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+ Produções textuais dos participantes do módulo Cartas 

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São Paulo,

Qualquer dia do inverno.

pai,

entrei no apartamento e não lembrava seu nome, ao que lhe perguntei e ele sorriu os dentões dentro dos lábios carnudos na face gorda respondendo animado, "Flávio, que nem você!", ao que eu ri da coisa, meu xará, os dois já tirando a roupa toda, ele ainda de camiseta, vergonha das banhas, ao que eu sento no sofá daquela casa simples, então ele começa, eu lhe arranco a peça que falta, eu quero vê-lo, estou ali para ver, e então fodemos. O quarto é contíguo à sala, uma kit net antiga, quarto andar de um prédio velho, o pé direito do térreo é mais alto, a janela, ampla, do lado a cama e, enquanto abro o preservativo, paro e vejo a tarde ensolarada, o dia lá fora, a cidade lá embaixo, eu nu e ele me esperando de bruços deitado, mas aquela vista, naquela situação, tudo tão novo, quem disse que é só trepar? , isso não existe, o paço da Luz na estação reformada, a rua, os outros prédios tão marcados quanto, um carrinho com a mãe empurrando e o neném passeando, lentos, lerdeza depois do almoço, trabalhadores correndo da sexta para o fim de semana, algumas crianças, será que dá pra me ver lá de baixo? , nós dois lá em cima, agora pelados na cama, eu lá dentro dele, os dois, nós dois, fodendo. O amor acontece na carne. Depois do frenesi, corpos extasiados, eu ainda levemente siderado, e ele afirma, com uma pergunta, mas afirma, se o poppers, o estimulante que eu trouxe e usei sozinho, se não é benzeno. A vida é veneno, penso, se não escolhemos a máscara que fatalmente usamos, restam outras saídas enquanto a vestimos à força, a minha ali nas minhas mãos, no vidrinho. Digo que não, que é "nitrato de alguma coisa", e emendo, "fosse benzina e a galera já tinha trocado" — afinal, sairia mais barato —, e ele lembra que "benzina só dá pra comprar se for gráfico", ao que pergunto me vestindo, meio lembrando, atordoado e satisfeito, contente e extasiado, "ah, a venda é proibida? Controlada, digo", e me justifico emendado: "não sabia". "É", ele confirma. "Então vou cheirar benzina pra descobrir se dá o mesmo barato", ele ri, já semivestido, grandes dentes de uma face reluzente e gorda à mostra, "Se tá dá um piripaque, cê tá ferrado!", eu terminando de amarrar os cadarços: "já estamos". Então vem um beijinho na face, curiosidade desfeita, abre-me à porta e, ufa, estou logo na cidade outra vez, a Prestes Maia, rua, ar novo, um catador vai na minha frente levando uns caixotes empilhados, bate numa parada de ônibus vazia, sem ninguém, derrubando tudo o que com esmero carregava, o ultrapasso, olho para trás, o vejo juntando, ele me olha nos olhos, um homem maduro, um sorriso banguela, faceiro, dobro a esquina, tô voltando pra casa, passo na frente de um prédio novo, placa de venda, estilo neoclássico, tem uma transex perguntando o preço pro corretor na rua, "são as últimas unidades!", ouço seu alerta, passo por passo decido se piso na sombra ou no sol, é inverno mas tá calor, estou flutuando, leve, sem sequer imaginar o estrangulamento no peito pela primeira vez sentido mais tarde nas horas que vem da noite, receio da morte, a lembrança de que um coração vivo dói, estrangulamento e dor, é o meu coração no lugar da máscara, trocada pelo veneno, depois passa, depois volta, e eu decido não fazer nada, passando na frente da polícia civil com aquele vidrinho maravilhoso no bolso pensando na desgraça de atraso desse país hipócrita, violento, regredido, infantilizado, imbecilizante, triste, idiota, cretino, eu tô voltando pra casa, encontro o Renezinho no caminho, a gente se pega de leve, conto a novidade, "tenho poppers, vem lá em casa", ele sorri, "olha que eu vou, hein", "depois a gente combina". Ficamos assim, São 14h, horário que normalmente chego no trabalho mas, hoje, o dia é de home office.

Flávio

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Olá Bukowski, tudo bem?

 

Espero que essa carta não chegue em meio a uma ressaca, essa nossa amiga indesejável de muitas manhãs que insiste em nos cobrar um preço alto pelas poucas horas de diversão com outra de nossas companheiras: a bebida. Ainda vamos morrer entre essas duas forças femininas, afinal, se elas nos dominam durante a vida, porque não fariam isso na morte.

A manhã esta fria e cinzenta, uma coisa rara de acontecer aqui em São Paulo, pois nossos invernos cada vez mais parecem verões, com aqueles dias claros e azuis e quentes que acabam com a melancolia inerente a todo escritor.

Imagino, na sua sinceridade, você olhando para essa carta e imaginando que merda é essa que esse cara esta escrevendo, e porque pra mim? O que esse cara quer comigo?

Eu explico:

Te vejo parado em um pier ao lado de um grande barco, com velas imensas amarradas como um cachorro bravo, tensas, esperando a liberdade para brigar com a natureza e mostrar sua força. Nessa luta desigual sabemos quem perde. As costuras, como cicatrizes, marcam os anos e deixam claro que morrer lutando não é opção, e sim destino.

Nesse grande navio vejo muitas pessoas trabalhando. Os carregadores trazendo as caixas de alimento que vão servir de alimento para a tripulação e para os ratos. Ouço o barulho dos martelos, o rufar das pancadas consertando as partes quebradas e reforçando aquelas mais fracas. Uma sinfonia de barulhos, uns gritando, outros cantando canções tristes de abandono e solidão que só quem já esteve no mar por longos períodos sabe como entoar.

E você ali, parado na beirada, olhando.

Seu navio. Sua construção. Seus personagens.

Obedecem aos seus desejos e vão na direção que você escolhe, mesmo que esse caminho leve ao desconhecido, sem saber quais desafios enfrentarão. Não existirão motins nem reclamações, pois você é senhor e Deus de tudo e de todos.

Esse é o objetivo dessa carta. Peço humildemente, como um marujo de primeira viagem, que você me mostre como construir um navio desse porte, como alimentar as velas para que elas sejam psicopatas e enfrentem a fúria dos ventos quando todos recuam ou abraçar essa fúria e navegar mais veloz, abrindo caminho para lugares inexplorados.

 Não espero tratamento privilegiado nem palavras mansas, pois a vida no mar não é assim. Ela  é de luta, de pequenas vitórias e grandes frustrações. Por isso não me iludo quanto a natureza de suas lições. Como diz o ditado: os remédios mais amargos são sempre os melhores.

“Então é isso”, posso ouvir você dizendo. Poderia até dizer que vejo um pequeno sorriso de canto de boca enquanto seu olhar se perde em direção ao mar durante um tempo até se voltar e se fixar em mim novamente. “Venha garoto, sua primeira lição não é aqui no barco. Você deve ir aonde todo marinheiro passa a maior parte do tempo quando não esta no mar.”

Desculpe, Bukowski, por essa pequena licença poética.

Me despeço aqui desejando que a bebida seja boa, a mulher quente, a ressaca leve e as palavras fluam como o vento de uma tempestade de verão.

Prometo que o primeiro brinde da noite será em homenagem àqueles que dedicaram sua vida a navegar pelos mares da literatura.

 

Abraços

Décio

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São Paulo, 25 de agosto de 2016

Querido amigo Pessoa,

Não saberia ao certo como começar, mas escolhi me comunicar a você por sermos tão próximo a tanto tempo. Faz tempo que não sei notícias suas e espero que me responda esta carta que escrevo com tanto carinho.

A pouco tempo atrás fui lhe visitar, mas você não estava, então continuei minha jornada para onde meu coração meu guiava, buscando conhecer cada vez mais sua terra natal. Fui para lhe pedir uma ajuda, um conselho, você com sua experiência mundana talvez pudesse me ajudar. Mas, como não tive resposta, decidi que seria melhor escrever.

Cresci muito desde que te conheci, não só com a aparência e idade, que seria bem obvio, mas também mentalmente. Creio que mudei meus planos e atualmente eu ando encaminhando minha vida para outro lado. Seria loucura reescrever minha história? Você como um bom escritor que sei que é logo me responderia que a vida deve ser reescrita inúmeras vezes. Existem inúmeros caminhos que posso percorrer, mas decidi ir para um diferente, um inusitado.

Minha paixão logo se iniciou quando ainda era criança, mal eu sabia que seria esta minha verdadeira vontade. Como criança acreditamos que tudo é real e que tudo pode ser alcançável, mas de acordo que fui crescendo percebi que a vida não é tão fácil e deixei meus sonhos de lado. Mas agora, adulta como aceito que sou, percebo que todos os sonhos podem ser palpáveis e acredito que você e seus aliados mentais, estaria dizendo seus companheiros de escrita, que são Ricardo Reis, Álvaro de Campos e Alberto Caeiros, podem me ajudar a trilha-lo.

Preciso de um conselho amigo Fernando, o que uma humilde pessoa como eu poderia fazer para alcançar a plenitude dos livros? Não aspiro sucesso, não aspiro luz e brilho, aspiro reconhecimento, escrita, folhas e conclusões. Você é um homem sábio, poderia me guiar para os meus desejos, poderia me ensinar a encontrar minha escrita, a fazer traduções e corrigir meus textos.

Preciso de uma ajuda para começar do zero, aquele empurrão inicial, o ponto de partida. Meu amigo, preciso do seu conselho para que eu chegue mais próximo dos meus sonhos, para acreditar que eles são realizáveis e que posso encontrar meu lugar no mundo.

Estou enviando esta carta com a certeza de que haverá uma resposta para podermos discutir sobre o assunto e também para saber como anda sua vida boemia em Lisboa.
Estarei esperando,

Sua eterna amiga,
Fabiola Ribeiro

***



                                                                                  

                                                                                 São Paulo, 29 de agosto de 2016

 

Querida amiga Márcia.

Tudo bem com você?

 

Como gostaria que estivesse aqui na minha presença para que pudéssemos conversar como fazíamos tempos atrás.

Neste momento quero dividir com você minhas novas descobertas relativas ao meu nascimento.

Já te disse que tenho pensado neste assunto e, ultimamente se tornou mais necessário e urgente para mim.

Andei fazendo umas pesquisas em cartórios de São Paulo e tive acesso a uns dados que eu não conhecia.

Há tempos pergunto à minha mãe sobre o fato de os meus irmãos terem fotos de recém-nascidos e eu não.

Ela sempre foi arredia não querendo falar no assunto.

Na semana passada fui bastante incisiva e ela me disse que foi numa fase de grande dificuldade financeira, a máquina fotográfica estava com defeito, o conserto era caro e não podiam comprar uma nova.

Ao pesquisar mais e mais constatei o que eu já desconfiava: fui adotada pelos meus pais.

Veja você como estou chocada ao me deparar com este fato aos 39 anos de idade!

Sinto um turbilhão de emoções que nem consigo te explicar.

Ontem voltei a falar com a minha mãe, agora com as provas que colhi. Inicialmente ela afirmava que não eram verdadeiras, depois, aos prantos - como eu nunca havia visto antes - ela me abraçou muito, e finalmente, confessou.

Disse que me amava muito, que queria me proteger, e que morria de medo de me perder.

Abraçadas, choramos muito, e eu lhe pedia para se acalmar vendo o pavor em seu rosto.

Deixei-a e voltei para minha casa. Cada passo me levava ao encontro de mim, agora meio perdida, com um nó na garganta e muitas perguntas: quem seriam os meus pais naturais? Estariam vivos? Teriam eles me abandonado? Por quê? Onde nasci? Como seria a minha vida se eu não tivesse sido adotada?

Quero as respostas para estas e outras tantas perguntas que irão surgir.

Penso no sofrimento de minha mãe (adotiva), dos meus pais ao longo dos anos, no quanto devia lhes custar este segredo.

Sinto amor por eles, mas também sinto raiva pela atitude de ambos, já que sempre me ensinaram que em todo relacionamento deve haver sinceridade. Como puderam agir assim comigo? Por que não me contaram?

Agora penso também na minha mãe biológica, em como deve ter sofrido por ter me deixado.

Mesmo me considerando uma pessoa muito madura e “bem resolvida” te confesso que saber que fui adotada me abalou profundamente, estou precisando ficar sozinha para pensar no que fazer agora.

Não posso mais raciocinar, estou muito confusa, preciso dormir - se é que eu conseguirei - para descansar.

Beijo,

 

 Maria Cecilia

 

 ***

 

 

                                                                                 São Paulo, 30 de agosto de 2016

 

 

Bom dia amiga.

 

Hoje estou mais calma.

Pretendo encontrar a minha mãe (adotiva) novamente, estou preocupada em tê-la deixado sozinha e assustada.

Quero dizer a ela o quanto foi fundamental na minha vida e que eu jamais a abandonaria. Que tenho uma gratidão eterna por ela e meu pai (já falecido) terem cuidado de mim. Pela noção de família que eu sempre recebi com exemplos de carinho, atenção, amor, afeto, cuidado, união, paciência, caráter, humildade, e que foi assim que me tornei gente.

Falarei também que eu quero saber das circunstâncias que levaram à minha adoção, afinal, trata-se da minha história.

Márcia, estou num dilema e gostaria que me ajudasse: o que você faria no meu lugar? Procuraria os seus pais biológicos?

Devo ficar conformada e me tranquilizar considerando que eu poderia ter uma vida muito difícil se não tivesse sido adotada?

Amiga, sei que posso contar com você.

Aguardo o seu retorno.

Abraço forte,

 

Maria Cecilia

                                                      

 

***

                                                        

 

Vó Basu:

Espero que esta a encontre muito bem gozando as delícias que merece, juntamente com todos os nossos, do outro lado.

O motivo desta é que prometi: Daria- lhe  a voz que foi usurpada.  Prometi, sim e não estou conseguindo cumprir o prometido.

Talvez fosse demasiado para mim. No meu desejo de justiça, na minha onipotência dos anos mais jovens, acreditei que pudesse. Não pude. Não tenho coragem de lhe dizer: Não consegui.

Não fui capaz de nem fazer ficção como pensei, para suprir, para marcar sua existência por estas bandas.

O que fiz: viajei aos lugares que possivelmente você andou, dancei e cantei  cantigas que talvez você dançou, deliciei-me com comidas imaginando suas mãos a fazer, Falei de você pras pessoas mas ninguém, sabia de você.

O que fazer vó? Estou sem ânimo para prosseguir, não tenho dinheiro para continuar a pesquisar, me falta energia para pedir a amigos que corrijam o que já escrevi, não estou sabendo como dar forma, como organizar o já escrito. Vou deixando pra depois, e esse depois nunca chega.

Em uma tentativa para por os pés no chão. Pensei. Miráh se você não  escreveu o livro que sonhou, faça pelo menos um com uma encadernação manual, com o material que você tem. Mas que material eu tenho? O que eu escrevi foi sobre a minha busca por você, pelo seu filho. Aliás, parti da necessidade de querer entender o meu pai seu filho, quando percebi que você não existia. Não tem foto, não tem documento, nem nome na certidão de seu filho. Deu um Nó, em mim, minha vó. Mas que você existiu, existiu. Se eu não escrever mais nada, há um conto que fiz em sua  homenagem ou feminagem, como querem algumas feministas..

Não sei se gostou. Só que eu queria escrever seu livro e publicar. Não ficar só comigo. Você era uma negra? Foi  retirada do seu convívio, de sua cultura e trazida para cá? Ou já nasceu aqui?Não sei nada de você. Por isso aquele modo distante, de quem guarda segredo de seu filho, meu pai. Num sonho  você me disse: - Nem tudo foi dor. Amei. Dancei, tive meus momentos de alegria.

Mas eu quero saber mais. Quero dizer: Minha avó existiu. Ela nasceu em---------- Era filha de-----------. Era alegre ou tristonha. Mandona ou mais paciente. Bonita, alta ou de estatura mediana? Que qualidades você tinha e seus defeitos, eram muitos?

Vó estou querendo demais e talvez não seja o mais importante. Se for verdade aquela teoria que afirma serem as netas que trazem as marcas das avós, olhando para mim a reconheço. Você era bonita, inteligente, teimosa, tinha senso de justiça, o que lhe custou provavelmente alguns enroscos, Amou muito e foi amada, algumas vezes, por quem não queria. Dançou batendo o pé no chão e a saia voando no embalo do corpo. Sofreu, sofreu, sofreu, não conseguiram lhe tirar a dignidade nem a esperança. Nem sempre foi possível perdoar. Gostaria de vingar. Se não pelas suas mãos, por de outras. Assim, vó escrevo também para lhe vingar. Mas talvez a vingança que você deseja seja:

Não mais escravidão. Sua neta é livre. Livre com tudo o que acarreta esta palavra. Livre. Para você também ser. “ Não dá pra ser feliz sozinho” Disse o poeta.

Vó o que mais posso fazer para que o nosso sonho livro  se torne  livro livro?

Aguardo uma resposta sua com coração cheio de espera amorosa.

Um abraço de sua neta.

                                    Miráh

 

Sesc. Belemzinho, CARTAS – Miriam Leirias

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São Paulo, 28 de agosto de 2016.

 

Querida amiga,

 

“O rio São Francisco desce cantando uma cantiga tristonha, parece levar ao mar o sonho que a gente sonha” (AD)”

Ligia, minha companheira de viagem, há quanto tempo não tenho noticias suas? Como estás se sentindo em sua nova casa, nessa cidade tão tranquila e tão diferente do que estava habituada? Num desses dias de chuva fina, que somente essa cidade de São Paulo pode nos surpreender, estava revendo umas fotos antigas e encontrei um pequeno álbum da nossa viagem pelo Rio São Francisco.  Na contra capa, deparei-me com o versinho acima, escrito por você e datado, as letras um pouco apagadas, foi difícil acreditar que já se passaram vinte anos.

Resolvi então, escrever essa carta para te fazer um convite, se é que posso chamar de convite, acredito que seria te propor um verdadeiro desafio. 

Agora, que nossos filhos estão criados e independentes, é o momento certo para viajarmos novamente pelo rio, fazendo o mesmo percurso. Sairíamos de barco da cidade de Pirapora Minas Gerais até chegar na ponte Presidente Dutra que divide  Petrolina e Juazeiro. Se ainda houver disposição estenderíamos até os Cânions do Xingó em Alagoas, lugar totalmente preservado, um santuário.

Lembra-se do nome da barca? Era Dorotéia, que deslizava mansamente pelas aguas do São Francisco, fazendo paradas nas cidades que ficam a margem: Januária, Xique-Xique, Remanso, Bom Jesus da Lapa, Pilão Arcádio, entre tantas outras. Aproveitávamos para conhecer cada uma delas e fazer o que mais gosto: fotografar.    

Conservo ainda uma carranca toda esculpida em madeira que compramos de um talhador à margem do rio, dizia o artista que quanto mais “feia”, mais original, mais criativa e mais bela.  

Com certeza, já não temos o mesmo ímpeto dos nossos vinte anos, em mergulhar no rio com a roupa do corpo, tão pouco virar noites cantando e dançando músicas de roda, dormir em redes, ou ainda sair correndo atrás da barca porque perdemos o horário da parada.

Estamos mais cautelosas, maduras e com olhar mais critico, mas refazer essa viagem para mim é um sonho, navegaremos pelas mesmas aguas do São Francisco, de beleza cativante. Teremos ainda, a oportunidade de ver a transposição do rio, de conviver com tanta gente de coração aberto, humilde, que tira do rio o seu sustento.

Fica aqui, minha querida amiga, o meu convite ou um desafio, para essa aventura.

 

Sueli Rocha

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Exibições: 37

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