Projeto Escrevivendo

NOSSAS LETRAS - II Encontro do módulo CRÔNICAS SOBRE SÃO PAULO

 

Por Erica Franco e Renata Guerra

Coord. Karen Kahn

 

No começo do encontro, os participantes contaram um pouco como foi a experiência de alimentar o diário. De certo modo, o exercício de anotar as impressões do cotidiano sensibilizou o olhar de todos para os detalhes do dia a dia.

                Após a conversa, partimos para a leitura da “Última crônica”, de Fernando Sabino. Nela o cronista narra um dia de pouca inspiração. O que escrever? Sobre o quê? E quando o cronista já está a ponto de desistir, encontra uma cena que o comove, que lhe arranca da mesmice e o inflama de súbito. E enfim, ele escreve a última crônica.

E terminamos a leitura compartilhada.

A recepção à crônica teve ressalvas. Algumas participantes questionaram o léxico do cronista. Confesso que a mim também incomodou um pouco. Fruto de uma linguagem historicamente racista, o adjetivo ‘negrinha’ hoje não é unânime como campo lexical positivo. Há controvérsias, e elas foram expostas no encontro. Discutimos sobre letramento racial, social, de gênero. Também falamos sobre o limite entre riso de um, e a ofensa ao outro. Foi uma rica discussão.

A continuar sobre São Paulo, e apresentar as diferentes cidades que há nela, escutamos: “Fim de semana no parque”, dos Racionais; “Gagá”, Filarmônica de Pasárgada e “Depressão Periférica”, do Kiko Dinucci, Rodrigo Campos e Criolo. Cada canção tem um eu-lírico em lugares específicos da cidade. O Brown fala do Parque São Domingos, Grajaú, da ponte para lá. Kiko, isolado em Guarulhos, lamenta ter perdido sua pequena para um da Vila Madalena. Já Pasárgada é amigo do rei, e vê do alto, da São João central, Rua Augusta, 25, tudo muito legal! Tem até quem queira ser empresário, astronauta, capitão. Mas já avisaram: “depois fica gagá, depois vai falecer, e a vida continua sem você.”

Mais uma vez a discussão foi brilhante: sobretudo as participantes mulheres, sempre atentas. A música de Brown e Kiko são ótimas, mas ressentem e caem naquele machismo que não desce mais pelas goelas. Sem deixar de apontar esse triste apesar insistente do machismo, concordamos com o poeta Kiko que São Paulo é mais que a Vila Madalena.

                Há muito mais São Paulo para re-conhecer.

Fomos para o intervalo. Na volta, fizemos um breve panorama da história da crônica. Mostrei uma das cópias digitalizadas das crônicas de Fernão Lopes. E falamos da crônica no tempo, até sua ida ao jornal. Foi inevitável falar de Machado de Assis, lembrando que nossos grandes escritores também foram cronistas.

                Para terminar o encontro, apresentamos a definição de crônica, dada pelo poeta e também cronista Carlos Drummond de Andrade:

“A crônica é fruto do jornal, onde aparece entre notícias efêmeras. Trata-se de um gênero literário que se caracteriza por estar perto do dia a dia, seja nos temas, ligados à vida cotidiana, seja na linguagem despojada e coloquial do jornalismo. Mais do que isso, surge inesperadamente como um instante de pausa para o leitor fatigado com a frieza da objetividade jornalística. De extensão limitada, essa pausa se caracteriza exatamente por ir contra as tendências fundamentais do meio em que aparece (...). Se a notícia deve ser sempre objetiva e impessoal, a crônica é subjetiva e pessoal. Se a linguagem jornalística deve ser precisa e enxuta, a crônica é impressionista e lírica. Se o jornalista deve ser metódico e claro, o cronista costuma escrever pelo método da conversa fiada, do assunto-puxa-assunto, estabelecendo uma atmosfera de intimidade com o leitor”. (DRUMMOND, 1999, p. 13).”

 

Atividade de escrita

Ao final do encontro, pedimos  para os participantes escreverem sua primeira crônica de São Paulo, baseados no diário de impressões. 

Exibições: 16

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