ROTEIRO SENTIMENTAL DO METRÔ LINHA AZUL
Tan-tan...tan-tan...
Trancos...
Tan-tan. “Próxima estação: Armênia”... Tan-tan...
Aqui não importa o caminho, mas o destino.
Tan-tan...tan-tan... “Próxima estação: Luz”.
Ontem mesmo desci aqui. Acompanhei a Ana na primeira prova do vestido evasê tipo A de cetim com aplicações de renda. Branco como o futuro.
Tan-tan, tan-tan...São Bento.
Bem pertinho da estação, em um andar pálido, preenchido por mesas, costureiras, aviamentos e tecidos escuros, minha avó trabalhava como arrematadeira. A vida inteira pregando botões dos ternos Bruno Minelli. Chegávamos perto do almoço e com ela íamos ao refeitório, onde ficavam dezenas de marmitas nebulosas. Eu era exposta às “colegas”. Quanto mais emburrada, maiores eram as tentativas de me seduzirem com ofertas dos melhores pedaços da refeição de ontem. Nunca aceitei. Queria poder voltar e dizer umas banalidades gentis-sorridentes para elas.
Tan-tan...
Sacolejos emocionais...
Tan-tan...Vergueiro...
Tantas tardes estudando por ali... Até hoje é só descer a rampa da biblioteca para remoçar o passo. Talvez sejamo companheirismo, aqueles sorrisos fáceis, os movimentos descuidados. Embora, minha falsa juventude dure só até encarar aqueles olhos obrigados a se preocuparem com a hipotenusa do cateto, quando o que importa mesmo: é se vai rolar alguma coisa com o Marcelo.
Opa! Nem vi o Paraíso passar. Onde estou? Só esperar a voz... Bom seria ouvir essa voz assertiva nos momentos “não-sei” da vida...
“Próxima decisão: desembarque pelo lado esquerdo do trem”.
Tan-tan... “Evite atrasos. Não bloqueie as portas da composição”. Tan-tan...
Tan-tan... “Próxima estação: Praça da Árvore”.
Li que antigamente era um parque, mas no meu passado, lá havia uma loja onde minha mãe comprava novelos de lã. Ela fazia blusas personalizadas com os pontos mais inacreditáveis, misturados em uma miscelânea de tranças, triângulos, tijolinhos... Só sei que, no final, o agasalho pesava mais de dois quilos e era tão confortável quanto uma armadura superaquecida.
São Judas... Fui batizada nessa igreja, mas essa lembrança já não é minha.
Tan-tan... tan-tan...Conceição.
“Ponto final: Jabaquara. Desembarquem todos nesta estação”.
CRÍTICA DE CINEMA despretensiosa
DIETA DE FILMES
Filmes românticos emagrecem. Descobri que há uma maneira de manter a vida doce sem engordar. Assisto a todas as histórias de amor que eu posso. E afirmo: não há brigadeiro mais doce que “Orgulho e Preconceito” ou mesmo doce mais doce do que “Mensagem para você”.
Há os clássicos “Tarde demais para esquecer” que substituem totalmente um camafeu de nozes. Os chocolates meio amargos podem ser retirados da dieta com “Nosso amor de ontem”. Suspiro tem gosto de “A Casa do Lago”. Se o problema são as trufas: “Kate e Leopold”. Já a saudade de Sonho de Valsa é assassinada com “A Bela e a Fera” e/ou “Sabrina”.
Como todo bom doce, estes filmes devem seguir uma receita para funcionar. Uma mocinha bonita, mas não perfeita: ela precisa ter uma pitada de afobação, insegurança, uma história triste e dependendo da época ela pode ser frágil ou independente. Me vêmà cabeça: “Bonequinha de Luxo” e “Nothing Hill”.
Depois, adiciona-se um rapaz elegante, forte, quase sempre rico, um pouco perdido,inseguro com relação ao amor. Cito: “Jerry Maguire” e “Uma linda mulher”. Particularmente, os meus mocinhos preferidos são os com fama de conquistadores, mas só porque ainda não encontraram a garota certa. Como acontece em “Lisbela e o Prisioneiro”.
Hora de levar o quitute ao fogo. É preciso alguns desencontros, certo perigo de que a receita desande, como nos fios de ovos. Assim, aparecem às dúvidas, o ciúme, a inveja, a Rival. Ah! O amor impossível... Acho que isso acontece porque é preciso um poucode verossimilhança para nos convencer da real possibilidade desse romance. E, vamos combinar? a vida é problema. Nesse quesito não há como superaro filme “O feitiço de Áquila”.
Finalmente, minha parte favorita. Superado os obstáculos, quando se tem certeza do quanto se ama, não há tempo a perder, é preciso correr, enfrentando tempestades, congestionamentos, aeroportos enormes para encontrar o objeto amoroso e declarar, se possível na frente de todos, o quanto se ama, explicar rapidamente o porquê dos mal entendidos, e, só então, dar o beijo de cinema, numa explosão total das taxas de açúcar no sangue. E o meu Oscar vai para “O espelho tem duas faces”, acompanhado de queijo com goiabada!
Samia Schiller - Escrevivendo
www.crônicasdeumasombra.blogspot.com
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Obrigada, Karen. É muito bom saber que você gostou
Acho que você não tem idéia do quanto suas propostas e sua oficina são inspiradoras para mim.
Beijos
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