Projeto Escrevivendo

São Paulo, 26 de março de 2010.

Taira,

 

Lembra?

 

12.12.2010. Inconsequente porque inconsciente. Que fracasso o nosso último encontro!!! Atravessando a João Mendes e descendo a Tabatinguera, inconscientemente, a vontade que tínhamos de reatar qualquer coisa que se poderia chamar de relação era tanta que nos esquecemos de discutir o principal: nossos conflitos.

 

12.10.2010. Feriado. Três dias após o epicentro. Silêncio remoído. Pedi diálogo e você, inconsequente, não quis. Justo eu que, com consciente paciência, acordava com seus telefonemas e parava meu trabalho para dar atenção a seus problemas e sua paixão (não por mim).

 

08.10.2010. Véspera do epicentro. Formulei: era o quinto da lista. O comerciante, a ex-esposa, as filhas, você e eu. Você nada disse. Silêncio egoísta. Eu era inconsciente de que, na sua lista, ocupei sempre lugar nenhum.

 

09.07.2010. Feriado. Dia fantástico! Andei muito! Estava só no apartamento da Brigadeiro. Era consciente de que entrava pela sala quase nua uma luz geométrica e plena. Silêncio atenção. O telefone tocou e fiquei escutando sua ideologia: cristã, espírita, zen-budista, romântica e seu azul era muito azul. Você não tem a consciência de que a argamassa a dar coerência a tudo isso é seu sofrimento. Tive compaixão, mas não me infectei. Tive consciência da diferença entre os estados de espírito. Varri a casa inteira com uma alegria sã e laboriosa. Silêncio humilde.

 

22.06.2010. Jantamos na rua do Carmo. Demonstrei: você estava me usando para fazer ciúmes. Você concordou. Tomando consciência, comentou que era uma boa sacada. Eu disse que poderia continuar me usando.

 

15.06.2010. Boa trepada... Justa trepada... O Brasil jogava contra não sei quem. Assistia ao jogo enquanto você tomava banho e se depilava. Não tinha a mínima ansiedade, só a consciência de que algo bom viria.

 

04.06.2010. Vi você pela primeira vez. Era noite e atravessávamos a Conselheiro Furtado (entre a João Mendes e a Tabatinguera). Não tinha como ter consciência de que atrás daquela bundinha tinham tantas e tais fragilidades que, junto com as minhas tantas e tais, não conseguiríamos ultrapassá-las. Que pena... Fracassamos.

 

Conscientemente, esqueci os demais dias daquele semestre. Silêncio convalescente. Estes aqui terão o mesmo fim. A consequência será liberdade e um pouco mais de maturidade.

 

Sem mais

 

Dário

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Tags: cartas, escrevivendo, escrita, leitura, oficina

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Comentário de Karen Kipnis em 15 maio 2011 às 14:21
Adorei sua criação, Mário! Impactante...Bj, KK
Comentário de Samia Schiller em 15 maio 2011 às 9:17
As datas marcadas com precisão, a cidade como cenário para o romance, a ordem cronológica invertida deram tanta intensidade a essa carta. Também gostei da forma como o Mário usa as palavras na hora certa a gente se depara com algo como: "consciente paciência", "Justa trepada".

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