Regresso

Por Raquel Thomé

O forno suava em volta, cansado de tanto assar. Alberto havia passado a semana inteira fazendo os biscoitos. As pequenas gotas de chocolate derretiam com a quentura que havia tomado conta da casa, aliás, a única coisa capaz de esquentar seu coração naquele momento. Maria, mãe de Alberto, apareceu na cozinha:

-Luzia telefonou dizendo que o chocolate da marca que você pediu não tem no supermercado. Pedi para que trouxesse outra.

- Não! Ligue novamente e diga pra buscar em outro lugar. Só esse chocolate funciona.

Ele, preocupadíssimo, deixou a irmã tomando conta da fornada e foi para a sala ajudar a mãe a dobrar os barquinhos de papel. Depois de duas hora, haviam terminado.

Perto das sete horas da noite, estavam prontos para sair. A irmã com um cesto de vime repleto de bolachas, a Mãe com as dobraduras em uma caixinha e ele com seu gato de estimação, Leopoldo, envolvido no pescoço como um cachecol. Alberto e o gato tinham uma ligação muito forte e conversavam por telepatia. Conforme as palavras de Leopoldo, deveriam parar somente quando chegassem na baía do vilarejo. Após três horas de caminhada, os quatro finalmente encontraram o lugar.

- Você tem certeza que aqui é o melhor lugar, Leopoldo?

- A maré aqui é mais baixa, meu faro não me engana. - Respondeu o gato, em pensamento.

Prepararam tudo em cima de um lençol. Um biscoito era posto dentro do barquinho de papel e lançado ao mar. Trabalharam em equipe. Depois de quase uma hora, centro e três barquinhos de papel estavam navegando.

Exaustos, sentaram na areia. Enquanto observavam aquela linda cena, Maria suspirou profundamente. - Nem parece que faz cento e três dias que ela se foi. Será que é boa a vida de sereia?

Alberto olhou com profunda certeza:

- Não sei. A única coisa que sei é que lá, onde ela vive, não tem Chocolates Mimi.