A despeito da fortuna que possuam, os bilionários brasileiros praticamente não doam obras para museus e não dão muita pelota para a comunidade.
Enquanto nos Estados Unidos é frequente a elite vincular seu sobrenome a iniciativas desse tipo (ontem, hoje e sempre), o Brasil do século 21 está na contramão dessa história.
Fundações privadas e familiares que possuem significativos acervos artísticos vira-e-mexe são mais mencionadas em páginas policiais do que nos cadernos de cultura dos jornais e revistas brasileiros.
Há exceções, mas se compararmos com o que ocorre em outros países, ficamos no chinelo.
Mesmo na Argentina, o Malba (Museu de Arte Latino-americana de Buenos Aires) deve sua existência e acervo ao financista Eduardo Costantini. Exibe por exemplo o "Abaporu" (1928), obra emblemática do moderninsmo brasileiro que Tarsila do Amaral pintou para presentear Oswald de Andrade. E isso ao lado de óleos e gravuras de artistas reconhecidos mundialmente, como Frida Khalo, Diego Rivera, Joaquín Torres-Garcia, Xul Solar, Pedro Figari, Antonio Berni, Candido Portinari, Lygia Clark etc.
Em São Paulo, hoje lutando contra a decadência e a gestões que foram ruinosas, e não pagavam sequer contas de luz, o MASP sente saudades do tempo em que Assis Chateaubriand trouxe Pietro Maria Bardi da Itália, no pós-Guerra, e encomendou seu prédio moderno, inaugurado em 1968, à arquiteta Lina Bo Bardi...
Por que os ricos brasileiros de hoje não doam nada para museus e nem mesmo para as cidades?Quem visita Chicago nota que todos os museus e institutos de cultura e ciência estão relacionados a empresários locais abastados. Entre eles, há o planetário Adler, o aquário Shedd, o museu Field de História Natural _esse último ligado na origem ao proprietário das lojas de departamento Marshall Field.
E mesmo dentro dos museus, o exemplo maior lá é o Instituto de Arte de Chicago, as obras de arte e os objetos preciosos em geral foram e são adquiridos graças à doações e a fortunas privadas.
SIM, HÁ UM MUSEU PRONTINHO!
Para reparar essa lacuna, bem que poderíamos pensar em criar um novo e pedagógico museu em São Paulo.
Aliás, ele já está pronto: fica na rua Gália, tem 4 mil metros quadrados e 10 mil valiosas peças de arte contemporânea, entre objetos, quadros, esculturas e até fotografias.
O prédio em si já foi avaliado em R$ 50 milhões, mas deve até valer mais que isso. O acervo vale outros R$ 40 milhões, por baixo.
O antigo dono, o banqueiro falido Edemar Cid Ferreira, foi condenado (por lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, gestão fraudulenta e por manter contas bancárias ilegais no exterior) a 21 anos de prisão em 2006, embora esteja livre, leve e soltinho por aí. Quando seu Banco Santos faliu, em 2004, ele deixou seus clientes, fornecedores, funcionários e o Estado a ver navios, mas não ficou muito tempo vendo o sol nascer quadrado.
Porque o Estado não desapropria essa mansão, indeniza a massa falida que pode dividir tal montante entre os lesados e, de quebra, não cria um museu de arte contemporânea?
Que tal transformar esse mausoléu pós-moderno _e erguido pelos expedientes malandros e com o dinheiro sujo desse ex-banqueiro exibicionista_ num espaço público duplamente pedagógico?
Foto Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Detalhe do interior da mansão que pertenceu ao banqueiro falido Edemar Cid Ferreira. Que tal criar lá um museu de arte contemporânea para São Paulo?
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Tags: blogdoturismo, discussão, mecenas, museus
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