Projeto Escrevivendo

Meu roteiro sentimental de São Paulo

A cidade em que nasci e cresci, começa para mim, em um pequeno Bairro da Zona Norte, chamado Pedra Branca.

Pouquíssimas pessoas sabem, que até o ano de 1896, ele foi uma fazenda cafeeira chamada Engenho da Pedra Branca, que foi desapropriada nesta mesma época, para instalação do Horto Botânico, hoje, conhecido como Parque Estadual Alberto Lofgren – Horto Florestal.

Parque em que vivi grande parte da minha vida, e visito até hoje, para ter um contato direto com a natureza e relembrar momentos da infância, em que brincava nas areias do parquinho, dava comida aos peixes do lago, via espécies como o macaco-prego, tucano, gambá, serelepe, tico-tico e garça.

Neste Bairro da Pedra Branca, passei toda a minha juventude, estudando em um colégio na frente de casa, localizado na Av. José da Rocha Viana, nº 44, que leva o nome do Poeta e Escritor Raul de Leoni, profissional de maior realce na última fase do Simbolismo, e considerado por muitos como uma das figuras mais notáveis do soneto brasileiro, de todos os tempos.

E, um fator interessante, que nem eu mesma tinha parado para pensar, até começar a escrever este texto, é que terminei o Ensino Médio em uma escola que leva o nome do nosso Jornalista, Poeta, Escritor e Advogado, estudado neste módulo do Escrevivendo, Guilherme de Almeida.

Mas a São Paulo que tanto amo é muito maior do que tudo isso, é para mim uma cidade de memórias e recordações afetivas, por todos os lugares por onde ando e conheço novas pessoas, que tanto acrescentam em minha vida.

Podia dizer que, começando na linha azul do metrô, desde o Tucuruvi até a estação Jabaquara, passando por algumas partes da linha vermelha e também da verde, existem caminhos e sentimentos espalhados por cada pedacinho desses lugares, mas, como em um texto apenas não caberiam tantas histórias, vou selecionar apenas alguns roteiros, que são os meus preferidos.

São Paulo é a cidade das artes, antenada, de vanguarda, são muitos os lugares maravilhosos que permeiam nossa capital.

Não tem como assistir a um concerto na Sala São Paulo e não se emocionar com aqueles magníficos músicos, conhecer o Museu da Língua Portuguesa e não ficar extasiado com exposições como a de Fernando Pessoa, Machado de Assis, Clarice Lispector, ou ir à Pinacoteca e não se apaixonar por tantas obras de arte.

Visitar as feiras da Liberdade, Praça da República, conferir o cardápio de uma das incríveis cantinas do Bixiga, na Bela Vista, que são de tirar o fôlego de qualquer um, com seu paladar requintado.

Apreciar a vista da cidade, de cima dos Edifícios Martinelli e Copan, visitar os bares e livrarias da Vila Madalena.

Ir aos cinemas do centro como o Marabá, conhecer o Mercado Municipal da Lapa, visitar o Teatro Municipal.

Observar a arquitetura de todos esses locais citados, sua história, música, arte, gastronomia, não tem preço.

Para mim, São Paulo é a cidade perfeita, para ilustrar a predileção, de gente de todos os cantos deste país, por esporte, cultura, lazer, religião, arte, entretenimento, sabores, cores e paisagens.

Realmente, aqui, é o lugar certo, para se conhecer uma parte de cada uma dessas diversas realidades, que estão presentes no dia a dia de cada ser humano.

Francine Ferreira de Souza

 

 

A amizade entre estranhos é o tema do novo filme de Jean Becker

 

Ao construir personagens humanos, de fácil identificação com o público, Becker cria um trabalho delicado e de profunda reflexão aos valores mais importantes da vida

 

Uma mistura de ternura, delicadeza, sensibilidade e inteligência fazem do filme “Minhas tardes com Margueritte” uma lição de vida inesquecível.

Germain é um cinquentão semi-analfabeto, que pelo conhecimento simplório, articula certas palavras com dificuldade e, apesar de rude no trato social cotidiano, é um ser humano extremamente afetuoso.

Fato que chama a atenção por ter sido sempre repreendido de forma humilhante pelo professor e seus colegas quando criança, cada vez que errava uma lição, e maltratado pela mãe, que nunca soube expressar seu afeto por ele até a morte.

Poético, com mensagens que não escapam facilmente, o filme mostra que além da leitura e do acesso ao conhecimento formal, generosidade e simplicidade são qualidades primordiais, que nunca saem de moda.

É uma história de um daqueles improváveis encontros, que podem mudar a sua vida, onde faz nascer uma amizade pura, entre a doce Margueritte, uma senhora apaixonada por livros, porém solitária que vive numa casa para idosos, e passa suas tardes num banco de uma praça lendo seus livros, e Germain, um homem maltratado pela vida, mas com um coração enorme.

Desses encontros que se tornam frequentes, surge essa bela amizade, uma celebração da vida, sobre a beleza e a profundidade que as relações humanas podem alcançar.

Retrata as diferenças, que mais do que atrair, complementam as pessoas, as belas e simples coisas da vida, o amor, a morte, a solidão, o abandono.

De forma sutil, é uma obra que faz acreditar que a vida vale a pena. Margueritte é uma senhora que não tem pressa de ensinar, saboreia cada momento ao lado de Germain, porque educar é provocar experiências inesquecíveis, despertar o interesse, levar a reflexão.

Ela diz que Germain, é um ótimo leitor, porque escuta atentamente a leitura com os olhos fechados, imaginando tudo, como as crianças que se acostumam com a leitura em voz alta.

Fala isso, porque entende que educar é antes de tudo, colocar amor e delicadeza no processo que forma os outros.

Lembrar-nos das coisas mais importantes da vida, aquelas que involuntariamente costumamos esquecer por estarmos ocupados demais com uma multidão de solicitações que recebemos diariamente, é a função de “Minhas Tardes com Margueritte”, que lapidou Germain como um diamante bruto, através da palavra, com a literatura, trouxe aquele “menino acuado”, que Germain trazia dentro de si, para uma realidade de luz, amor, generosidade e gratidão.

 

Francine Ferreira de Souza

 

Cantar é a minha praia

 

Numa manhã chuvosa de Domingo, ao som de violão e gaita, José Mariano da Silva, mais conhecido por seu nome artístico Di Mariano, se define como uma pessoa simples, que se comunica e se relaciona bem com todos.

Casado, pai de 6 filhos, 40 anos aproximadamente, diz “o artista nunca revela sua verdadeira idade é uma questão de ética”.

De família humilde do interior de Pernambuco, uma cidade chamada Sertânia de 15 mil habitantes na época, passou a infância ao lado de seus 4 irmãos do qual diz ser o mais velho dos homens.

- Foi uma infância saudável e feliz, meus pais trabalhavam para nos dar uma boa educação, meu pai trabalhava em uma indústria de algodão e minha mãe era professora primária, os dois tinham o dom de cantar e embora não cantassem profissionalmente se apresentavam em festinhas de amigos.

A vocação pela música foi percebida aos 8 anos, quando em uma festinha de final de ano viu seus colegas ao serem convidados pelos organizadores da festa subirem ao palco e cantar.

- As pessoas organizavam essas festas e convidavam as crianças para cantarem no palco, quem tinha coragem ia lá e cantava, eu como era mais tímido ficava observando, até que chegou o dia em que eu disse, vou lá também, e fui, incentivado pelos meus pais e não fiz feio não.

- Foi quando notaram, que eu tinha um pequeno futuro como cantor mirim e  passei a cantar em festas de aniversários, casamentos, músicas de Roberto Carlos e outros cantores.

- O dom eu sempre tive, a técnica é que a gente estuda e vai se aprimorando.

Aos 10 anos já cantava e tocava violão, com 12 aprendeu a compor e a fazer partituras.

Com 16 anos iniciou profissionalmente a carreira de cantor, cantando e tocando em bares, boates, restaurantes e festas.

Quando estava com 21, foi para Recife gravar o seu primeiro LP “A Musa” pela gravadora Evelin.

- O disco foi bem vendido, teve bastante repercussão, sendo bem tocado no Norte e Nordeste. Foi no tempo em que surgiu o Jerry Adriane, Caubi Peixoto, que eu até cantei com ele na minha cidade, inclusive eles trouxeram músicas minhas para gravar aqui em São Paulo.

Veio para São Paulo com o sonho de cantar profissionalmente, e continuar a ter o mesmo reconhecimento artístico já conquistado em Pernambuco, mas com as dificuldades que foram aparecendo parou de correr atrás, e começou a cantar só na noite, em bares e restaurantes, e shows não fez mais.

Autor de mais de 80 composições, suas músicas já foram gravadas por vários cantores como Eduardo França (Dudu França), que fez sucesso com uma música sua que repercutiu muito no Norte e Nordeste, e toca na rádio até hoje, chamada “Caso Sério”.

Atualmente canta com uma banda regional em Moema aos Sábados e as Quartas- Feiras em Pinheiros, onde canta músicas de sua autoria, de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Roberto Carlos e Nelson Gonçalves.

Di Mariano diz estar preparando um CD, que vai dar o que falar, “é um trabalho bem feito para ser divulgado e trabalhado. Eu tenho confiança em mim e no meu potencial vocal, e fé de que esse novo trabalho que vou lançar vai dar certo”.

Pretende viajar o Brasil fazendo shows, com o objetivo de voltar a ser reconhecido no meio artístico como já foi, é como ele mesmo diz “pretendo voltar e com força”.

 

Francine Ferreira de Souza.

 

 

 

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Tags: Oficina, crônicas, escrevivendo, escrita, leitura, roteiro, sentimental

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Comentário de Samia Schiller em 12 outubro 2011 às 9:48

A Francine é um ótima jornalista, não é?

Gosto especialmente da crítica do filme. Fiquei com urgência em ver esse filme.

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