Projeto Escrevivendo

Carta de amor que a gente sente, mas esquece que sente

São Paulo, 21 de março de 2011

     Oi,

     É um pouco absurdo, depois de tudo que vivemos, escrever uma carta de amor. Cartas de amor são para seduzir ou para o começo de uma história, são nesses momentos que temos a necessidade de explicar tudo que sentimos e só viver e só falar de amor. Já passamos por isso e foi muito bom. Às vezes, acho que essa beleza do início nos sustenta até hoje.
 
    Quando estamos tão magoados que a solução mais fácil parece ser o rompimento, nos lembramos do passado e fica impossível acreditar que um amor tão grande possa acabar; por isso, insistimos mais um pouco, sabendo que dias melhores virão.
 
    Mas, voltando ao absurdo: escrever uma carta de amor para quem dorme e acorda com a gente todo dia já há muitos anos é mesmo constrangedor, mas talvez seja a ponte de que precisamos.
 
    O papel não está preenchido com as contas para pagar, os filhos para criar e a falta de tempo.O papel em branco aceita que brinquemos de faz de conta. Faz de conta que não somos cínicos, faz de conta que não culpamos o outro pelos próprios fracassos e faz de conta que não estamos gastos e cansados. No papel posso brincar que somos jovens apaixonados ou lembrar de tudo que vivemos, e assim, brincando e, lembrando, entender porque realmente estamos  juntos.
 
    Por isso, esta carta. E agora ela já não parece tão absurda. Faz até sentido. Vamos fazer desses momentos em que eu passo escrevendo e que você passa lendo um tempo só nosso; e deste espaço escrito o nosso lugar. Feito isso, percebo que te amo, meu amigo. Sinto todo o amor que nos mantém e sei que ele não se baseia só no começo, mas no enquanto: enquanto estivermos juntos, enquanto quisermos, enquanto insistirmos, enquanto pudermos parar tudo e dizer: “aqui e agora, só eu e você, longe de tudo, o que realmente sentimos?”
  
    Sentimos amor.
 
     Samia

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Tags: cartas, escrita, leitura, oficina

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