Sou pontual. Essa qualidade já me trouxe muitos problemas. O que posso fazer? Até sem querer, até quando não devo, até quando me programo para atrasar, eu chego no horário. Hoje, estou vivendo um bom exemplo do quanto a pontualidade pode atrapalhar uma mulher: estou aqui na porta da igreja, vestida de branco, com o buquê nas mãos, trinta minutos antes da hora marcada para o casamento.
O noivo, me contaram, está prontinho na sacristia. Já os convidados chegam apressados e, quando me veem, cumprimentam se justificando.
- Estou chegando em cima da hora porque...
- Tudo bem gente. Normal.
Uma pessoa do cerimonial ordena que eu me esconda atrás de um arbustinho. Eles precisam arrumar o cortejo do Pedro e todo mundo sabe o azar que dá o noivo ver a noiva antes do casamento.
Por isso, lá vou eu, a noiva, toda de branco, me encolher atrás de um arbusto florido com uma tocha no meio. Tentando não ser vista, vejo minha mãe e meu padrasto, minha sogra e meu sogro, os padrinhos e ele, o noivo. Lindo... lindo... e nervoso. Aposto que está preocupado comigo e que está inquieto com essa história de andar na igreja até o altar com todo mundo olhando. Corajoso, ele reúne toda a dignidade, arrumando a postura. As portas se abrem e começamos a ouvir 18 vozes cantando:
“Eu sei e você sabe, já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim.
Eu sei e você sabe, que a distancia não existe...”
As portas se fecham atrás do cortejo, mas ainda dá para ouvir:
“Assim como viver
Sem ter amor não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você.”
Naquela hora nada é mais verdadeiro. Estou tão envolvida de amor, tão apaixonada, tão ansiosa para entrar e dar um beijo nele, que começo a pular no lugar. A minha vontade era voar, mas isso não sei fazer, então, pulei no lugar.
Um amigo aparece e toca meu ombro.
- Oi, Samia, tudo bem?
Paro de pular para responder:
- Ô, Nemoto! Tá atrasado, hein? Eu cheguei faz tempo. Entra logo que estou pronta para casar. Vou dar um tempinho para você sentar, tá?
Alguém arruma meu vestido. Seguro bem firme o buquê tremulo. As portas se abrem e a música começa:
“Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus resolvem se encontrar”
Ele está lá, sorrindo, e tudo mais some. Não vejo convidados, decoração, nem coisa nenhuma. Só percebo meu Pedro, que me olha, sorri e me espera. Bem ao longe, baixinho, escuto vozes cantando:
“...Eu acho meu amor que só se pode achar
Que a luz dos olhos meus precisa se casar...”
samia.cris@yahoo.com.br www.cronicasdeumasombra.blogspot.com
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Tags: canções, escrevivendo, escrita, leitura, oficina
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