percorrer, mas decidi ir para um diferente, um inusitado.</p>
<p>Minha paixão logo se iniciou quando ainda era criança, mal eu sabia que seria esta minha verdadeira vontade. Como criança acreditamos que tudo é real e que tudo pode ser alcançável, mas de acordo que fui crescendo percebi que a vida não é tão fácil e deixei meus sonhos de lado. Mas agora, adulta como aceito que sou, percebo que todos os sonhos podem ser palpáveis e acredito que você e seus aliados mentais, estaria dizendo seus companheiros de escrita, que são Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiros, podem me ajudar a trilha-lo.</p>
<p>Preciso de um conselho amigo Fernando, o que uma humilde pessoa como eu poderia fazer para alcançar a plenitude dos livros? Não aspiro sucesso, não aspiro luz e brilho, aspiro reconhecimento, escrita, folhas e conclusões. Você é um homem sábio, poderia me guiar para os meus desejos, poderia me ensinar a encontrar minha escrita, a fazer traduções e corrigir meus textos.</p>
<p>Preciso de uma ajuda para começar do zero, aquele empurrão inicial, o ponto de partida. Meu amigo, preciso do seu conselho para que eu chegue mais próximo dos meus sonhos, para acreditar que eles são realizáveis e que posso encontrar meu lugar no mundo.</p>
<p>Estou enviando esta carta com a certeza de que haverá uma resposta para podermos discutir sobre o assunto e também para saber como anda sua vida boemia em Lisboa. <br/> Estarei esperando,</p>
<p align="right">Sua eterna amiga,<br/> Fabiola Ribeiro</p>
<p align="right"></p>
<p align="right" style="text-align: center;">***<br/><br/><br/><br/></p>
<p> </p>
<p> São Paulo, 29 de agosto de 2016</p>
<p> </p>
<p>Querida amiga Márcia.</p>
<p>Tudo bem com você?</p>
<p> </p>
<p>Como gostaria que estivesse aqui na minha presença para que pudéssemos conversar como fazíamos tempos atrás.</p>
<p>Neste momento quero dividir com você minhas novas descobertas relativas ao meu nascimento.</p>
<p>Já te disse que tenho pensado neste assunto e, ultimamente se tornou mais necessário e urgente para mim.</p>
<p>Andei fazendo umas pesquisas em cartórios de São Paulo e tive acesso a uns dados que eu não conhecia.</p>
<p>Há tempos pergunto à minha mãe sobre o fato de os meus irmãos terem fotos de recém-nascidos e eu não.</p>
<p>Ela sempre foi arredia não querendo falar no assunto.</p>
<p>Na semana passada fui bastante incisiva e ela me disse que foi numa fase de grande dificuldade financeira, a máquina fotográfica estava com defeito, o conserto era caro e não podiam comprar uma nova.</p>
<p>Ao pesquisar mais e mais constatei o que eu já desconfiava: <b>fui adotada pelos meus pais.</b></p>
<p>Veja você como estou chocada ao me deparar com este fato aos 39 anos de idade!</p>
<p>Sinto um turbilhão de emoções que nem consigo te explicar.</p>
<p>Ontem voltei a falar com a minha mãe, agora com as provas que colhi. Inicialmente ela afirmava que não eram verdadeiras, depois, aos prantos - como eu nunca havia visto antes - ela me abraçou muito, e finalmente, confessou.</p>
<p>Disse que me amava muito, que queria me proteger, e que morria de medo de me perder.</p>
<p>Abraçadas, choramos muito, e eu lhe pedia para se acalmar vendo o pavor em seu rosto.</p>
<p>Deixei-a e voltei para minha casa. Cada passo me levava ao encontro de mim, agora meio perdida, com um nó na garganta e muitas perguntas: quem seriam os meus pais naturais? Estariam vivos? Teriam eles me abandonado? Por quê? Onde nasci? Como seria a minha vida se eu não tivesse sido adotada?</p>
<p>Quero as respostas para estas e outras tantas perguntas que irão surgir.</p>
<p>Penso no sofrimento de minha mãe (adotiva), dos meus pais ao longo dos anos, no quanto devia lhes custar este segredo.</p>
<p>Sinto amor por eles, mas também sinto raiva pela atitude de ambos, já que sempre me ensinaram que em todo relacionamento deve haver sinceridade. Como puderam agir assim comigo? Por que não me contaram?</p>
<p>Agora penso também na minha mãe biológica, em como deve ter sofrido por ter me deixado.</p>
<p>Mesmo me considerando uma pessoa muito madura e “bem resolvida” te confesso que saber que fui adotada me abalou profundamente, estou precisando ficar sozinha para pensar no que fazer agora.</p>
<p>Não posso mais raciocinar, estou muito confusa, preciso dormir - se é que eu conseguirei - para descansar.</p>
<p>Beijo,</p>
<p> </p>
<p> Maria Cecilia</p>
<p> </p>
<p style="text-align: center;"> ***</p>
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<p> </p>
<p> São Paulo, 30 de agosto de 2016</p>
<p> </p>
<p> </p>
<p>Bom dia amiga.</p>
<p> </p>
<p>Hoje estou mais calma.</p>
<p>Pretendo encontrar a minha mãe (adotiva) novamente, estou preocupada em tê-la deixado sozinha e assustada.</p>
<p>Quero dizer a ela o quanto foi fundamental na minha vida e que eu jamais a abandonaria. Que tenho uma gratidão eterna por ela e meu pai (já falecido) terem cuidado de mim. Pela noção de família que eu sempre recebi com exemplos de carinho, atenção, amor, afeto, cuidado, união, paciência, caráter, humildade, e que foi assim que me tornei gente.</p>
<p>Falarei também que eu quero saber das circunstâncias que levaram à minha adoção, afinal, trata-se da minha história.</p>
<p>Márcia, estou num dilema e gostaria que me ajudasse: <b>o que você faria no meu lugar? Procuraria os seus pais biológicos?</b></p>
<p>Devo ficar conformada e me tranquilizar considerando que eu poderia ter uma vida muito difícil se não tivesse sido adotada?</p>
<p>Amiga, sei que posso contar com você.</p>
<p>Aguardo o seu retorno.</p>
<p>Abraço forte,</p>
<p> </p>
<p>Maria Cecilia</p>
<p> </p>
<p> </p>
<p style="text-align: center;">***</p>
<p> </p>
<p> </p>
<p>Vó Basu:</p>
<p>Espero que esta a encontre muito bem gozando as delícias que merece, juntamente com todos os nossos, do outro lado.</p>
<p>O motivo desta é que prometi: Daria- lhe a voz que foi usurpada. Prometi, sim e não estou conseguindo cumprir o prometido.</p>
<p>Talvez fosse demasiado para mim. No meu desejo de justiça, na minha onipotência dos anos mais jovens, acreditei que pudesse. Não pude. Não tenho coragem de lhe dizer: Não consegui.</p>
<p>Não fui capaz de nem fazer ficção como pensei, para suprir, para marcar sua existência por estas bandas.</p>
<p>O que fiz: viajei aos lugares que possivelmente você andou, dancei e cantei cantigas que talvez você dançou, deliciei-me com comidas imaginando suas mãos a fazer, Falei de você pras pessoas mas ninguém, sabia de você.</p>
<p>O que fazer vó? Estou sem ânimo para prosseguir, não tenho dinheiro para continuar a pesquisar, me falta energia para pedir a amigos que corrijam o que já escrevi, não estou sabendo como dar forma, como organizar o já escrito. Vou deixando pra depois, e esse depois nunca chega.</p>
<p>Em uma tentativa para por os pés no chão. Pensei. Miráh se você não escreveu o livro que sonhou, faça pelo menos um com uma encadernação manual, com o material que você tem. Mas que material eu tenho? O que eu escrevi foi sobre a minha busca por você, pelo seu filho. Aliás, parti da necessidade de querer entender o meu pai seu filho, quando percebi que você não existia. Não tem foto, não tem documento, nem nome na certidão de seu filho. Deu um Nó, em mim, minha vó. Mas que você existiu, existiu. Se eu não escrever mais nada, há um conto que fiz em sua homenagem ou feminagem, como querem algumas feministas..</p>
<p>Não sei se gostou. Só que eu queria escrever seu livro e publicar. Não ficar só comigo. Você era uma negra? Foi retirada do seu convívio, de sua cultura e trazida para cá? Ou já nasceu aqui?Não sei nada de você. Por isso aquele modo distante, de quem guarda segredo de seu filho, meu pai. Num sonho você me disse: - Nem tudo foi dor. Amei. Dancei, tive meus momentos de alegria.</p>
<p>Mas eu quero saber mais. Quero dizer: Minha avó existiu. Ela nasceu em---------- Era filha de-----------. Era alegre ou tristonha. Mandona ou mais paciente. Bonita, alta ou de estatura mediana? Que qualidades você tinha e seus defeitos, eram muitos?</p>
<p>Vó estou querendo demais e talvez não seja o mais importante. Se for verdade aquela teoria que afirma serem as netas que trazem as marcas das avós, olhando para mim a reconheço. Você era bonita, inteligente, teimosa, tinha senso de justiça, o que lhe custou provavelmente alguns enroscos, Amou muito e foi amada, algumas vezes, por quem não queria. Dançou batendo o pé no chão e a saia voando no embalo do corpo. Sofreu, sofreu, sofreu, não conseguiram lhe tirar a dignidade nem a esperança. Nem sempre foi possível perdoar. Gostaria de vingar. Se não pelas suas mãos, por de outras. Assim, vó escrevo também para lhe vingar. Mas talvez a vingança que você deseja seja:</p>
<p>Não mais escravidão. Sua neta é livre. Livre com tudo o que acarreta esta palavra. Livre. Para você também ser. “ Não dá pra ser feliz sozinho” Disse o poeta.</p>
<p>Vó o que mais posso fazer para que o nosso sonho livro se torne livro livro?</p>
<p>Aguardo uma resposta sua com coração cheio de espera amorosa.</p>
<p>Um abraço de sua neta.</p>
<p> Miráh</p>
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<p>Sesc. Belemzinho, CARTAS – Miriam Leirias</p>
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<p>São Paulo, 28 de agosto de 2016.</p>
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<p>Querida amiga,</p>
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<p>“O rio São Francisco desce cantando uma cantiga tristonha, parece levar ao mar o sonho que a gente sonha” (AD)”</p>
<p>Ligia, minha companheira de viagem, há quanto tempo não tenho noticias suas? Como estás se sentindo em sua nova casa, nessa cidade tão tranquila e tão diferente do que estava habituada? Num desses dias de chuva fina, que somente essa cidade de São Paulo pode nos surpreender, estava revendo umas fotos antigas e encontrei um pequeno álbum da nossa viagem pelo Rio São Francisco. Na contra capa, deparei-me com o versinho acima, escrito por você e datado, as letras um pouco apagadas, foi difícil acreditar que já se passaram vinte anos.</p>
<p>Resolvi então, escrever essa carta para te fazer um convite, se é que posso chamar de convite, acredito que seria te propor um verdadeiro desafio. </p>
<p>Agora, que nossos filhos estão criados e independentes, é o momento certo para viajarmos novamente pelo rio, fazendo o mesmo percurso. Sairíamos de barco da cidade de Pirapora Minas Gerais até chegar na ponte Presidente Dutra que divide Petrolina e Juazeiro. Se ainda houver disposição estenderíamos até os Cânions do Xingó em Alagoas, lugar totalmente preservado, um santuário.</p>
<p>Lembra-se do nome da barca? Era Dorotéia, que deslizava mansamente pelas aguas do São Francisco, fazendo paradas nas cidades que ficam a margem: Januária, Xique-Xique, Remanso, Bom Jesus da Lapa, Pilão Arcádio, entre tantas outras. Aproveitávamos para conhecer cada uma delas e fazer o que mais gosto: fotografar. </p>
<p>Conservo ainda uma carranca toda esculpida em madeira que compramos de um talhador à margem do rio, dizia o artista que quanto mais “feia”, mais original, mais criativa e mais bela. </p>
<p>Com certeza, já não temos o mesmo ímpeto dos nossos vinte anos, em mergulhar no rio com a roupa do corpo, tão pouco virar noites cantando e dançando músicas de roda, dormir em redes, ou ainda sair correndo atrás da barca porque perdemos o horário da parada.</p>
<p>Estamos mais cautelosas, maduras e com olhar mais critico, mas refazer essa viagem para mim é um sonho, navegaremos pelas mesmas aguas do São Francisco, de beleza cativante. Teremos ainda, a oportunidade de ver a transposição do rio, de conviver com tanta gente de coração aberto, humilde, que tira do rio o seu sustento.</p>
<p>Fica aqui, minha querida amiga, o meu convite ou um desafio, para essa aventura.</p>
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<p>Sueli Rocha</p>
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