Escrever.
Quando escrevo não sinto a falta do outro e nem a minha .
Pelas palavras escritas, costuro minha alma no meu corpo, e tenho como mostrar para o lado de fora o que vejo em relevos falantes, lá dentro .
Reafirmo meu contorno e posso reparar danos. Na minha poesia tenho espaço para andar e as palavras tem voz.
Voz de uma segunda alma que vive comigo, nasceu primeiro e sei que enxerga melhor, para isso, apenas devo despi-la .
Nem sempre consigo escrever com esta alma mais clara. Por frestas sopram ventos antigos que fazem voar minha historia, tristeza se torna minha cor e me falta olhos para a luz .
As perdas vão se somando, palavras crescem dentro de mim,
assim aos poucos mudo minha matéria e passo a ser mais porosa.
Esta existência temporal e finita é assinalada pelo meu corpo como um ponto em um final de frase. Minha alma que é flexível me aponta direções .
Estranho caminho que nutre a vida sei que vou deixar de existir, mas por meio de pontos, virgulas e pelo tempo que resta, posso começar outras histórias.
Estou com o cheiro da sua boca
na minha respiração.
Vem de dentro do pulmão,
de um pedaço de gengiva
ou da mistura antiga de saliva.
microconto
Tenho vontade de furar meus olhos
e esvaziar o que foi seu .
Solar 1967
Descobrimos juntas que de baixo do azul
o mar é verde amarelado .
Que o sol por baixo da água , anda .
Lá em baixo não é quieto , tem um ruido de maquina misteriosa,
e é difícil encostar a barriga na areia ,
mais fácil nadar como sereia .
Com os ombros vermelhos ,
ponta de dedos de papel crepom e
lábios de groselha,
vivemos os dias de calor ,
sem lição de casa .
Derrame
Vivo dentro de um abismo elástico
espaço quase silencioso de uma memória fria
sem pouso ou gravidade.
É perto do seu olhar que posso ouvir
as batidas sem ritmo do seu coração escuro.
É você que pode ver a cor de quem sofre.
Eu, não chego nunca ao chão.
Blog de Laura De Guglielmo
Neste lugar morno,
as almas se misturam pela boca
mesmo sem beijar .
Postado em 8 outubro 2009 às 20:00 — 1 Comentário