Fac-símile da primeira página da Carta de Caminha.
Por Laion Castro
Na primeira parte do último encontro do módulo Cartas, retomamos a discussão sobre a presença e a importância das cartas na história do Brasil, que começa com Pero Vaz de Caminha. Para enriquecer esse começo de conversa, lemos outra crônica do Otto Lara Resende - autor sempre presente em nossas aulas - dedicada especificamente à carta de Caminha ("Cartinha de amor brasílico"). Em seguida, voltando-nos para a Carta, tivemos a oportunidade de visualizar a fac-símile da primeira página desse documento quincentenário, além de conferir trechos transcritos do português daquela época, em paralelo a uma atualização contemporânea do texto.
Repassamos outros exemplos de cartas importantes na trajetória de nosso país, como a carta-testamento de Getúlio Vargas, e, em seguida, a fim de exemplificar o modo como a arte é capaz de atravessar a história e a política, sublimando estas matérias a serviço do belo, ouvimos a canção "Meu caro amigo", de Chico Buarque, que, composta em diálogo com a estrutura epistolar, retrata diversos aspectos relevantes das trocas de correspondências durante a ditadura civil-militar que vigorou no Brasil durante 21 anos.
Na segunda parte do encontro, falamos de como a carta, enquanto prática social, permitiu o surgimento de vários outros produtos derivados dela, como o telegrama e o cartão-postal. Então, concentrando-nos nessas modalidades específicas, pudemos tomar contato com uma pequena amostra do trabalho de arte postal do japonês On Kawara. A partir de exemplares da série "I am still alive", dos anos 1970, percebemos como esse artista conceitual realiza um duplo deslocamento em relação ao gênero original do telegrama, primeiramente emitindo uma mensagem banal por um meio de comunicação emergencial e, ainda, transformando em ritual aquilo que é excepcional.
Na sequência, a partir de um poema visual de Aldo Fortes dedicado a John Cage, propusemo-nos a fazer uma intervenção num cartão-postal publicitário que resultasse num exemplar de arte postal. Assim, ao som de 4'33", do compositor norte-americano, planejamos e rascunhamos nossos textos até chegarmos na mensagem definitiva a ser inscrita no cartão e, posteriormente, enviada pelo correio.
Poema visual de Aldo Fortes dedicado a John Cage.
Para encerrar nossa oficina e também nosso debate sobre o ´mundo contemporâneo, lemos um trecho do livro 24 / 7 : capitalismo tardio e os fins do sono, de Jonathan Crary, que nos apresenta uma dura crítica a muitas das práticas que alimentamos hoje em dia e que, de uma forma ou de outra, ameaçam, entre outras coisas, a produção de experiências presenciais, coletivas e analógicas como as que vivemos ao longo de sete excelentes sábados.
É isso.
Como de hábito, envio o material desta última aula.
Beijo e até logo,
Laion
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