Antes de os alunos chegarem, deixei dois materiais sobre a mesa de cada um dos lugares a serem ocupados por eles: um envelope com um texto e um livro.
Os envelopes continham um fragmento de texto da "Modesta proposta para proteger os jovens dos produtos da poesia", do poeta e filósofo alemão Hans Magnus Enzensberger (confira o anexo). Essa passagem do ensaio mencionado nos serviu de epígrafe. A partir dela, demos início a uma discussão a respeito das cartas como uma prática social entendida predominantemente como "anacrônica" e, então, debatemos sobre o que é o contemporâneo e o que é ser contemporâneo.
Em seguida, apresentei à turma uma longa série de publicações nas quais as cartas ocupam lugar especial. Cada um deles pegava a obra que havia sido deixada junto com o envelope e a apresentava para a turma. Comentei essas obras uma a uma, com a promessa de trazer parte delas para as aulas e, ainda, elaborar uma lista de referência para que todos possam retomar contato com o que lhes interessou. Entre elas, a "Carta" de Pero Vaz de Caminha e a Carta ao pai de Franz Kafka, dentre outros volumes de correspondências, incluindo coletâneas como as Cartas extraordinárias de Shaun Usher.
Encerrada a apresentação dos livros, tivemos a oportunidade de nos apresentar uns aos outros, falando também das motivações que nos trouxeram ao curso. Essa iniciativa serviria de base para a primeira elaboração textual da turma, em que cada um dos alunos redigiria uma carta de apresentação endereçada a mim, falando de si e de seus interesses e expectativas referentes ao curso. Ao final dessa rodada, uma pausa para um café.
Retornamos do intervalo e fizemos uma leitura e discussão do quadrinho "Começa mais um dia", de André Dahmer. Emendamos esse momento com a canção "Parabolicamará", de Gilberto Gil, e as imagens de David Harvey presentes no livro A condição pós-moderna. (Confira os anexos.) O objetivo dessa parte era dar outra perspectiva à discussão do contemporâneo, desta vez com foco no processo de compressão do espaço-tempo, decorrente das revoluções técnico-científico-informacionais e da globalização. A turma ficou muito entusiasmada com os materiais, e protagonizou um debate que contribuiu para que pensássemos no mundo atual como um lugar altamente interligado e veloz, mas ao mesmo tempo desagregador e sufocante.
A fim de relacionar a noção de aceleração do tempo do mundo com a troca de correspondências, lemos uma carta de Virginia Woolf ao poeta John Lehmann, na qual, dentre outras coisas, ela menciona a correria do cotidiano como fator que influencia de maneira decisiva o modo como nos comunicamos com o outro, já na primeira metade do século XX.
Perto do encerramento da aula, propus a eles que me escrevessem uma carta de apresentação, desenvolvendo o que haviam dito em sala: quem são e o que esperam do curso. Aos que preferissem, pedi que me enviassem seu textos por e-mail ou... pelo Correio. E, sim, recebi duas cartas que chegaram até minha casa graças ao carteiro!
Referências do primeiro encontro:
Laion
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