Projeto Escrevivendo

A segunda produção dos escreviventes, cuja proposta era a de narrar uma relação com o sagrado a partir do corpóreo. Divirtam-se!

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A doma do caos sonoro

Teofilo Tostes Daniel

3 Laudate eum in sono tubæ; laudate eum in psalterio et cithara. 4 Laudate eum in tympano et choro; laudate eum in chordis et organo. 5 Laudate eum in cymbalis benesonantibus; laudate eum in cymbalis jubilationis.

(Psalmus CL, vv 3-5)

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perfeito maior

acorde soando inaugura

a tonalidade

ou sua

relativa menor

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modula o tom

e leva para outros

cantos

outros cânticos

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a música

é uma égua bravia

que se pode montar

.

melisma cromático

desliza sons

.

a voz do instrumento

(de carne

madeira

corda

ou metal)

arpeja

o tema

a coda

o trítono

a resolução

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o resultado

em sua inapreensível fugacidade

percute um mistério

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que silencia o dentro

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se há um deus

ele soa

e só

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Incidente inopinado

Raquel Thomé

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A surpresa havia se tornado rotina da menina, passando todos os dias pela Rua Aurora, só para ler a frase no muro da igreja: 'Santa Luzia, ilumine meus caminhos com seus olhos.' Era uma espécie de oração, grafitada desde o dia de seu aniversário, no ano passado.

A igreja ficava na esquina, em frente havia uma praça, e no fim da rua, uma casa verde de janelas brancas, onde trabalhava um senhor que fazia carimbos.

No domingo, voltando do sarau, enquanto tentava lembrar trechos daquela poesia que tanto gostava, -"... porque não voltar a apalpar as primeiras formas..."- Luzia teve o pensamento interrompido pelos olhos surpresos e fixos na fila enorme que dobrava a esquina da igreja. Se recompôs e seguiu a fila em busca do começo, afim de desvendar o alvoroço.

Quando chegou na primeira pessoa, percebeu que estava em frente a casa verde. Um rapaz baixo, de óculos, saiu rapidamente de dentro da casa, esbarrando nela. A menina caiu na calçada e, em cima dela, algumas caixinhas que ele carregava. Desconsertado, apanhou tudo e, sem se desculpar, partiu. Ela, limpou o vestido e levantou. Viu no chão uma caixa que havia ficado, colocou-a no bolso e correu para alcançar o rapaz, mas não conseguiu.

Cansada da corrida, sentou na grama e ficou na praça observando a fila diminuir. Manteve-se atenta as expressões dos que saíam da casa, entretanto, ninguém lhe dava pistas. Exausta, partiu.

A noite, já em casa, lembrou da caixinha e resolveu abrir. Dentro, havia um pequeno pedaço de um tecido vermelho, embrulhando um carimbo de madeira. Ansiosa, tirou-o da caixa. O desenho em relevo era de um círculo pela metade, com o nome dela escrito dentro. Espantada, buscou a caixa para obter informações. No verso encontrou uma instrução: "Carimbo mágico", e na tampa um aviso, também em vermelho: "Use somente nos olhos."

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PARTIR REPARTINDO

Maria Inês Zocchio

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Há tempos que não chove...está ventando e o ar cheira à poeira.

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Ele se foi. Diferente das outras vezes.

Foi para sempre, agora envolvido por ela, seu objeto de luta.

Por ela afastava-se do convívio dos amigos e embrenhava-se sabe-se lá onde...

Mas voltava, queimado de sol e com brilho nos olhos. Sua felicidade saltava à vista do mais distraído .

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Assistia a tudo estática e embora sentindo o vento gelado a lhe incomodar não conseguia sequer vestir o casaco que carregava. Respirar, respirava. Chorar, não chorava. Não conseguia. Tentava entender essa grande paixão que o levara até às últimas consequências.

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Os sapatos começavam a incomodá-la. Na pressa não havia calçado meias.

Resolve arrancá-los e pisar na grama úmida, sem se importar se por ventura houvessem formigas ou pedrinhas. Era assim que ele, sempre que podia, andava. E, descalço,tentava fazê-la entender que aquilo era uma grande troca de carinho entre a Mãe Natureza e seus filhos.

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A última pá de sua amiga terra estava sendo atirada...Voltava a ficar imóvel, sabendo que não haveria mais o que fazer.

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Precisava movimentar os pés, cada vez mais frios. E a caminhada foi na direção da derradeira morada dele. Caminhava devagar, como quem não quer chegar.

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Abaixou-se, apanhou um punhado de terra seca e como única homenagem, espalhou-a sobre seu túmulo, não sem antes invocar aos céus para que recebessem, com toda a pompa e circunstância , aquele que partira sem saber que ela o amava.

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Conseguiu chorar.

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Ninguém gosta de cheiro de poeira...muito menos ela.

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Devoção

Ingrid Morandian

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Na adolescência, ela era muito magra e tímida. Os cabelos negros escorridos conferiam-lhe um ar de frágil e doente. Na escola sempre tirava boas notas. Na maioria das vezes vivia isolada. Cultivava poucos amigos.

Compensava a solidão através dos livros. O pai professor de Português incentivava a filha caçula a ler desde menina. E, Lori mergulhava em seu universo literário com tal devoção que anulava o mundo exterior.

Lia compulsivamente: Fernando Pessoa, Dostoiévski, Proust, Oscar Wilde e Camões. Trancava-se no quarto, onde recriava dramas shakespearianos, ria das comédias de Molière e debatia o existencialismo com Sartre. Folheava as páginas como se fossem preces do imaginário.

Lori cumpria religiosamente o seu ritual. Após o jantar beijava os pais e irmãos. E fechava-se no quarto. No seu templo. A entrega aos livros chegou a tal ponto, que em toda parte viam-se livros e mais livros. A mãe esbravejava:

- Eu não agüento mais esses livros! Jogue tudo isso fora! Por onde se anda, tropeça-se nessas porcarias! A casa está uma bagunça!

E vociferava em direção ao marido:

- E a culpa é sua, por isso essa menina é desse jeito!

O pai nada dizia. Abaixava a cabeça. No fundo ele aprovava a atitude da filha.

Lori ficava emburrada, e corria para o quarto. Trancava-se de tudo e de todos. E, principalmente de si mesma.

Algumas vezes, Lori, fora pega pelos funcionários da Biblioteca do bairro roubando livros. Da última vez, em que o pai precisou intervir, o segurança a impediu de sair. Tentava carregar um exemplar do Guimarães Rosa, com anotações do autor.

Certa vez, Lori chegou melancólica do serviço. Amuada e distante. Entrou na sala segurando Clarice Lispector. Não jantou, não quis conversar com o pai. E, desapareceu no quarto. De madrugada, o irmão mais velho ao levantar para beber água. Depara-se com a irmã a carregar livros e mais livros para o quarto. Não estranhou, pois conhecia as manias de Lori. E voltou a dormir.

Pela manhã, todos saíram para trabalhar. A mãe notou que a filha demorava a sair. Bateu na porta. Bateu novamente e nada. Lori não respondia. O pai preocupado aproximou-se e adentrou. O quarto antes composto de um guarda-roupa e uma cama. Estava imerso em livros todos empilhados. Lori deitada entre eles. Enleada a Álvares de Azevedo. O rosto suave e branco. Lançou um olhar ao vazio. Seus movimentos espaçaram até cessarem. E, sucumbir.

A janela aberta. E o sopro da manhã trazia um odor cálido de primavera que chegava.

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Metragens

Ethel

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Mandurema era seu nome de registro. Erro do escrivão, deveria ser Madalena. Residia numa kichinete, num bairro de classe média. O quarto-sala razoável, uma pequena cozinha, com uma minúscula varanda e banheiro.

Eram 2 horas. Levantou da cama/sofá e abriu a janela. Uma das lojas insistia em chamar a atenção noturna com uma luz verde néon. A claridade artificial incomodou-a.

Costumava dormir satisfatoriamente. Solitária, entregava-se ao prazer do descanso. Nesta noite, imaginou cenas, sussurros prazerosos, vindos de seu vizinho. Não era adolescente, nem tinha ilusões. O dono do apartamento maior e espaçoso foi claro, como cantam os Triballistas: "não sou de ninguém, eu sou de todo mundo e todo mundo é meu também". Ela concordava, convicta em aproveitar os bons momentos, conservar lembranças agradáveis, perdoar todos os deslizes do relacionamento. Acreditava na soma das experiências, gerando riquezas pessoais. Da janela, gritou para a noite e aos ventos, desabafando do 5o.andar.

- Por que este gostosão, de 1 metro e 80, corpo perfeito, bem sucedido, tinha que ser meu vizinho ?

Acalmou-se e iniciou o autoflagelo: -“Convenhamos mulher, tu, uma pigméia de 1m e 40, desproporcional, infância de cobranças injustas”. Continuou, equilibrando-se: - “Persevero na conquista da felicidade, sorvo a última gota do mel. Sigo o lema: desistir jamais. Percebo o que há de disponível no universo, tenho talento para capturar e aceitar, não como nos sonhos e não permitindo que os fragmentos da felicidade, na certeza de serem brumas, se desvanecessem”.

Tinha uma irmã casada, era mais jovem, bonita e inteligente, 1m e 50. Uma de suas amigas comentava rindo: - “Se você é a alta da família, e os outros, temos que vê-los, com uma lupa ? “

Ela, a minúscula, não se importava com os comentários, muitos maldosos e inúteis, não lhe acrescentavam e nem a faziam sentir-se pior.

A irmã(zinha) afortunada, era depressiva, a tudo reclamava. O mundo era injusto. Na opinião de Madalena, uma sonsa e metida. Há anos, quando solteira, desprezou um estudante, interessado, ingênuo e iniciante. A pigméia não deixou por menos: papou-o, desvirginou-o. O rapaz ficou agradecido. Casou-se com outra. Ela foi a madrinha do casamento.

Essas recordações não lhe aliviavam o incômodo. O vizinho a perturbara desde o primeiro encontro. Após alguns olhares maliciosos, ela pensou: "inacreditável, ele está me dando bola, o tipo gosta do exótico”. Não deixaram passar a oportunidade. De imediato: abraços, beijos e bem... vamos poupar os detalhes. Era uma mulher recatada, embora não aparentasse.

Pela experiência, constatava que os encontros impulsivos e fogosos tendiam a esfriar. Alguns meses depois, notou a visita de uma menina linda, (belos aparatos físicos, confessadamente invejáveis, pouco mais de 20 anos), no apartamento ao lado. Aproximou com falsidade amigável, em menos de uma semana a jovem meiga fazia-lhe confidências: a pretensa mulher-sábia-pígméia, que acreditava ser experiente no kama-sutra, corou.

Ficaram amigas. Entretanto, a vida pregou-lhe surpresa: apaixonou-se perdidamente pela garota confiante e pura. Sofria, a jovem era seu “girassol sem sol de 1 m e 65”, da letra e melodia do conjunto de rock; mergulhando-a numa angústia infinita. Literalmente, reduzida a pó.

Devido às noites de insônia, caminhava como um zumbi. Emagreceu, não mais a reconheciam, era uma sombra do passado. O vizinho e ex-amante, preocupado, bateu à sua porta, questionou-a e assombrado, notou que ela não o reconheceu. Mandurema esqueceu-se do seu antigo objeto de desejo e de consumo, sua mente escravizada pelo único e grave amor platônico... seu segredo !

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Leitores: última notícia de Mandurema: não se suicidou. Pelo contrário, sua chama interior recuperou-se, através da farta e nutritiva alimentação que sua amiga lhe oferecia, caridosamente. Esta desconhecia o motivo de tanto sofrimento.

Após a reabilitação, foi ao cartório e regularizou seu nome para: Madalena. Na saída, caminhava pensativa; enquanto tocava no camelô a inesquecível Elis Regina: “Oh ! Madalena, o meu peito percebeu que o mar é uma gota, comparado ao pranto meu.....” . Foi um presente.

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Escritos

Eliana Santos
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Em dias que não foram vividos:
nesse gosto que não foi compartilhado,
em tudo que não foi escrito.

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Um quê de inatingivel
apenas um sentido,
e o confuso apagar
em tudo que não foi escrito.
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Um desconhecido,
nem amor,
nem dor,
naquilo que não foi escrito.
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Imagens irrefletidas
diante do meu olhar nu.
Em tudo que não foi escrito.
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Entre os teus silêncios
apenas o deflorar
de tudo que não foi escrito.
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Num tempo que não nos pertencia
o encontro se desfez
em palavras mudas
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Em tudo que não foi escrito.

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Ritual

David Andrade

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Olhou pela centésima vez o relógio da parede.

Os últimos cinco minutos demoraram, certamente, mais que as últimas cinco horas.

Todos os papéis já devidamente carimbados e arquivados, a mesa arrumada como se preparada para a visita da Rainha da Inglaterra. Emails enviados, caixa de entrada limpa, lixeira esvaziada e spams devidamente deletados.

Mãos cruzadas, olhos atentos aos ponteiros do relógio "de design" -

como disse a moça do almoxarifado, quando o trouxe para o departamento.

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E deu seis horas!

Ritual da gaveta fechada, corpo levantando rapidamente e cadeira delicadamente encaixada na mesa - só para disfarçar a pressa.

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Elevador lotado.

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"Hoje não perco a novela por nada!"

"Ai...levar duas horas pra chegar em casa e ainda ouvir choradeira de menino! Afe..."

"Você acredita que a vaca teve a coragem de me dizer isso?"

"Será que o trânsito hoje tá bom? Viu alguma coisa na internet?"

"Ai, ai...que bom que é sexta...amanhã vou dormir até o cú fazer bico!"

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Pim! Abriu a porta automática! Solta a boiada!
Manada engravatada, vestida de "gente confiável".

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Em casa, ducha demorada. Morna no ponto.

A roupa estirada na cama, cheia de personalidade, mas sem excessos...

Meia hora de repouso...o suficiente para relaxar a face e não ficar inchado como quem dormiu em demasia.

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Hora de ir para o templo.

Hora de abraçar os amigos, sentir calor humano, sincero.

Hora de cantarem juntos , hora de desejar a paz universal, de celebrar a vida.

Hora de olhar para cima, e ver o que o guia da noite tem a dizer, de sua forma, com mensagens minimalistas e muitas vezes sem ao menos abrir a boca.

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Este é seu templo. Este é seu momento mais precioso.

Este é seu tempo. Tempo que move sua semana, energiza sua vida.

Amigos, ritmo, desejos, suor, amor.

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É Sexta. Dia sagrado.

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Concha Celestino

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Esta árvore

Estende uma renda sutil e móvel

Sobre galhos que alcançam longe

Disponíveis

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Ela se alça com força e decisão

E espalha uma teia finíssima

De sombra e luz

Entre a terra e a imensidão

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Adorna o azul etéreo

Com um viço verde-iluminado

Fluido

Delicado

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No dia em que pisei suas raízes grossas

E toquei o tronco escuro e sólido

Olhei para o alto e vi a própria imagem

Da abundância

Da plenitude

Da exuberância

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Fusão

María Cecilia Fernández Uhart

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Dia complicado, na contramão.

No carro pensava nela.

Quente, empapado em suor.

Pensava nela, seu corpo.

As tarefas não avançavam.

Como quem sinaliza, um único movimento possível.

Voltar pra casa,

encontrá-la.

Abrir a torneira, deixar escorrer sentimentos,

energias estancadas, angústias.

Liquefazer.

Uma vez cheia,

em seu volume perfumado,

pleno de águas tranqüilas,

com uma pitadinha de sal,

nas espumas,

aportar.

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Em suspenso

María Cecilia Fernández Uhart

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Já faziam alguns meses que tentavam se ver. Talvez seria mais certo dizer que ELA tentava. Ele sempre dava alguma desculpa. No telefone, pouco falava e já desligava. Será que amanhã vc vem ? Ele nunca respondia que não, era sempre um talvez, quem sabe, mas não vinha. Ela se preparava para os prováveis encontros, cabelos, unhas, roupa, mas ele não vinha. Não ligava, não escrevia. E de tanto não vir, ele parecia um sonho, alguma coisa imaginada por ela, inexistente. Era quando decidia ligar, para ver se não estava louca. Ele gentil respondia, que também sentia saudades. Então ela continuava a ligar.

Teve até aquele dia em que ele disse:

- Hoje consigo te encontrar, daqui a umas horas estou ai.

A surpresa do encontro tão próximo desbaratava todo movimento, e os minutos não passavam. Mas passaram minutos, horas, ela ligou:

- E ai, está chegando ?

- Não vou conseguir ir.

Ela se perguntava porque. Porque será que ele disse que viria ? Nunca encontrava uma explicação. Tantas falsas esperanças, não era mais simples dizer apenas não. E era essa dúvida que a perseguia. Se ele realmente não queria vê-la ou queria mas tinha uma vida mesmo complicada. E sempre preferia acreditar na segunda suposição. Mesmo tentando entender não compreendia o motivo do encontro não se dar. Mas dentro de sua alma, ainda que quisesse muito acreditar na vontade dele de encontrá-la, não conseguia parar de pensar que quando alguém quer ver uma pessoa, faz de tudo para encontrá-la e com ele era diferente, sempre algo não era feito. E não se encontravam. Nela a necessidade do encontro era tão forte, que mesmo com o passar dos dias, o passar dos meses, acreditava que ia vê-lo. Mesmo com todas as evidências de seu desinteresse, ela o desculpava inventando motivos para si mesma. E continuava com a doença de esperar, aquele encontro sagrado.

E em sua loucura feminina, de eterno esperar, pensava que não estavam destinados a encontros, só a quase se encontrar. E por acreditar em outras vidas, se perguntava se uma vez fantasminhas, vestidos de corpos voláteis e etéreos, num fundo azul com nuvens finalmente se abraçariam, e ela poderia acariciar seus cabelos, que nunca havia tocado. E se perguntando em suas noites sonhava. E nos sonhos ele vinha.

E assim se alimentou durante muito tempo, de sonhos.

Vivendo a esperar. Na espera de viver.

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....Faded away

Bruna Nehring

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Ontem alguém: "Ana, e seu sorriso?..."

Já passei pela fúria titánica de Medéia.

Já me investi em Parcas a re-fiar e re-tecer sua vida e a minha.

Em Penélope rebordei meus sonhos, aceitando a espera.

As linhas estão perdendo a cor.

Já faz muito tempo.

Tempo demais.

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Até já ganhei uma promoção importante pelo tanto que aprendi aqui com você.

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E você, Tom, me ligando ainda com seu desespero de ausência.

Parece fazer questão de me trazer sua voz, e com ela nosso suor.

Mas nunca me diz "venha".

E nunca me diz "venho".

A espera - e o esperar - mudam as pessoas.

Se eu fosse, talvez você não fosse mais o mesmo.

Se você viesse, talvez não me reconhecesse.

A ansiedade da espera acaba com a realidade de projetos.

E o tempo acaba com os projetos.

Tenho em você um grande amor vivido. Não vou esquecer.

Ainda tenho porque viver.

E quando Athropos cortar meu fio, terei de volta o sonho.

Intacto.

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