Projeto Escrevivendo

NOSSAS LETRAS - Texto Marlon/ Memórias & Historias

Por Marlon

...e terna lembrança

 

Pessoas com vestes elegantes, noite fria, uns cantavam, outros assistiam aos amadores da música, todos riam em algum momento. Crianças idosos jovens. Sozinhos ou acompanhados, tudo fluía com alegria.

Um olhar me chamou a atenção, era diferente de tudo o que observara até ali. Procurei-o algumas vezes, pareceu que ele também o fazia. Em dado momento, passou a se mostrar acompanhado de um sorriso lindo, espontâneo, vermelho, atraente.

Não imagino como estava o meu semblante, gostaria de ter esse poder, talvez para rir de mim mesmo. Aproximei. O seu nome me foi apresentado num tom de voz gostoso de ouvir. Ideias e histórias surgiam, enquanto nossos olhos disfarçadamente buscavam um ao outro, na tentativa de descobrir o que realmente estava sendo dito. Seus longos cabelos loiros eram constantemente penteados por suas mãos, sem o perceber. A conversa inicialmente cuidadosa, preocupada com deslizes, foi ficando espontânea e divertida. O sorriso charmoso dava lugar a risadas livres, daquelas em que se ri com o corpo todo. Meus olhos, que já não conseguiam disfarçar, foram enfeitiçados por ela.

Após dança, conversa, risos, tudo o que antecede o toque, esse aconteceu.

Uma vez que o milagre da visão havia cumprido sua missão, agora, estávamos por conta dos outros sentidos.

Deixaram de existir as pessoas, as músicas, as risadas, a cascata iluminada, a lua cheia, o frio. Tudo simplesmente desapareceu. O toque confirmou aquilo que o olhar denunciara. Ah, o desejo! Nossos corpos silenciaram a palavra e conversaram como que se estivessem dançando. Boca, braço, abraço, nesse jogo de exploração do mundo novo, o sorriso deu seu ar inúmeras vezes, já não era tão vermelho, ficava cada vez mais lindo.

As palavras voltavam, aos poucos, logo, davam lugar ao beijo. Ora intenso, ora sutil. O que acontecia em volta mantinha-se calado, deixando-nos donos da noite. Entre carícias, o silêncio dizia tudo o que se passava.

Lutamos ao máximo contra a inevitável despedida, ela veio.

O corpo não era o mesmo de algumas horas. Mais vivo, feliz, convidava o espírito a sorrir. As lembranças noturnas tomaram sua forma, essa noite existiu para ela. O sabor de quero mais dos românticos fantasiosos tomou meus pensamentos, minha memória e meus passos.

Uma palavra ou meia dúzia, quem sabe, para nomear o que aconteceu. Elas se recusaram, disseram que não seriam capazes. Talvez quisessem interceder ante uma ousadia vã de nomear o inominável.

A prazerosa sensação de não ter compreendido quase nada, perpetua-se no desejo de querer senti-la novamente, novamente, novamente.

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Tags: Akio, Eduardo, Karen, Kipnis, Letras, Nossas, SESC, Shoji, belenzinho, escrita, Mais...leitura, memória, oficina

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