Projeto Escrevivendo

"Queridos Marisa, Arnaldo, Carlinhos e Pedro" Por Concha

 

 

 

Queridos Marisa, Arnaldo, Carlinhos e Pedro,

Escrevo-lhes para contar como sua canção “Vilarejo” me faz bem à alma. Tenho escutado tanto essa música e cantado junto no engarrafamento, em casa e a caminho de qualquer lugar, tenho viajado tanto a esse vilarejo que acho que já moro ali. É que a canção tem a leveza e a força de uma visualização e me faz voar para um lugar real de gente serena e de riso fácil.

Eu sento na varanda onde areja um vento bom, como convida a canção, e meu olhar descansa nos canaviais de Barbalha, deitados no pé da Serra do Araripe. Outras vezes, vejo estender-se a praia ampla, o mar cor de esmeralda e os coqueirais de Guajiru, no Ceará.  Ali onde as crianças correm soltas e, na maré baixa, brincam enquanto ajudam suas mães a catar mariscos para o almoço.

Nas casas caiadas, de terreiros varridos e roupas branqueando no varal, as portas e janelas estão sempre abertas para a brisa entrar. As mulheres puxam uma cadeira para fora e ficam remendando roupas, tecendo palha, debulhando feijão verde, enquanto espiam a vida e as crianças que brincam à sombra dos pés de frutas, nos quintais. Mais tarde, quando as jangadas e barcos retornam com seus homens, elas trazem os baldes à praia para a repartição dos peixes.

Pés de jasmim perfumado e buganvílias debruçadas nas cercas, jardinzinhos singelos de dálias e margaridas. Um sino chama para a oração.  Na capela pequena e pobre não há padre, só mesmo os moradores que leem o evangelho, recitam o rosário e enfeitam com flores a imagem da Senhora dos Navegantes.

No fim da tarde, o vento pincela nuvens lilases e róseas no céu e nos espelhos d’água espalhados pela praia. Não há lugar nem hora mais linda. Tudo fica completo, calmo e o tempo espera. Fico quieta e atenta, vendo o mundo se enfeitando para Deus olhar. Ali sou só um sopro e em tudo, numa ave que se afasta, numa onda que quebra, na luz dourando a areia, na leve agitação dos espelhos d’água, em tudo parece respirar um mesmo sopro, um quase nada que vibra.

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Tags: canções, escrevivendo, escrita, leitura, oficina

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Comentário de Karen Kipnis em 2 maio 2012 às 17:36

Esta é a Concha! E...como anda seu pezinho? Beijos e até breve, KK

Comentário de Maria Inês Zocchio em 2 maio 2012 às 0:05

Adorável! Que delicadeza de descrição. Parabéns Concha.

 

Comentário de Graziela Brum da Silva Machado em 28 abril 2012 às 22:19

Simplesmente lindo!

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