Projeto Escrevivendo

Nossas Letras III encontro Como falar de livros que não lemos?

Por Natanael Fernandes

Caros escreviventes,

No terceiro encontro, relembramos alguns momentos da aula passada como, por exemplo, o da troca de textos: prazeroso e produtivo para todos; e como é precioso podermos escrever sobre nossas experiências enquanto leitores-autores, garantindo a oficina,  ao mesmo tempo, espaço e leitores para nossas produções textuais.

Retomamos o conto de Guimarães Rosa, brevemente analisado no encontro anterior, e pedi para que cada um comentasse o texto e expusesse os sentimentos despertados quando de sua leitura.

Nesse momento, uma das participantes compartilhou conosco que, pela primeira vez, conseguiu compreender (ou, ao menos, sentir um pouco da música de) sua irmã, que sofre de esquizofrenia. Para ela, a leitura foi tão impactante que não conseguiu voltar mais ao texto...

Depois, colocou-se em discussão o famigerado "prazer do texto". Partindo de ideias de Piglia, Ruth Brandão e Barthes, discutiu-se sobre os desejos e os sentimentos que podem ser despertados tanto no ato de escrita quanto no ato de leitura.

Abaixo, dois trechos bastante singulares motivadores da discussão:

“A pessoa escreve sua vida quando crê escrever suas leituras. O crítico é aquele que encontra sua vida no interior dos textos que lê .​” Ricardo Piglia – Formas Breves.

“Apresentam-me um texto. Esse texto me enfara. Dir-se-ia que ele tagarela. A tagarelice do texto é apenas essa espuma de linguagem que se forma sob o efeito de uma simples necessidade de escritura.​ [...]​

                O senhor se dirige a mim para que eu o leia, mas para si nada mais sou que essa direção; não sou a seus olhos o substituto de nada, não tenho nenhuma figura (apenas a da   Mãe); não sou para si um corpo, nem sequer um objeto (isto pouco se me dá: não é a alma que reclama seu reconhecimento), mas apenas um campo, um vaso de expansão. Pode-se dizer que finalmente esse texto, o senhor o escreveu fora de qualquer fruição; e esse texto-tagarelice é em suma um texto frígido, como o é qualquer procura, antes que nela se forme o desejo, a neurose.​” Roland Barthes – O prazer do texto.

Durante o intervalo, os participantes receberam alguns poemas a serem lidos, porém sem a identificação de seus autores, para que pudéssemos discutir a fruição dos textos na segunda parte do encontro.

Para o entendimento do que seria um cânone literário, exibimos uma cena do filme Liberal Arts (Histórias de Amor) que aborda o embate entre cânone ou alta literatura e a baixa literatura. No seguimento, li um trecho de Alta literatura,  de Leyla Perrone-Moyses.

Na sequencia, cada um leu o poema que mais lhe tivesse tocado, ainda que sem o conhecimento sobre a autoria.As escolhas foram variadas e, sobretudo, muitos dos textos preferidos estavam fora do cânone, o que cumpriu com o objetivo da dinâmica: evidenciar que o gosto perpassa um cânone estabelecido por certos sujeitos sociais....e isto não é um "problema".

 

Dessa forma, encerramos o encontro com a sugestão de que, em casa, pesquisassem sobre os autores e suas obras, para que tomassem conhecimento de seu lugar no campo literário.

 

 Finalmente,recolhi, os comentário críticos entregues pelos escreviventes para um feedback  no próximo encontro.  

abaixo, o link para os poemas utilizados para atividade de nosso terceiro encontro:

3%20Poemas%20sem%20autor%20aula%203.doc

Referencias bibliográficas deste encontro:

BARTHES, Roland. O prazer do texto. Trad. Jacó Ginsburg. 4ª ed. São Paulo: Perspectiva, 2008;
BRANDÃO, Ruth Silviano. A vida escrita. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2006
 
PIGLIA, Ricardo. Formas Breves. Trad. José Marcos Mariani de Macedo. São Paulo: Companhia das Letras, 2004 [esgotado no Brasil];
 
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Altas Literaturas. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.

 

 Abraços,

Natan.

Exibições: 20

Tags: belenzinho, escrita, leitira, letras, livros, nossas, oficina, sesc

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