“Eu vivi minha vida ou foi ela um sonho?”
Aqui na mata os verdes ainda brilham, filtrando a luz, e de todos os lados ecoam os cantos das aves sobre o manso rumor do mar. Tudo é cálido, agora que os sabiás revezam seus cantos. Aos poucos, a luz se esvai. Uma penumbra aveludada logo recobrirá as folhas. Já não me importa saber se morri ou se sonhei que morri antes de acordar num leito de hospital, faminta e louca para ver o mar, sentir seu cheiro e sua espuma fria me cobrindo os pés, me rodeando inteira, me tonteando. Sentada neste tronco e escutando o vaivém das ondas, sou o mesmo que um barco ao deus dará.
29/10/11
Concha C.
Sonho com parangolés
Sonhei com muita gente indo à praça vestindo parangolés. Agitavam as camadas de pano das túnicas como se fossem estandartes, numa enorme excitação de cores, risadas e música, batuque de atabaque e de pés. Um guarda-sol rodopiante virou flor, despetalou-se. Passou por mim um cor de fogo tremulando, do laranja ao rubro ao amarelo e outro negro e sinistro, com asas de morcego. Havia os de formato insólito, com abas nas pontas dos ombros. Quando esticavam os braços para rodar, as mangas eram asas coloridas. Vi uns de panos azuis, liláses e roxos, vi farrapos esvoaçantes e cortinas diáfanas flutuando ao vento.
Corri para o centro da folia, queria me vestir com capas de muitas voltas, vermelho-vibrantes, e fazer parte daquele carnaval, mas quando me aproximei as coisas esmaeceram e por mais que eu fixasse a vista, procurando as cores, elas fugiam, pálidas, iam afundando em silêncio e névoa.
Concha Celestino
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Tags: escita, escrevivendo, leitura, oficina, sonhos
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