Projeto Escrevivendo

A agonia “do fazer” as malas

Nada ou quase nada lhe paralisa tanto como ter que arrumar as malas.

Ter que prever a temperatura. Calor ou frio? Chuva ou dias ensolarados? Quantos dias mesmo? Que cansaço!

Alguém pode retrucar: que drama! Já se pode ter acesso à previsão do tempo pela internet.

Toda quarta-feira à noite, a mesma ladainha.

Mala na sala. Roupas leves sempre! Não importa a estação do ano. A cidade é quente.

No quarto, gavetas e portas abertas, roupas lançadas sobre a cama. Esta sim, esta não. Sempre pega três vezes mais do que deve levar. As peças descartadas voltarão para o armário.

E os livros? Ai meu Deus! Será que esqueci algum? Comenta consigo mesma.

Agora leva tudo para a mala que já está na sala, depois é claro, de uma rápida passagem pelo sofá. Nova triagem. Pra que vou levar isso? E outras roupas retornarão para o quarto.

Próxima etapa, uma visita rápida pela cozinha. Vitaminas, alguma guloseima. O que temos mais aqui?

Agora ela entende melhor por que sempre arruma a mala na sala. Já sabe que seu quarto não é acolhedor para esse tipo de arrumação: muitos livros e o espaço é tão restrito, mas não tinha associado ainda que por ela fazer a mediação entre quarto e cozinha, e ter um grande sofá, a torna o espaço ideal para a organização das malas.

Ainda viajarei sem malas – pensa ela, enquanto olha a noite pela janela – e esta será a viagem inesquecível.

Por quê?

Já pensou, em viajar sem lenço e só com documentos?

Ilíada

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                                                                                                        Texto II Sem Título 

Era um dia ensolarado de verão. Saímos do carro e nos chocamos com o ar abafado e a paisagem brilhando ao sol. Subimos o morro reclamando, só um pouco, porque, apesar da ladeira, a trilha era sombreada por pela vegetação da área.

Ao chegar ao topo, encontramos o lugar procurado. Caminhamos até uma estreita cavidade e novo choque. Agora invertido, da intensa luminosidade à escuridão; do calor insano ao frescor; do burburinho dos pássaros ao silêncio interrompido pelo gotejar intermitente e da ladeira acima à escadaria abaixo.

Ao entrar pouco se vê, mas logo nossas retinas se acostumam com a precária iluminação. Não a fornecida pela natureza, que é zero, mas a projetada pela iluminação artificial, com tecnologia de baixo impacto ambiental. Conforme passamos, as luzes se ascendem e se apagam, automaticament,e auxiliando na redução das variações térmicas, conforme nos informa o guia.

Mas o que vemos?

Primeiramente, vemos uma passarela seguida por uma escadaria íngreme com corrimão. Passarelas e escadarias, sempre úmidas e escorregadias – o que nos salva é o corrimão – desenham o percurso em meandros que nos levam aos 220 metros visitáveis desta garganta de 998 metros de extensão. Ainda segundo o guia, teremos que descer 131 degraus para, depois, é claro, subi-los. Portanto, alerta, logo de início, para a dimensão da façanha que iremos realizar: percorrer um trajeto constituído por de 262 degraus, além de dezenas de passarelas.

Para além das informações técnicas e da exploração do local, no que se refere à segurança, ou seja, às nossas possibilidades de caminhada, vemos um espaço deslumbrante produzido pela ação da natureza. A persistente infiltração da água, no decorrer de milhões de anos, provocou e continua a provocar a formação de espécies de “esculturas” por todos os lados. Do teto, descem formas pontiagudas, denominadas pelos cientistas de formações de estalactites; do piso vemos as formações de estalagmites, com suas formas arredondadas, avançando para o alto, com variações de diâmetro e altura. Quando elas se encontram, aparecem as colunas, como as esbeltas “Colunas Gêmeas”, com cerca de 20 metros de altura e 30 centímetros de diâmetro, situadas no" Salão dos Desabados". É bom lembrar que este é um caso raríssimo.

Além das múltiplas formas, impressionam também as cores: formações de cristal, tons de bege, de lilás, de verde e de vermelho adornam as estalagmites em formato de sorvete, ovelha ou cenoura.

No entanto, o que mais nos impressionou foi constatar que se trata de uma gruta viva em contínua transformação pela ação da água. Pelo gotejar contínuo ocorrido nos últimos milhões de anos. E, mais uma vez, o guia nos informa: para se formar um centímetro aqui, precisamos que uma goteira perdure, em média, 30 anos. Deste modo, é possível ver a incrível ação transformadora da natureza num tempo de longa duração.

Ilíada

 

 Segunda versão de texto I e II

 

A agonia “do fazer” as malas

Nada ou quase nada lhe paralisa tanto como ter que arrumar as malas.

 

Ter que prever a temperatura. Calor ou frio? Chuva ou dias ensolarados? Quantos dias mesmo? Que cansaço!

Alguém pode retrucar: que drama! Já se pode ter acesso à previsão do tempo pela internet.

 

Toda quarta-feira à noite, a mesma ladainha.

 

Mala na sala. Roupas leves sempre! Não importa a estação do ano. A cidade é quente.

 

No quarto, gavetas e portas abertas, roupas lançadas sobre a cama. Esta sim, esta não. Sempre pega três vezes mais do que deve levar. As peças descartadas voltarão para o armário.

 

E os livros? Ai meu Deus! Será que esqueci algum? Comenta consigo mesma.

 

Agora leva tudo para a mala que já está na sala, depois é claro, de uma rápida passagem pelo sofá. Nova triagem. Pra que vou levar isso? E outras roupas retornarão para o quarto.

 

Próxima etapa, uma visita rápida pela cozinha. Vitaminas, alguma guloseima. O que temos mais aqui?

 

Agora ela entende melhor porque sempre arruma a mala na sala. Já sabe que seu quarto não é acolhedor para esse tipo de arrumação: muitos livros e o espaço é tão restrito, mas não tinha associado ainda que por ela fazer a mediação entre quarto e cozinha, e ter um grande sofá, a torna o espaço ideal para a organização das malas.

 

Ainda viajarei sem malas – pensa ela, enquanto olha a noite pela janela – e esta será a viagem inesquecível.

Por quê?

Já pensou, em viajar sem lenço e só com documentos?

Ilíada             

 

 

 

Texto II  Sem Título

Era um dia ensolarado de verão. Saímos do veículo e colidimos com o ar abafado e com a paisagem tremeluzindo ao sol. Subimos o morro reclamando, só um pouco, porque, apesar da ladeira, a trilha era sombreada pela vegetação da área.

Ao chegar ao topo encontramos o lugar procurado. Caminhamos até uma estreita cavidade e nova colisão. Agora invertida, da intensa luminosidade o olhar busca algum sinal de luz; do calor insano o corpo se delicia com o frescor do ambiente; do burburinho dos pássaros o ouvido se rende ao silêncio interrompido pelo gotejar intermitente e, da ladeira acima as pernas agradecem a escadaria abaixo. Cores, sons, odores, imagens, ritmos, paisagens tudo nos choca nesse instante de passagem.

Ao entrar pouco se vê, mas logo nossas retinas se acostumam com a precária iluminação. Não a fornecida pela natureza que é zero, mas a projetada pela iluminação artificial. Tecnologia de última geração, diz Mário, guia turístico local. Mas o que significa isso? Para nós, visitantes leigos, apenas a constatação de que conforme passamos as luzes se acendem e se apagam automaticamente. No entanto, o nosso condutor logo acrescenta que além da economia de energia, esse sistema auxilia na redução das variações térmicas provocando baixo impacto ambiental.

Mas afinal, o que vemos?

Primeiramente, uma passarela seguida por uma escadaria íngreme com corrimão. O que nos salva é o corrimão, pois as passarelas e a escadaria, em seu percurso sinuoso de 220 metros visitáveis, estão sempre úmidas e escorregadias. Para dar conta do trajeto desceremos 131 degraus e depois, é claro, subiremos os mesmos, informa Mário logo de início, com a intenção de testar o nosso ânimo. Afinal, percorrer um caminho constituído por de 262 degraus, além de dezenas de passarelas, não faz parte do nosso cotidiano.

Para além das informações técnicas e da exploração do local no que se refere à segurança, ou seja, às nossas possibilidades de dar conta da caminhada, vemos um espaço deslumbrante produzido pela ação da natureza. A persistente infiltração da água, no decorrer de milhões de anos, fez brotar, por todos os lados, esculturas naturais. Do teto, descem formas pontiagudas, denominadas pelos cientistas de formações de estalactites, diz o guia.

-- Como? Pergunta Carla.

-- Es ta lac ti tes, enfatiza Mário.

-- Meu Deus, que discurso de autoridade! Comenta Luiza enquanto nosso cicerone continua:

-- Do piso vemos as formações de estalagmites. Es ta lag mi tes, soletra ele, antes que alguém pergunte. As estalagmites com suas formas arredondadas avançam para o alto e apresentam variações de diâmetro e altura. Como vocês podem imaginar em algum momento elas irão se encontrar, mas essa junção é algo muito raro. Quando ocorre este feliz encontro aparecem colunas. Como essas esbeltas “Colunas Gêmeas” com, cerca de, 20 metros de altura e 30 centímetros de diâmetro. Caso raríssimo, por isso mesmo este salão recebeu o nome de Salão das Raridades.

Entre a visão do cientista e a percepção do artista nosso olhar oscila. Para além de estalactites, estalagmites, espeleotemas, o que nos impressiona é a beleza do lugar com suas múltiplas formas e exuberância de cores que remetem ao sonho. Como se a mão do artista tivesse esculpido aquelas peças em formato de sorvete, ovelha ou “cenourão”, entre outras, utilizando variações de tons de verde, de âmbar, de lilás, de vermelho, pontos de luzes cristalinos para torná-las mais belas.

Mais do que isso, em nosso delírio parece que vemos a arquitetura gótica subindo pelas paredes deste templo, cidades medievais refletidas em reduzidos lagos, lá embaixo e até algumas formas da Sagrada Família de Gaudi parecem surgir do nada. Que viagem esse deslocamento provocou em nossa profunda gruta mental!

No entanto, o que mais nos impressionou nesse outro lugar foi constatar que penetramos em uma gruta viva em contínua transformação pela ação da água. Pelo gotejar contínuo ocorrido nos últimos milhões de anos. Observar a incrível ação transformadora da natureza no tempo da longa duração. E mais uma vez ouvimos o guia nos informar:

-- Para se formar um centímetro aqui, é necessário que uma goteira perdure, em média, 30 anos e ...

Ilíada

 

Gruta Rei do Mato   -   Município de Sete Lagoas MG

 

 

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Tags: aventuras, escrevivendo, escrita, leitura, oficina, viagens

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Comentário de Samia Schiller em 25 fevereiro 2011 às 17:09

Achei muito original o primeiro texto. Enquanto todos falávamos de viagens, a Ilíada contou sobre o fazer as malas e de uma maneira tão próxima. Impossível não se identificar. O segundo foi sobre uma caverna e a descrição foi tão perfeita que se eu visse uma foto, talvez não notasse todos os detalhes.

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