Por Erica Franco e Renata Guerra
Publicamos a primeira versão, ou esboço, das primeiras produções textuais do módulo Crônicas após conferências de grupo e nossos comentários individuais. Esta postagem serve como um raio x para que se perceba o trabalho do mediador do projeto, atento tanto às ideias do autor quanto à forma de expressá-las (técnicas de redação).
Fabiola.Ribeiro_V1_revisado.docx
Decio_Almeida_V1_revisado.docx
Crônica V1 Sem título [1] para que se
02:01 Oi. 02:02 Tá dormindo?
Tem dias que eu me sinto grata pelo modo silencioso, comigo desde os idos tempos do meu Nokia 5125. É verdade que ele sempre ficava no modo toque ou alto, e que cada plim plim 8 bit era motivo de excitação,[2] afinal, para enviar uma mensagem naquela época [3] o remetente gastava um real, e um real, naquela época, valia muito mais do que vale hoje. Assim[4] como as mensagens de texto.
A loucura disso tudo é que deixar o celular no silencioso muitas vezes pode atrasar a leitura de uma mensagem que de vez em quando chega, fazendo com que a tentativa de contato se enfraqueça. Foi assim que hoje, lá pelas 09:00 da manhã, eu me peguei pensando nas possibilidades de respostas à pergunta que chegou sete horas antes: Tá dormindo?
Achei engraçadinho responder que [5] “sim”, que mostraria preocupação em excesso responder “desculpa, só vi agora” e que “durante a semana é melhor tentar das 08:00 às 00:00” deixaria meu interesse no contato claro demais. Acabei não respondendo nada. [6]
Essa besteira toda me fez lembrar quando dávamos e recebíamos toques: era preciso deixar chamar o bastante [7] para a ligação ficar registrada, mas não o suficiente para que a pessoa conseguisse atender. Esses toques também carregavam esse quê de não dito,[8] como as mensagens de madrugada… Mas as coisas precisam ser ditas e compreendidas, mesmo que só lidas no outro dia de manhã!
O ponto é que minha pálpebra direita começou a tremer de uns tempos pra cá ao escutar meu telefone tocando, então eu resolvi deixar no silencioso quase que intermitentemente. Minha pálpebra direita não parou de tremer, mas mensagens recebidas na madrugada não atrapalham mais o meu sono - talvez tomem tempo demais de minhas manhãs. É preciso se proteger.
Fernanda,
Muito gostoso de ler sua crônica. O final é brilhante. Olé!!!!
Massssssss não falou de SP, então coloque alguma coisa na sua crônica que remeta à SP.
Erica e Renata, 25/10
Não há título ou o título é "sem título"?
Pt: Substituir a vírgula por ponto final .
V: Eliminar expressão repetida.
S: Nesse período, há uma relação de adição, por isso melhor usar uma vírgula ao invés de ponto final.
S: Eliminar o pronome.
S: Você quer criar uma relação de alternância. Então tente reescrever este parágrafo, levando em conta que o "sim" e as outras mensagens maiores não ficaram claras.
V: substituir por palavra mais adequada. Não sei se é uma expressão regional...
E: Boa construção! Foi uma frase bem expressiva
Maiara Rodrigues
Maiara_Rodrigues_V1
ASSOCIAÇÃO DE ASSISTÊNCIA AO PREFEITO COM CONSCIÊNCIA SOCIAL DEFEITUOSA[1]
Terça-feira à tarde, dia de [2] calor e muita fadiga após seis horas consecutivas de aula. Mesmo assim, resolvo ir caminhando[3] da faculdade até o terminal de ônibus, aguardo pacientemente na fila a chegada do busão, e, passados alguns ventos,[4] o transporte chega e eu me movo porta adentro [5] à procura de um lugar para sentar.
Após minutos de movimento, trânsito e calor escaldante, de espécimen que faz soar[6] até as entranhas, eu [7] avisto de longe um "cadeirante" [8] de aparência peculiar, e não menos interessante, dar sinal para o ônibus. O coletivo para, o cobrador sai de seu aposento e se ajeita para preparar as engenhocas do busão de modo a permitir[9] que o rapaz de cadeira (e não o rapaz da cadeira ou cadeirante) [10] entre. O moço se direciona cautelosamente até o seu local de direito e começa a alternar os movimentos entre fuçar o celular e assoar o nariz com um lenço, porém[11] com os dedos visivelmente atrofiados, o que torna qualquer ato difícil, árduo e fastigioso.
Depois de algum tempo de contemplação do rapaz de cadeira[12] , não demora muito para eu perceber que já o havia encontrado em algum lugar, e então me recordo de tê-lo visto andar pelos corredores da faculdade certa vez,[13] todavia[14] com cabelo totalmente diferente (pois naquela ocasião ele estava com o cabelo[15] tingido de loiro claríssimo).
Começo a devanear sobre as atividades que para mim exigem pouco sacrifício[16] , mas que para ele, com visível paralisia dos membros inferiores e superiores, exigem muito esforço, e logo penso no quanto estou diante de alguém com capacidade de enfrentamento surreal; um herói, eu diria. Um Super-Homem de Assim Falou Zaratustra.
De certo modo, me sinto mal por ter reclamado tanto do calor e de fadiga, mas então vejo que preciso descer no próximo ponto e direciono a minha atenção para o meu celular que vibra non-stop[17] .
Passadas algumas auroras, um perrengue ou outro e etapas de relatórios concluídas, glorifico a chegada da tão pré-felicidade-esperada[18] sexta-feira. Eis então que, em uma das minhas bisbilhotagens de três horas seguidas no Facebook, eu[19] me deparo com uma notícia sobre o atual [20] prefeito eleito da nossa cidade cosmopolita, cuja manchete diz que o político cometeu uma gafe ao chamar a instituição AACD de Associação de Crianças Defeituosas, e disse ainda que doaria o seu primeiro salário a essa entidade, como num ato de caridade às pessoas "defeituosas".[21]
Novamente, começo a devanear[22] sobre a notícia e me vejo ruminando[23] a deficiência de consciência social do prefeito eleito. Afinal, por que[24] é um ato de bondade doar um salário - equivalente[25] a uns poucos centésimos de toda a fortuna acumulada ao longo da vida por meio da exploração de escravos - a uma entidade cujo nome nem é lembrado? Por que isso não foi pensando antes das eleições, no iate de Miami, no banquete de farturas ou no estrato[26] da conta bancária? Aliás, quem é defeituoso? O cadeirante do ônibus, os pacientes da AACD ou o prefeito elitizado sem consciência social?
Talvez alguns ainda saibam a resposta. Ou não.
Maiara, arrasou! Seu texto está coeso e coerente, só precisa pequenos ajustes. Eu adorei seu arremate.
Erica e Renata, 25/10
E: Título muito bom. Irônico e com aliteração.
V: evitar redundância
E: eu sintetizar os 3 verbos em 1: "caminho"
E: Gostei muito. Teve voz autoral.
G: essa construção está arcaica. Ninguém fala assim. Numa crônica a coloquialidade é valorizada. Outra coisa: você mudou o tom: começou informal e nessa construção tornou-se formal demais.
O: Este é o verbo suar? Ou o verbo o soar?
V: eliminar pronomes egóticos
V: é um sinônimo dicionarizado e não precisa vir entre aspas
E e V: Substituiria essa construção pela preposição "para".
S: O verbo tem que ser conjugado para o futuro, afinal o cadeirante vai entrar.
C: O "porém" estabelece a relação lógica de oposição ou contradição, o que não é o caso. Nessa condição, a relação é de adição.
E: acho que não precisa qualifica-lo mais uma vez.
S: este trecho ficaria melhor entre pontos finais.
V: ninguém usa "todavia". É formal demais.
E: retiraria tudo isso e o parênteses.
E e V: preste atenção nessa palavra, lembre da aula de campo semântico. Para você, seria esforço. Para ele, talvez, sacríficio.Fica melhor, se vc inverter esses termos.
O: palavra estrangeira deve vir em itálico ou aspas. Eu prefiro itálico.
E: adorei o neologismo.
V: retirar pronome egótico.
O atual não procede, porque atual é Haddad.
E: A ideia está encadeado no texto como um todo. Porém, ela precisa ficar mais sintética. Trabalhe nela. Você pode fazer muito melhor.
E: vamos sintetizar para apenas um elemento?
E: vamos sintetizar para apenas um elemento?
V: esse "por que" é desnecessário.
V: "equivalente" talvez não seja a melhor palavra.
O: bancário é com ...
A PRIMEIRA CRÔNICA[1]
Acordo cedo, muito cedo preocupada com a crônica que devo escrever[2] (a difícil e sedutora arte de escrever.)[3]
Passei dias anotando num caderno tudo o que via e sentia da cidade de São Paulo, foram folhas e folhas e a sensação de que eu[4] pouco reparava nos detalhes da cidade.[5]
Mesmo sem inspiração percebo [6] que eu posso escrever sobre o que eu [7] vejo e sinto, aqui mesmo do meu apartamento.
A cidade que diz que não dorme, está como que despertando de um sono mal dormido. [8]
Posso ouvir o forte ruído da grande marginal do Rio Tietê, que corta a cidade, bem perto de onde moro.
Sirenes anunciam a pressa das ambulâncias em abrir espaço no trânsito já muito lento (eu imagino a angústia de quem necessita do socorro.)[9]
Um helicóptero - com seu potente barulho - corta agilmente o céu, demonstrando a celeridade de quem pode passar por cima dos simples mortais.[10]
O som de um alarme de carro dispara subidamente[11] competindo com o barulho já existente.
Vou até a sacada onde posso ter uma vista panorâmica de parte do bairro onde eu moro. Vejo a cidade do alto do 15º andar.
A paisagem é cinzenta assim como as fachadas dos prédios.
Alguns prédios novos estão surgindo na paisagem[12] urbana e, aos poucos, vão tirando[13] a vista da i[14] greja da Penha, que se destaca no alto da colina. É a construção mais antiga do pedaço e mostra como era o tradicional bairro da zona leste.
De outra janela vejo parte da Serra da Cantareira bem ao longe. E também observo as luzes dos aviões que levantam vôo[15] saindo do aeroporto em várias direções.
Olho para[16] o céu e vejo o tempo bem fechado e o vento uivando alto avisa que deve chover em breve.
Ouço[17] os pássaros que moram no parque vizinho cantarem anunciando a chegada de mais um dia (eles não me deixam esquecer do meu sonho de ter uma pousada na Serra da Mantiqueira.)[18]
Uma forte chuva cai agora com fortes trovoadas e o tempo escurece de novo[19] como se estivesse anoitecendo.
Sinto sono e preguiça.
Volto para a cama e tento dormir novamente.
Relaxo, não me cobro mais.
Mais tarde devo acordar mais inspirada para escrever a minha crônica.
Maria Cecília,
Texto muito criativo.
Gostei do título.
Apenas precisa arrumar os tempos verbais e substituir alguns verbos de percepção pela própria cena/acontecimento.
Erica e Renata, 25/10
E: título estilístico. Faz uma intertextualidade com a crônica do Sabino.
O tempo dos acontecimentos externos como o trânsito, a rua etc podem estar no presente, porque eles acontecem sempre, o que é chamado de tempo agnóstico. Já a ação de acordar e ter que escrever uma crônica é pontual, por isso é melhor colocar no passado. Porque vc já escreveu...
A frase cabe no texto, já que é um texto subjetivo.
V: retirar o pronome egótico.
C: O tempo está certo.
C: Conjugar o verbo no passado
V: retirar o pronome egótico.
E: construção lindíssima!
Tente deixar mais explícita a relação entre o barulho da sirene e o sentimento de compaixão que você tem por quem precisa dela. Que tal algo como "Sirenes anunciam a pressa das ambulâncias em abrir espaço no trânsito já muito lento, e daqui, imagino a angústia de quem necessita do socorro.
P: Reescrever este parágrafo, tentando ser mais sintética. Pense na aula de campo semântico.
O: Subitamente
V: observar que a mesma palavra apareceu pouco antes. Procurar outra.
E: SUGESTÃO: tirar ou roubar?
O: Como é o nome da igreja, é em maiúsculo.
O: a palavra voo perdeu o acento circunflexo na nova ortografia.
P: Descreva com mais detalhes o céu e retire os verbos de percepção.
S e V: Retire o verbo de percepção.
P: não há necessidade dos parênteses. Você pode colocar aqui "e" e continuar a frase.
Quando isso aconteceu antes?
SÃO PAULO EM DOIS TONS
Miriam Leirias
Passo pela construção onde homens trabalham, cumprimento-os e eles retribuem amistosamente.
Um pensamento me atravessa: perdi o medo de passar por uma construção ou espaços onde ficam muitas pessoas do sexo masculino. Hoje já não tenho aquela juventude nem a beleza que pudesse ocasionar fiu,[1] fiu ou coisa parecida (como se a beleza ou a juventude fossem a causa de algum assédio).
Hoje sou mais corajosa. Converso com eles, puxo assunto.
Vou para o ponto do ônibus. Um ônibus está chegando ao ponto[2] , mas não espera a moça que sobe a ladeira fazendo um esforço para alcançá-lo. O motorista fazia[3] que ia esperá-la, mas foi embora.
- Filho de uma puta! Gritou a moça.
Alguém falou: - As putas já disseram que não geraram cafajestes iguais a estes ou como Temer. Nem as éguas. Este não é filho de éguas. Este não tem mãe.
Foi o suficiente para instaurar um elo de comicidade.
Chego no meu destino [4] Largo São Francisco, onde vai acontecer a vivência Corpo Cartográfico. Mulheres de diferentes idades e segmentos sociais ocupam a praça. C[5] onstroem uma cartografia sensível dos afetos e trajetos percorridos até chegarem ali. Usam seus corpos, seus[6] desejos e medos [7] desenham, escrevem, compartilham. Já não estão sós.
Outro tom:
Na mesma semana vou pegar o ônibus. Chuva, chuva e tome chuva. Escurece. [8] Trânsito emperrado. Não tenho como chegar. Volto. Não há iluminação nas casas nem nas ruas. Entro no único lugar que tem luz, um supermercado, procuro velas para comprar. Esgotaram os estoques. (Como vou ler o Mayombe do Pepetela? E aquela lamparina que tenho a [9] mais de vinte anos sem uso? Precisa de querosene). Comprei o querosene.
Devorei o Pepetela naquela noite. Ficou o prazer [10] e a fuligem da lamparina.
Miriam,
Gostei bastante do seu texto. Ele mostrou como a vida é caótica em SP.
Uma cidade high tech, mas que às vezes pede luz da lamparina.
A construção dos tempos na sua narrativa foi primorosa.
Erica e Renata, 25/10.
Pt: não há necessidade de vírgula aqui. A expressão é "fiu fiu"
V: redundante, já falou no ponto.
C: O tempo foi concluído, por isso precisa ser "fez". O fazia dá a ideia de continuidade mesmo no passado.
Pt: falta colocar o : , que sinaliza explicação.
C e S: o ponto final cortou a sequência das ações. talvez seja melhor usar a conjunção 'e'.
V: retiraria o pronome repetido, já que você não colocou na frente de "medos".
S: faltou um "e" aqui.
SUGESTÃO; não escurece antes de chover???
O: Não é "a" e sim "há".Conjugação do verbo "haver", de "faz tanto tempo"
S: O prazer se refere à lamparina ou à leitura? Desfazer ambiguidade.
AINDA VERDES SOBREVIVENTES
Minhas raízes profundas atravessam ruas e sem que percebam sobem por esses paredões onde tentam me enjaular e as poucas sementes lançadas pelo vento vingaram. Já mostram sua cor no alto dos prédios.[1]
Pessoas passam, o movimento é intenso, e cada um tem seu ritmo. Algumas vão, mas[2] voltam, outras vão e há os que costumeiramente param por aqui, mas no geral, não me olham.
Sou cúmplice de casos de amor e de dor, de encontros e despedidas, de sonhos e de desilusões, de lutas diárias e guerras perdidas.
Sobrevivente, plantada num pequeno pedaço de terra, fui crescendo e fica [3] difícil me equilibrar.
A sede só sacio [4] quando chove. Adubo? Nem pensar.
Impassível, enfrento grandes agressões. Querem registrar sobre meu corpo,[5] sentimento dos tempos, tatuam grosseiramente corações com iniciais que eu desconheço. Eles não sabem, mas sangro, isso também acontece quando meus galhos são arrancados, eles são[6] braços que saúdam a quem me olhar[7] .
Aqui, solidão não existe, apenas alguns momentos silenciosos, que muitas vezes são interrompidos por alguém que grita, querendo ser ouvido. Eu me assusto!
Dia desses, jogaram pelos [8] meus galhos blusas e um cobertor. Mesmo não cheirando bem eu me vi feliz. Será que fui merecedora de decoração de Natal?
Mas que nada! Os dias foram passando e aqueles panos fedidos apodreceram sobre mim.
Assisto a tudo e sinto demais, a vida pulsa em cada folha.
Neideci 21/102016
Neide, texto lindíssimo! Com belas imagens poéticas. No entanto, faltaram referências para saber que a árvore fica numa rua de SP.
Quanto ao tempo do texto, discutiremos isso em sala.
Erica e Renata, 25/10
S: Esta construção está confusa. Deu para entender que a árvore começa pela raiz, fixa, e termina nas sementes, que se soltam. Essa imagem é muito bonita, mas precisa ficar mais clara nesses dois períodos destacados.
E: ficaria melhor a ideia de adição do que a ideia de oposição. Dá mais fluidez à construção. A repetição do vão e voltam fica bonita no texto.
C: esse tempo está problemático. Porque ele sai do gerúndio e não estabelece relação de paralelismo.
E: Aliteração!
Pt: não há vírgula aqui. Vc está separando verbo do complemento.
E: SUGESTÃO: tiraria o "eles são" e deixaria a metáfora mais fluida.
E: Personificação! Figura de liguagem!
V: Já que a ideia é agasalhar, não seria melhor colocar a preposição "sobre"?
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