(...e sonhos)
Por ...
-”Manheee, não estou com sono...”
-”Vamos Clarinha, já e tarde e amanhã é dia de escola, esqueceu?”
-”Mas não estou com sono!”
-”Olhe seu irmão: Tonico já dormiu num segundo, debaixo do cobertor, quentinho. Está escutando? Até ronca!...”
-”Então conta carneirinhos comigo”
-”Um carneirinho, dois carneirinhos, três carneirinhos...”
A mãe contando e olhando o relógio: louça para lavar, uniformes para passar, lancheiras para organizar. E a mesa para o café da manhã... quinze, dezesseis, dezessete carneirinhos... e lá vai a Clarinha, pestanas se encontrando, lábios se afastando, finalmente dormindo num respiro tranquilo.
Lá está ela. Correndo no sitio do vovô, campo verde, gramado cheio de margaridinhas; a cerca pintada de branco serve de obstáculo para os carneirinhos pular, um atrás do outro: branquinhos, orelhinhas rosadas, ovelha-mãe, gorda e pesada tentando alcançá-los. Mas olha aí um pretinho, o menor, o mais lerdo, pernas ainda trêmulas, como se tivesse acabado de nascer. Clarinha corre, pega-o com os dois braços e aperta o bichinho ao peito tentando carrega-lo. Mas lá vem Tonico correndo: -“Deixa Clarinha, ele é muito pesado para você, deixa que eu levo.” Levam-no até a cozinha, dão leite, tentam lavá-lo com um pano úmido, e o bicho miando que nem gatinho.
-“Será que mamãe vai me deixar levá-lo para casa?”
-“Vamos perguntar para ela, Clarinha. Não vai dar trabalho, nós mesmos podemos cuidar dele...”
-“Eu. Eu quero cuidar dele, o carneirinho é meu, eu achei!”
Barulho de chinelos, beijo carinhoso de mãe na testa de cada um.
-“Vamos crianças. Já está na hora. Banho rápido, aí estão os uniformes e podem descer que o café da manhã está na mesa”.
-“Mas manheee, eu ainda tenho sono....”
-“Pois é, mas a escola não espera... Vamos, rápido os dois!”
Em pouco menos de quinze minutos estão os dois sentados e famintos. Pão com manteiga, polenguinho, mamão e suco de laranja enquanto esperam o leite. Lá vêm as jarras da mamãe: chocolate quente numa, leite na outra. Ao ver a segunda jarra, Tonico se espanta: “mãe, pensei que nos tivéssemos acabado com a leite da casa quando demos tudo o que tinha na geladeira para o carneirinho preto que Clarinha achou no pasto...”
Pão preso na mordida dos dentes, Clarinha arregala os olhos.
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Tags: conto, escrevivendo, escrita, fantástico, leitura, oficina
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