Aventura “In Rio”
Esta viagem que eu vou relatar foi baseada numa realização de um sonho. Um sonho que durava nove anos. E este sonho, por sua vez, baseado numa frustração.
1992. Guns n´Roses no auge da fama. O líder da banda, o vocalista Axl Rose, no auge da sua beleza e energia. Fui conferir a apresentação mas meu MEIO METRO de altura não favoreceu muito a minha pessoa e para ser bem sincera, nem o telão eu conseguia enxergar.
O diálogo era mais ou menos assim:
- E aí Fabiana, tá curtindo o show??
- A-HÃ (lágrimas escorrem pela face esquerda)
Claro que eu não ia assumir que nem o telão eu estava vendo.
Fui para casa e a única lembrança que eu trazia comigo daquele show era a visão das costas das pessoas. Mas pior do que conviver com isso, era conviver com a mentira que eu tinha visto SIM, o Axl Rose de perto.
O tempo passou, a banda acabou e junto com ela, meu sonho de vê-los novamente no palco. Até que um belo dia, nove anos depois, estou no meu estágio, abro o jornal e TCHARÃÃÃÃ - GUNS N´ROSES CONFIRMADO PRO ROCK IN RIO III .
Axl Rose – sonho. Ver o Axl Rose – realizar sonho. Sonho, sonho, sonho...
Até que a realidade bateu na minha cara:
Eu era estagiária, estudante, sem verba alguma para financiar uma viagem para o Rio de Janeiro, ingresso pro show, estadia, alimentação, etc...
A realidade insistiu e bateu na minha cara pela segunda vez :vendo a programação, vi que o show seria no DOMINGO à noite, (lembrando, no Rio de Janeiro) e Segunda-feira, ás 8 horas da manhã eu teria de estar no meu estágio, (lembrando, em São Paulo) ou seja...
O diálogo oficial entre mim e meu chefe nesse dia:
- Chefe, essa sua camisa é muito linda!! Posso faltar na segunda-feira? É que eu vou no, no, no, no.... Eu vou ao médico!!!! (olhos arregalados denunciando a mentira)
- Médico né, sei... Consulta no Rio de Janeiro, é isso mesmo??
Passei os meses seguintes á pão e água para juntar a verba necessária, sendo escravizada no estágio para compensar a falta de um dia e sendo responsável pelo lava-passa-faxina de casa para tentar ser a boa filha.
Chegou o grande dia. Saí de casa ás 5 horas da manhã de um domingo, escondida, pé ante pé. Afinal de contas ir assistir um show de rock da entitulada “banda mais perigosa do planeta” no Rio de Janeiro, não é um dos programas que mais agradam aos pais, não é mesmo?
Cheguei ao Rio – sem nunca ter ido ao Rio. Aí caiu a ficha:
- E SE EU MORRER AQUI, GENTE???????
Fiquei com peso na consciência por não ter avisado meus pais (um medo, prá falar a verdade) e liguei:
- Oi mãe, tô no Rio, no Rock in Rio. Tchau.
O que ela ouviu depois disso foi só o “TU TU TU” da ligação sendo finalizada.
Sozinha, sem dinheiro, sem amigos, com fome, numa cidade violenta (Rio de Janeiro não é cidadezinha do interior de Minas Gerais não, gente), correndo o risco de ser despedida do estágio, longe de casa... Mas quando eu vi o Axl Rose aparecendo no palco, (dessa vez eu vi!) mesmo gordo, mesmo sem voz e mesmo sem a energia e a beleza de 1992, percebi que tudo tinha valido a pena.
Mesmo nas condições em que eu me encontrava (ditas anteriormente), consegui ter um “insight”: Realizar sonhos justificam nossas insanidades.
Dessa história toda, posso dizer que minha mãe aprendeu a lidar com a filha que tinha em casa. No dia do festival SWU, ligo prá ela e ouço a seguinte frase:
- Filha, pensei que você estava no SWU!!
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Na Paulista, a paulista:
Prédios tão altos que lambem o céu. Meninos lindos com seus ternos que ora são de verdade, ora são de brinquedo. E quando um deles me lança um olhar de soslaio, entonteço.
Ela é assim: plenitude, planitude. A reta sem fim, do começo ao seu fim. Me perco nas suas ruas que é uma só. Me largo, me deixo. E é ali que encontro o mundo inteiro. Cabe. De tudo um pouco, um pouco de tudo, muito de um pouco. Tudo isso ao mesmo tempo, o tempo todo. Todas as horas, minutos e segundos – luz e movimento.
Palco, Avenida, Via de mão dupla, local alto aonde só ali o céu sabe se abrir no infinito com todas as suas cores.
Mosaicos, colcha de retalhos, patchworks onde todos se deitam – é o segundo de contemplação. Sem culpa, com pressa.
O tempo que não para é o mesmo que ainda sabe ficar. Modernidade que suspira diante das poucas lembranças que ali insistem, continua sabendo impressionar e não se intimida. Contrasta essa doçura.
E como diz o poeta, - e nem sobre ela foi: “um museu de grandes novidades”
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